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sábado, 30 de julho de 2011

Com a ária Se Pieta, Sandrine Piau interpreta a Cleópatra em Júlio César, de Händel





Ópera em três atos, com libreto em italiano, tratando das implicações de Giulo Cesarie (Júlio César), após sua vitória sobre Pompeu em Fársalos, 48 a.C. Estreou em Londres, no Haymarket Theatre, no dia 20 de fevereiro de 1724. Trata-se da maior ópera de Händel e uma das maiores do repertório mundial, e tem como principal mérito a complexidade e o convencimento da expressão teatral.
Apesar do título é Cleópatra que brilha. Ela é a personagem principal. Usa as armas femininas para seduzir César e assim não perder seu palácio. Age com astúcia e, mais do que isso, com inteligência. Sabe que a melhor saída é a política. Na ária Si Pietá di me non senti, a música retrata sentimentos contraditórios da rainha, entre vingar seus inimigos e o medo de que seja abatido o homem cujo amor é o mais importante.

Os especialistas afirmam que poucas óperas forneceram tantos números isolados ao repertório de concertos, embora se reconheça que as árias de Händel surtem muito mais efeito no devido contexto dramático. Aqui, Se Pieta é interpretada pela soprano Sandrine Piau, 46 anos, especialista em obras barrocas, onde Händel é o grande mestre e a melhor referência do gênero.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Mostra de filmes e curso sobre Cinema de horror e Zé do Caixão



A Vila das Artes inaugura em agosto a mostra de filmes O Estranho Mundo de Zé do Caixão e o curso Cinema de horror mundial e o universo macabro de Zé do Caixão, que terá como orientador o jornalista e pesquisador de cinema de horror Carlos Primati.
O curso, que é gratuito, recebe inscrições até hoje, dia 29 de julho, e abordará, em nove módulos, a história do cinema de horror desde suas origens até a atualidade, incluindo o horror internacional, a história do cinema de horror brasileiro e o horror nos filmes de José Mojica Marins. Os interessados devem preencher uma ficha na secretaria da Vila das Artes (Rua 24 de Maio, 1221, Centro), das 8 às 20h. Serão ofertadas 40 vagas. A divulgação dos selecionados será feita por e-mail no dia 1º de agosto.
A mostra com os melhores filmes de José Mojica Marins, o Zé do Caixão, figura lendária do cinema nacional de horror, começa no dia 4, às 18h30, e acontecerá durante as quintas-feiras de agosto. A realização é do grupo de estudos 24 Quadros. E o curso, ofertado pela Vila das Artes, será durante as segundas, quartas e sextas do mês, também a partir do dia 4, sempre das 18h30 às 21h. A programação pode ser conferida no http://www.viladasartesfortaleza.blogspot.com/. Informações pelo telefone 85. 3252-1444.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Darcy Ribeiro diz que a educação medíocre foi um sucesso brasileiro

Darcy Ribeiro (1922-1977) foi antropólogo, especializado em etnias indígenas e uma voz culta do movimento de esquerda, quando a transição do regime militar para a democracia ainda se encontrava muito frágil. Por formar uma população xucra, ignorante, não há escolhas mais inteligentes para seus dirigentes. Essa era sua opinião. Tornou-se um dos responsáveis pela criação da Universidade de Brasília (UnB) e  criou, planejou e dirigiu a implantação dos Centros Integrados de Ensino Público (CIEP), um projeto pedagógico visionário e revolucionário no Brasil de assistência em tempo integral a crianças, incluindo atividades recreativas e culturais para além do ensino formal - dando concretude aos projetos idealizados décadas antes por Anísio Teixeira.  Dizia que Brizola tinha um "ideia fixa" pela educação e estava disposto a implantar um sistema de educação somente comparável ao high school, nos Estados Unidos, concebido por John Dewer. Eis um trecho de uma palestra na SPBC:

Sobre o Óbvio
(No livro "A paixão pela Razão - Descartes", Mário Sérgio Cortella,
Ed. FTD),


