Contracapa do Caderno Regional (29/08/2012) |
Levar ensinamento sobre a saúde no trabalho de forma eficiente, lúdica e cômica. Esse é o perfil do fisioterapeuta Josivânio Silva de Souza, 27 anos, que há um ano vem desenvolvendo atividades de animação em empresas e indústrias, demonstrando como tornar a atividade laboral mais livre do stress e de outras enfermidades próprias de esforços repetidos ou sem muita motivação. Essas intervenções vêm ocorrendo em diversos Municípios do Estado e, especialmente, nos complexos industriais do Pecém, em São Gonçalo do Amarante, Horizonte e Pacajus.
A irreverência e o bom humor são uma marca das apresentações de Josivânio, o "Palhaço Cajuína", em demonstrações como trabalhar com saúde e ter uma melhor qualidade de vida. O público se diverte e aprende a prevenir doenças
A quebra da rigidez, do engessamento das relações entre companheiros ou com chefes tem um impacto considerável a partir da aparição de Josivânio, que se traveste do "Palhaço Cajuína" nos eventos que é convidado para informar sobre como prevenir acidentes de trabalho e tornar os ambientes mais seguros e agradáveis. Hoje, ele vem tendo uma agenda bastante concorrida tanto em indústrias nacionais quanto multinacionais, que passaram a compreender melhor a importância da ludoterapia na assimilação de conhecimentos e da liberação das tensões.
"A caracterização de palhaço já é uma forma de mostrar o valor da brincadeira, sem que se perca o foco", afirma o fisioterapeuta. Ele destaca que a iniciativa está de longe de se assemelhar a uma prática de infantilização, porque há a graciosidade da abordagem que acaba se tornando um meio de clarear as dúvidas, para que o errado seja trocado pelo certo, indo além das palavras.
Além da comicidade do "Palhaço Cajuína", que interage intensamente, são mostrados vídeos e exibidas teatralmente situações que podem ser reparadas positivamente.
O resultado é que há uma empatia imediata com o evento, a ponto de se repetir os convites e as intervenções nas políticas motivacionais. Os convites ocorrem, principalmente, durante as Semanas Internas de Prevenção de Acidentes (Simpats).
Vocação
Josivânio conta que o estilo de trabalho foi uma alternativa que encontrou para conciliar sua vocação para a arte circense e o interesse profissional pela fisioterapia. "Nunca pensei nessa profissão como status, mas como um mecanismo para prestar ajuda para um público muito necessitado, no caso os trabalhadores", afirma, reconhecendo que, ainda existem poucos profissionais voltados para a saúde do trabalho. O desempenho dessa iniciativa entusiasmou a assistente administrativa de uma grande empresa nacional instalada no complexo do Pecém, Daniele Costa.
Ela conta que, por atuar numa área fabril e relativamente distante da Capital, os funcionários tendem a desenvolver algumas tensões, e que foram discutidas durante a apresentação de Josivânio. Por meio do humor, explicou como se deveria evitar enfermidades por conta do esforço repetido e do stress.
Irreverência
Daniele diz que o interesse do público foi bastante positivo, que ficou atento às explicações, que eram repassadas de forma irreverente. "Entendo que o mérito maior é porque se faz uma atividade de forma diferente. Poderia apenas mostrar como se faz a ginástica laboral, mas não. Optou pelo humor e tornou-se bem atraente", afirma.
Aliás, Josivânio lembra que apesar da irreverência, todo cuidado é para evitar que se caia no humorismo vulgar e na perda do norte nas suas palestras. Ressalta que o interesse maior é que se aprenda a como lidar com situações que podem parecer complicadas, mas as soluções muitas vezes são bem simples. Antes de optar pela carreira de fisioterapeuta, Josivânio já participava de animações em aniversários infantis, onde surgiu a ideia de criar o "Palhaço Cajuína". Recorda que tinha como modelo de fazer graça o Tiririca e Tom Cavalcante, ambos humoristas do Ceará. A tendência do cearense para o humor, conforme ele, sai naturalmente, e acaba tendo uma aceitação porque se desmitifica a ideia de que é mais fácil fazer alguém chorar do que rir.