Recentemente descobrimos, outra vez assustado - desta vez, graças à perquirições de José Honório -, que o Brasil não é tão cordial como quereria o nosso querido Sérgio. Durante o período das revoltas  sociais anteriores e seguintes à Independência, morreram no Brasil mais de cinqüenta mil pessoas, inclusive uns sete padres enforcados. O certo é que nossos cinqüenta mil mortos são muito mais mortos do que todos que morreram nas lutas de independência da América Espanhola,tidas como das mais cruentas da história. Os nosso, porém, foram surrupiados da história oficial das lutas sociais por serem vítimas de meros motins, revoltas e levantes e, como tal, não erecem entrarna crônica historiográfica séria da sabedoria classista. (...)
A eficácia total, entretanto, eficácia diante da qual devemos nos declinar - aquela que é realmente o grande feito que nós, brasileiros, podemos ostentar diante do mundo como único - é a façanha educacional da nossa classe dominante. Esta é realmente extraordinária! E por isto é que eu não concordo com aqueles que, olhando a educação de outra perspectiva, falam de fracasso brasileiro no esforço por universalizar o ensino. Eu acho que não houve fracasso algum nesta matéria, mesmo porque o principal requisito de sobrevivência e de hegemonia da classe dominante que temos era precisamente manter o povo xucro. Um povo xucro, neste mundo que generaliza tonta e alegremente a educação, é, sem dúvida, fenomenal. Mantido ignorante, ele não estará capacitado a eleger seusdirigentes com riscos inadissíveis de populismo demagógico. Perpetua-se, em conseqüência, a sábia tutela que a elite educada, ilustrada, elegante, bonita, exerce paternalmente sobre as massas ignaras. Tutela cada vez mais necessária porque, com o progresso das comunicações, aumentam dia a dia os riscos de nosso povo ser ver atraído ao engodo comunista ou fascista, ou trabalhista, ou sindical, ou outro. Assim se vê o equívoco em que recai quem trata como fracasso do Brasil em educar seu povo o que de fato foi uma façanha.Pedro II, por exemplo, nosso preclaro imperador, nunca se equivocou a respeito. Nos dias em que a Argentina, o Chile e o Uruguai generalizavam a educação primária dentro do espírito de formarcidadãos para edificar a nação, naquelas eras, nosso sábio Pedro criava duas únicas instituições educacionais: o Instituo de Surdos e Mudos e o Instituto Imperial dos Cegos. (...)
(Trechos da palestra no Simpósio sobre Ensino Público, na 29º Reunião da SBPC, realizada em São Paulo, em julho de 1977)

terça-feira, 26 de julho de 2011

Desejo e horror na Vênus Adormecida de Paul Devaux

Paul Delvaux Venus Adormecida 1944
O trabalho do artista belga Paul Delvaux (1897-1994), combinando perfeição clássica com uma atmosfera erótica e preocupante, nos passa um sentimento de vertigem. Vênus encontra-se deitada, enquanto é vigiada por uma manequim, numa noite enluarada. A sensualidade de Vênus Adormecida está definida contra o seu cenário noturno opressivo, observou Martins Fontes. Delvaux explicou mais tarde que a tela foi pintada em Bruxelas, durante a ocupação alemã durante a guerra e, enquanto a cidade estava sendo bombardeada. "A psicologia daquele momento foi muito excepcional, cheia de drama e angústia", lembrou. "Eu queria expressar esta angústia na imagem, em contraste com a calma da Vênus '. 
Paul Delvaux em "Vênus Adormecida", nos mostra, em ambiente de classicismo grego, a primitividade da mulher que está nua, e o  cerimonioso, daquela  que aponta a caveira ao lado daquela. O significado analítico seria o de destacar como o prazer sexual deve estar ligado à morte. Eros e Thanatos são representados no confronto entre o instinto da vida e o instinto da destruição, que como lembrou Freud "nessa luta consiste essencialmente toda a vida e, portanto, a evolução da civilização pode ser simplesmente descrita como a luta da espécie humana pela vida". O sentimento perturbador do quadro parece residir na beleza da jovem e no horror que há no seu entorno. Devaux era conhecido no meio artístico ainda pelo primor de construções meticulosamente retratadas. Ganhou maior projeção após a segunda Guerra Mundial, por ocasião do apogeu do surrealismo. Um pintor tardiamente surrealista, depois de ter tentado o Impressionismo e o Expressionismo.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Francisco Petronio canta Cabelos cor de prata, letra de Rogaciano Leite



Rogaciano Leite (1920-1969) nascido em Pernambuco e morto de infarto no Rio de Janeiro, em 1º de julho,  teve atuação marcante no  Ceará, onde seus restos mortais estão sepultados no Cemitério São João Batista. Começou a carreira de poeta-violeiro aos 16 anos, morou na Paraíba, no Recife, Rio de Janeiro e São Paulo, além de ter morado na França e ter passado pela extinta União Soviética onde escreveu o poema osTrabalhadores.
Jornalistas da minha geração sabem que Rogaciano Leite não é apenas nome de avenida em Fortaleza, mas que deu relevante contribuição ao jornalismo cearense, atuando no Jornal O Povo. Segundo José Raimundo Costa, "boêmio, tirou pouco da vida, mas a viveu em toda a plenitude, com a liberdade que escolheu". Poeta brilhante e repentista, escreveu esses versos para uma música que ganharia fama na voz de Sílvio Caldas.


Cabelos cor de prata
(letra de Rogaciano Leite)
Meus cabelos cor de prata
são beijos de serenata
que a luz mandou pra mim.
Os meus cabelos grisalhos
são pingos brancos de orvalho
num tinteiro de nanquim.
Estes meus cabelos brancos,
que hoje estão da cor dos bancos
solitários de um jardim,
já sentiram muitos dedos
e ouviram muitos segredos
que elas contavam pra mim.
Se hoje, estão desbotados
é porque foram beijados
com muito amor e emoção
E os beijos foram tão puros
que os meus cabelos escuros
estão da cor do algodão.
Eu fiz tanta serenata
que a lua, desfeita em prata,
mandou mil beijos pra mim.
E os beijos foram tão puros
que os meus cabelos escuros
ficaram brancos... assim!

Schopenhauer defende que a vida é uma cadeia de desejos insatisfeitos

  

O mundo é apenas uma cadeia de desejos insatisfeitos. Afirmava Arthur Schopenhauer (1788-1860). Nascido em Danzig, Prússia, lecionou de 1820 a 1831, ano em que abandonou as salas de aula. Escreveu sua obra prima aos 30 anos, “O Mundo como Vontade e Representação”, mas não obteve sucesso na maior parte de sua vida. Mudou para Frankfurt, onde ficou até sua morte. Só obteve reconhecimento em seus últimos dias, o livro “Parerga e Paralipomena”, uma compilação de aforismos escritos de maneira cativante e popular, foi publicado.
De todos os seres, o homem é o mais necessitado: só tem vontades e desejos, um conjunto de centenas de necessidades.  Abandonando a si próprio, vive na terra sem segurança nenhuma a não ser sua miséria.  A luta pela vida, cada dia renovada, a necessidade que o constrange, e as imperiosas exigências materiais, preenchem a sua existência.
Ao mesmo tempo, outro instinto o atormenta; o de perpetuar a sua raça. Ameaçado por todos os lados pelos perigos que o rodeiam, usa de sua prudência sempre vigilante para poder escapar.  Com passo inquieto, lançando em volta olhares angustiosos, segue o seu caminho em luta constante com os casos e com seus inúmeros inimigos.  O homem não se sente seguro entre os da sua raça e nem nos mais longínquos desertos. 
 A necessidade imperiosa do homem é assegurar a existência, e feito isto, já sabe o que fazer.  Portanto, depois disso, o homem se esforça para aliviar o peso da vida, torná-la agradável e menos sensível: "matar o tempo", isto é, fugir ao aborrecimento.
Livres da preocupação de assegurar a existência, e livres seus ombros de todo fardo moral ou material, eles mesmos constituem sua própria carga, e sentem-se felizes porque viveram uma hora desapercebida, embora isto significa que sua vida a qual se esforçam com tanto zelo para prolongá-la, ficou encurtada pelo mesmo espaço de tempo.  O aborrecimento merece tê-lo em conta; ele se reflete na fisionomia.
O aborrecimento é a origem do instinto social, porque faz com que os homens, que pouco se amam, se procurem e se relacionem.  O Estado considerado como uma calamidade pública, e por prudência toma medidas para o combater.
O aborrecimento como o seu extremo oposto, a fome, pode impelir o homem aos maiores desvarios; o povo precisa panem et circenses.
A miséria é sofrimento pungente do povo; o desgosto é para os favorecidos.  Na vida civil, o domingo significa o tédio, e os seis dias, o desgosto. 