No caso de informar sobre como trabalhar melhor e sem riscos para a saúde, considera que encontrou a forma ideal. "As pessoas precisam quebrar o paradigma que devem viver para o trabalho. Na verdade, esse é uma consequência. Se não houver saúde, não tem como ingressar ou mesmo se manter no mercado de trabalho", enfatiza.
Invento favorece atitude sadia
"O maior erro que um homem pode cometer é sacrificar a saúde a qualquer vontade". Com essas palavras, Josivânio Silva de Souza costuma encerrar suas palestras sobre segurança do trabalho. No entanto, ele vai mais além das palavras. Uma das suas atitudes efetivas para evitar que a saúde do operário de uma unidade fabril seja prejudicada foi agir de forma prática e criar um mecanismo que evita as doenças ocasionadas pelo esforço repetido.
A máquina lixadeira criada por Josivânio, destinada a uma unidade fabril localizada na região metropolitana, propicia saúde do trabalhador, evitando doenças por esforço repetido, além de ter significado um aumento da produtividade
O invento é uma lixadeira de molde, que faz com que um funcionário continuamente faça a limpeza de um objeto, ao longo do dia com apenas duas variações e mãos. Além de evitar dores e até danos nas articulações ósseas, o equipamento também aumenta a produtividade. O que levava para lixar por até 40 minutos passou a ser feito em 12.
Conhecendo o sofrimento vivido por apenas um funcionário, ele se empenhou em criar um equipamento mais racional. Daí que buscou, num primeiro momento, algo que pudesse ser utilizado com um motor de uma furadeira normal.
Motor
Viu, então, que havia muita fragilidade, porque a primeira iniciativa logo não resistiu ao esforço requerido. No momento seguinte, experimentou um motor utilizado por carpinteiros, chamado de motor de currupio e, desse modo, correspondeu às expectativas e tentou tornar útil o produto da sua pesquisa, fazendo com que outras empresas também tivessem interesse.
No entanto, Josivânio esbarrou num entrave burocrático. No mercado, já havia uma máquina de lixamento de molde patenteada e é comercializada pelo preço de R$ 5 mil. Isso é suficiente para que as fábricas não façam esse investimento, alegando alto custo. Todo o esforço feito pelo fisioterapeuta que teve seu momento de inventor acabou valendo R$ 1 mil, pago pela unidade fabril que lhe inspirou a máquina lixadeira.
Não satisfeito com a recusa pela patente, Josivânio ainda tentou um registro por ideia melhorada, o que foi aceito. No entanto, precisava também desembolsar dinheiro para a burocracia e inviabilizou mais uma vez o projeto de uma criação cearense em prol do trabalhador. A máquina ainda é utilizada pela fábrica.
Energia
Para o fisioterapeuta, toda a energia gasta na invenção não foi em vão. Para ele, houve ganhos consideráveis pela empresa que fez a aquisição, e também estimulou para que continue pensando e repensando outras alternativas que possam representar na manutenção da saúde do trabalhador, em que situações que o esforço repetido é um instrumento perigoso.
Desse modo, insiste na convicção de que é um grande erro o sacrifício do trabalhador quando a saúde fica submetida à roda viva da sobrevivência, sem que haja uma pausa para se pensar como se poderia fazer mais, melhor e de forma mais sadia.
"Para mim, o mais importante é que a fisioterapia no trabalho tem seu reconhecimento merecido. Não quero apenas ser chamado de doutor e viver apenas de status. O que interessa é utilizar nossos conhecimentos para propiciar melhor qualidade de vida", destaca.
Mais informações:
Josivânio Silva de Souza
Animações e festas
Telefone: (85) 8741.0839 e 9637.0389
josivaniome@hotmail.com
MARCUS PEIXOTO
REPÓRTER
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