 

sábado, 23 de julho de 2011

Poesia delirante, antropofágica e escatológica de Mário Gomes

Não é raro ver o poeta Mário Gomes, 64 anos, perambulando pelas ruas do Centro ou mesmo sentado, falando sozinho, no banco instalado logo na entrada do Diário do Nordeste. Sempre vestindo um paletó e com camisas coloridas, que guarda pela marquises de prédios no entorno da Praça do Ferreira, ele me contou que seu trajar era "uma forma de tirar onda". Morador de rua, bêbado (disse que começou a beber ainda adolescente e não parou mais), foi internado no Hospital de Parangaba aos 20 anos, onde levou mais de uma dezena de choques elétricos, chega a aparecer que seu estado normal é a da percepção de uma epifania. Nos últimos tempos tenho visto muito irritado. Há alguns anos, contei que uma amiga nossa em comum informou que a mãe  dele tinha falecido. Dei meus pêsames. Era mentira. Ele reagiu com violência. "Minha mãe tem mais de 80 anos e mora no Mondumbi", disse. Depois, resignado, acrescentou: "Mulher rejeitada é assim mesmo". E me perguntou pelo poeta Antonio Raposo. Ia dizer que tinha morrido, mas me contive (nunca mais vi, respondi) porque mesmo tendo certeza poderia estar mexendo com outro tipo de sensibilidade. "Comi lagartas e defequei borboletas", afirmam alguns de seus versos da poesia escatológica e antropofágica. Aqui aparece (á esquerda) com o fotógrafo Antonio Duarte. Abaixo  uma de suas consagradas poesias.

AÇÃO GIGANTESCA
Beijei a boca da noite
E engoli milhões de estrelas.
Fiquei iluminado.
Bebi toda a água do oceano.
Devorei as florestas.
A Humanidade ajoelhou-se aos meus pés,
Pensando que era a hora do Juízo Final.
Apertei, com as mãos, a terra,
Derretendo-a.
As aves em sua totalidade,
Voaram para o Além.
Os animais caíram do abismo espacial.
Dei uma gargalhada cínica
E fui descansar na primeira nuvem
Que passava naquele dia
Em que o sol me olhava assustadoramente.
Fui dormir o sono da eternidade.
E me acordei mil anos depois,
Por detrás do Universo.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Resultado do II Edital de Ocupação da Galeria Antônio Bandeira

Galeria Antônio Bandeira by EspaçoCE de Arte e Cultura
Galeria Antônio Bandeira, a photo by EspaçoCE de Arte e Cultura on Flickr
A Prefeitura de Fortaleza, através da Secretaria de Cultura de Fortaleza (Secultfor), concluiu a seleção dos projetos que irão fazer parte do calendário de exposições da Galeria Antônio Bandeira no segundo semestre de 2011. 
Os projetos selecionados foram: 
1. Projeto "Na avenida" - Francisco Antônio Oliveira Gomes
2. Projeto " Painel da Fotografia Cearense Contemporânea" - Patrícia Raquel Machado Veloso
3. Projeto "Xilogravura de João Pedro do Juazeiro" - João Pedro de Carvalho Neto;
4. Projeto "Estação Rádio Arte" - Alexandre de Albuquerque Mourão.

Os projetos apresentados pelos candidatos inscritos no II Edital de Ocupação da Galeria Antônio Bandeira foram examinados e selecionados por uma Comissão de Seleção formada por três membros indicados pela Secultfor dentro do seu quadro de técnicos na área das Artes Visuais e áreas afins.

Os projetos não selecionados estarão à disposição dos artistas a partir de 21 de julho, na Secultfor (Rua Pereira Filgueiras, 4 – Centro), no Setor de Inscrições, e deverão ser retirados, impreterivelmente, até o dia 21 de agosto.

Os selecionados ganharão um prêmio no valor de R$ 1 mil (descontados os devidos impostos), coquetel de abertura, plotagem de um texto de curadoria e título do projeto no espaço expositivo.

O objetivo do II Edital de Ocupação da Galeria Antônio Bandeira é democratizar o acesso aos recursos e equipamentos públicos municipais, estimulando a produção artística na cidade. Parte da política da Prefeitura de Fortaleza para as artes visuais, a ação também cumpre o papel cultural de aproximar a arte da população, franqueando o acesso à produção artística e sugerindo um diálogo maior entre arte e público.

:: SERVIÇO

Secultfor: Rua Pereira Filgueiras, 4 – Centro.
Galeria Antônio Bandeira (Rua Conde D’eu, 560, Centro - Fortaleza-CE. CEP: 60.055.070).Informações: 3105.1403

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Cuca realiza concurso de vídeos sobre a prática BMX

Maestro Bmx



O Cuca Che Guevara promove o 1º Racha de vídeos de BMX, esporte radical praticado com bicicletas especiais. O Racha é uma competição de conteúdos em audiovisual direcionada a atletas e editores de vídeos que se interessam pela temática do BMX. A ideia do concurso é incentivar a participação de jovens interessados em discutir e ampliar os conhecimentos sobre a prática esportiva, além de debater as diversas formas de organização da juventude através do BMX. 

Podem participar jovens de 15 a 29 anos que pertencem ou não a grupos e coletivos e queiram produzir vídeos de até 2 minutos e 20 segundos sobre o esporte radical. Os equipamentos de filmagem podem ser câmeras semi-profissionais, celulares e máquinas fotográficas. Não serão aceitos materiais realizados por produtoras, com técnicos e equipamentos de audiovisual, e profissionais especializados na área de audiovisual. O concurso pretende promover a participação de jovens que estão iniciando as atividades nesta área ou não têm apoio financeiro para produzir independente.

Os vídeos devem ser enviados até hoje (22), como também a abertura e a Mostra dos vídeos acontecem na mesma data, às 15h, no Cineteatro do Cuca Che Guevara. A ação é uma realização do Núcleo de Protagonismo Juvenil do Cuca.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Quando a poesia, a filosofia, a pintura encontram corações e mentes estéreis



Life returns
BB, de 43 anos, matou um traficante de drogas em Canoa Quebrada. Passou pouco tempo preso, hoje está em liberdade. Assim como o filósofo francês Louis Althusser, que estrangulou sua mulher Hélène Rytman, sendo esse muito mais lembrado pelo surto psicótico do que pelo seu pensamento, BB é praticamente desconhecido "do grande público", pelos seus quadros, talhas e esculturas com o ferro. 
Caminhando pela Praça do BNB, ele me lembra que não fazia muito tempo que a segurança do Centro Cultural o expulsou do lobby. Não havia ressentimento. Mudando rapidamente de conversa, contou que se transformou "num cafetão de responsa", isso aos gritos e provocando risadas em mulheres que passavam pelo local. Estava empolgado e feliz com sua nova namorada, G, de 21 anos, prostituta.
- Ela chegou em casa com R$ 200. Disse que R$ 100 eram meus. Aí eu falei, gata, e o dinheiro que a gente ficou de juntar para o bar? Ela disse que estava pensando em guardar também uma grana para comprar sua casa.
Houve uma discussão.Não consigo imaginar quanta violência foi desprendida, e a moça saltou a janela do apartamento, que fica no terceiro andar. Quebrou o pé, e ele como para-médico autodidata, se deu ao trabalho de fazer o suporte de gesso. Ele me mostrou a fotografia da jovem feita pelo aparelho celular. Ela é  linda, filha de um paraguaio com uma sacoleira cearense. 
BB revê um padre andando pela praça, que o faz lembrar de uma briga, porque esse lhe negou um cigarro charm. Presume estar á caça de um michê. Depois conta que foi expulso de uma reunião de ex-alunos do Colégio Militar e aí parece ser interminável a lista de seus desafetos.
BB me fez lembrar hoje a dificuldade de entender a juventude  no começo do Século XX nos Estados Unidos.  "Jovens que nascem nessa terra dura e tornam-se tão duros quanto ela, insistindo com uma persistência implacável na área de jornalismo, na poesia, no teatro- no entanto, como que fadados à esterilidade para sempre". Assim descreve Edmond Wilson, ao falar do Oeste norte-americano em suas memórias dos Anos 20. Lembrei dessa passagem, porque ás vezes me entristece a palavra esterilidade, quando ela se relaciona à filosofia, à poesia, os bons modos e à gentileza.
Duramente, não há como fazer com que essas coisas do espírito consigam penetrar mentes e corações, assim como a chuva escorre pela pedra. Assim como os gritos de BB são audíveis apenas por alguns metros quadrados. Podemos até compreender o fato de que por ser uma terra de tão poucas oportunidades, temos que tomar atitudes mais pragmáticas, menos românticas e até mais severas, beirando uma violência que atinge o outro e a nós mesmo.
Será que a aridez de nossa região nos deixa ainda mais impermeáveis ao espírito? Vejo nossos pintores, escritores, meus colegas jornalistas, não é menos árdua a luta pela sobrevivência e a vontade de impor novos rumos intelectuais. Muitos sofrem. Outros desistem e alguns, como BB, gritam.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Arte pulsa visionária e veemente das mãos de Arthur Bispo do Rosário


O fotógrafo Antonio Duarte havia me advertido. Não é o tempo que destrói nossa memória. Essa se dissipa pelo excesso de informações. Com essa desculpa (esfarrapada?) não posso atribuir a autoria da frase de que há loucos geniais, mas seria louco acreditar que tudo um louco produz é genial. Van Gogh era um louco genial. Arthur Bispo do Rosário (1909-1989) também. Ele  viveu durante 50 anos no hospital psiquiátrico Colônia Juliano Moreira, no Rio de Janeiro. 
Entre 1939 e 1989, esteve internado com diagnóstico de esquizofrenia e paranoia. Começou a produzir durante os ateliês de arte destinados à terapia dos internos. Arthur Bispo não gostava de fazer as refeições junto com os outros pacientes e não ia ao refeitório. Pegava a bandeja, ou alguém a levava para ele, e ia para bem longe. 
Sempre ficava atento a colheres, utensílios perdidos por outros pacientes e daí surgiam de suas mãos obras que se aproximavam da pop art, que, a partir de 1959, ganhava força com o movimento contrário a arte não figurativa. Nos Estados Unidos, artistas surgiam com representações trazendo estrelas de cinema, garrafas de refrigerantes, dentre outros, numa forma em que dava a aparência de vulgarização do surrealismo. Arthur Bispo, com esculturas e instalações realizadas a partir de sucatas e lixo,  foi redescoberto pelo crítico Frederico Morais na década de 80, e, então, se passou a fazer comparações com os trabalhos do artista Marcel Duchamp  (Fonte, 1917).
Arthur Bispo viveu no contexto da tentativa de humanização dos hospícios. O aproveitamento da sublimação e das percepções desordenadas foram muito bem trabalhadas pela psicanalista jungiana Nise da Silveira, que tanto valorizou a arte como teve a sensibilidade de introduzir animais domésticos (cachorros e gatos) na convivência com os pacientes. Contemporânea das terapias do eletrochoque e da lobotomia, implantou nos manicômios formas de tratamento que não apenas ofereciam outro meios de ocupação para os doentes, como propiciavam a vasão de gênios, os quais iriam constituir o Museu do Inconsciente.



segunda-feira, 18 de julho de 2011

Edith Piaf empresta sua alma em Non...je ne regrette rien



Rien de rien (Je ne regrette rien)
Edith Piaf

Composição: Michel Vaucaire / Charles Dumont
Non... rien de rien...
Non... je ne regrette rien
Ni le bien qu'on ma fait,
Ni le mal - tout ça m'est bien égal!
Non... rien de rien...
Non... je ne regrette rien
C'est payé, balayé, oublié,
Je me fous du passé!
Avec mes souvenirs
J'ai allumé le feu,
Mes chagrins, mes plaisirs,
Je n'ai plus besoin d'eux!
Balayé les amours
Avec leurs trémolos
Balayés pour toujours
Je repars à zéro...
Non... rien de rien...
Non... je ne regrette rien
Ni le bien qu'on ma fait,
Ni le mal - tout ça m'est bien égal!
Non... rien de rien...
Non... je ne regrette rien
Car ma vie, car mes joies,
Aujourd'hui, ça commence avec toi!

sábado, 16 de julho de 2011

Diários de Evelyn Waugh são sua melhor obra




5 DE OUTUBRO
Do diário de Evelyn Waugh, em agosto de 1943: "Não quero influenciar opiniões ou acontecimentos, denunciar farsas e nem nada do tipo. Não quero ser útil a nada ou a ninguém. Quero apenas fazer o meu trabalho de artista". Colocando "escritor" no lugar de "artista", E. W. exprime os meus sentimentos com exatidão. Preciso expulsar do meu ombro o censor do que eu-devia-estar-dizendo e, em vez disso, prestar atenção ao que eu-sinto-de-verdade, por mais que isso possa prejudicar minha reputação. Minha persona e eu nunca combinamos totalmente. O resultado é que nos afastamos e perdi contato comigo mesmo, além da autoconfiança. (E. W. sempre teve o catolicismo como uma bússola interna, que respondia apenas a Deus. Eu precisei me nortear pelo socialismo, que, de maneira infeliz, mas inevitável, nos envolve numa abordagem menos pessoal e mais objetiva da literatura - e nos faz suspeitar de qualquer coisa idiossincrática demais. A frivolidade ocasional é permitida às pessoas religiosas, e nunca aos socialistas.)




(Trecho do Diário de Kennety Tynan, publicado na revista Piauí)

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Kennety Tynan, os últimos anos de um critico inglês


1979

NOVEMBRO

Flashback para os anos 60 - viagem a Roma a fim de entrevistar Richard Burton para a BBC TV. Enquanto filmávamos, ele tomou vinho o dia inteiro (umas cinco garrafas), e depois convidou a mim e ao produtor para jantar na imensa villa que ele e Elizabeth Taylor tinham alugado perto de Roma (ela estava filmando O Pecado de Todos Nós ). Isso ocorreu um dia depois que Brando lhes deu de presente dois cálices antigos de prata. O primeiro trazia gravado: "Richard: Meu Deus, mijei nas calças". E o segundo: "Elizabeth: Não é mijo, é porra".

Grande grupo de convidados no saguão de entrada da villa. Richard, o produtor e eu conversamos. De repente, Richard se vira para mim com o seu sorriso de lobo e diz: "Como você acha que Elizabeth está, Ken?" "Ótima", respondo, pensando em segredo: "Gorda". Pausa. Ainda me olhando fixo, ele pergunta: "Você gostaria de ir para a cama com ela?" Uma situação em que eu só podia perder, como dizem. Responder "muito" seria cobiçar a mulher do dono da casa. Responder "de maneira alguma" seria dizer que ela não é atraente. Eu me livro do impasse apelando para uma rastejante autodepreciação: "Para falar francamente, Richard, eu duvido de que fosse capaz de transar com Elizabeth". "Vai me dizer que iria brochar?" Continuo recusando a provocação. "Alguma coisa assim." "Elizabeth!", Richard a chama, aos berros, do outro lado do salão. Ela se afasta de um grupo reunido junto à lareira e, num passo balançado e um tanto hesitante, atravessa o salão até onde estamos. "Pois não, Richard?" "Sabe o que o nosso amigo Ken acaba de dizer sobre você?" "Não, querido." "Disse que acha que não conseguiria ficar de pau duro com você na cama." Elizabeth virou os olhos furiosos para mim. "Isso", disse ela em voz alta, "é a coisa mais ofensiva que já me disseram na vida. Fora da minha casa!"

E lá estava eu, sendo posto para fora de uma casa por me recusar a passar uma cantada na anfitriã. Retiro-me para evitar uma briga alcoólica em que copos podiam ser atirados. No dia seguinte, o telefone do meu quarto de hotel toca. É Elizabeth, a voz adoçada pelo arrependimento da ressaca: "Eu sinto muitíssimo. Não sei o que me fez agir assim" (uma caixa de vodca?). "Por favor, perdoe a nós dois." Flores são entregues no meu quarto. Mas a cena fica grudada na memória, e não inspira muito afeto.




Extraído da Revista Piauí

Um fim de semana de deixar água na boca em Cascavel


Foto: Divulgação

Fortaleza. Um fim de semana de deixar água na boca. É o que promete a Prefeitura de Cascavel, por meio da Secretaria de Turismo, ao promover, de hoje a domingo, o II Festival de Arraia. O evento acontecerá na praça central de Barra Nova, a dois quilômetros da sede, localizada na Região Metropolitana de Fortaleza.

A exemplo do ano passado, quando a primeira edição também aconteceu no mês de julho, a expectativa dos organizadores é de que a iniciativa seja um marco turístico para o Município e, sobretudo, uma referência no roteiro gastronômico do Estado cearense.

O coordenador do Núcleo de Eventos da Secretaria de Turismo, Edvar Soares, disse que foi exatamente o sucesso da experiência ocorrida em 2010 que motivou a administração municipal promover a segunda edição, em noites bem mais animadas, começando por volta das 19 horas e se encerrando às 4 horas do dia seguinte. "Se no ano passado houve grande engajamento da comunidade de Barra Nova, o mesmo é esperado este ano", afirmou Edvar. Ao todo, 60 pessoas estão envolvidas com a preparação de pratos, que farão variações com a arraia, um peixe em abundância naquele trecho do Litoral Leste.
"Nossa expectativa é que o Festival não somente repita o sucesso de público e participação do ano passado, como se projete para ser referência no calendário turístico do Estado", disse Soares. Para tanto, ele acrescentou que não foram poupados esforços para dotar toda a cidade litorânea de uma infraestrutura compatível para atender uma demanda considerável de visitantes. Pousadas, hotéis e casas de veraneios (que costumam ser alugadas neste período) foram preparadas para melhor qualificar a hospitalidade. O concurso gastronômico será julgado por chefs e especialistas em culinária. Os vencedores receberão prêmios e troféus. "Para nós, é de grande importância revelar a criatividade da nossa cozinha, aproveitando um produto farto e que é, atualmente, o principal item de exportação para outros Estados".Culinária60 Pessoas, ao todo, estão envolvidas com a preparação de pratos, que farão variações com a arraia. O festival acontece a partir de hoje e prossegue até domingo, dia 17MAIS INFORMAÇÕES
Prefeitura de Cascavel
Secretaria de Turismo
Telefone: (85) 3334.2840
www.cascavel.ce.gov.br

Marcus PeixotoRepórter



Fonte: Diário do Nordeste

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Antonio Canales interpreta Granada de Isaac Albeniz


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Granada, com o dançarino Antonio Canales, música Isaac Albeniz. Techo do filme Iberia, de Carlos Saura. Canales, espanhol, é um apaixonado pela dança flamenca.
Albeniz , como uma criança que era excepcionalmente talentosa no piano, apresentou-se pela primeira vez públicamente em Barcelona, com quatro anos. Dois anos depois sua mãe o levou para Paris, onde, durante nove meses, ele estudou com Antoine François Marmontel, um renomado professor de piano no Conservatório de Paris. Tentou inscrever-se no Conservatório de Albéniz, mas foi negado a admissão, porque era muito jovem. Ao retornar à Espanha, deu vários concertos e publicou a sua primeira composição, Marcha Militar. Foi uma das figuras mais importantes da história musical da Espanha, além de ter contribuído para criar um idioma nacional e uma escola nativa de música para piano

terça-feira, 12 de julho de 2011

Revelando os Brasis acontece em Quixeré, Guaramiranga e Fortaleza


Quixeré e Guaramiranga são as cidades do estado do Ceará que terão a oportunidade de conhecer parte do resultado do projeto “Revelando os Brasis”, uma iniciativa do Ministério da Cultura e do Instituto Marlin Azul para democratizar o acesso ao mundo audiovisual em cidades brasileiras com até 20 mil habitantes.
A primeira parada no Estado cearense é em Quixeré, no dia 15 de julho, graças à iniciativa do morador e estudante Arthur Leite que inscreveu sua história no projeto e foi um dos 40 selecionados de todo o Brasil. Ele, que tem apenas 19 anos, é o autor do documentário “Mato Alto – Pedra Por Pedra”, que se passa em Saboeiro, narrando o sonho da vida de um homem erguido, pedra por pedra, no sertão alto do Ceará.
O vídeo de Arthur está fazendo sucesso e já conquistou dois prêmios: no Festival de Jericoacoara – Cinema Digital, onde ganhou os prêmios de Melhor Documentário e Melhor Direção e também no Festival Art Déco de Cinema, em São Paulo.
No dia 18 de julho, o município de Guaramiranga recebe a caravana do projeto e Carmem Silvia Ferreira, artesã, arte-educadora e moradora do local, vai apresentar aos conterrâneos o documentário “O Porquê das Coisas”, que conta a história de Antonio Martins, que se dedica à criação de abelhas e ao cultivo do roçado e sempre encontra soluções simples e criativas para os desafios de seu cotidiano.
O projeto também vai passar pela capital, Fortaleza, no dia 17 de julho. A iniciativa é uma realização do Instituto Marlin Azul, com patrocínio da Petrobras e parceria estratégica da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura.  Um caminhão do projeto levará para os municípios e para a capital toda a estrutura necessária para montar um cinema ao ar livre e exibir as produções cearenses.
 Criado em 2004, o Revelando os Brasis tem por objetivo geral promover a inclusão e formação audiovisual através do estímulo à produção de vídeos digitais. A iniciativa, dentre outros objetivos específicos, possibilita o acesso dos moradores às novas tecnologias para que possam contar suas histórias, valorizar a identidade local, preservar as manifestações regionais e possibilitar o contato dos brasileiros com um rico acervo histórico, geográfico e cultural do país.
 O Revelando os Brasis é desenvolvido em etapas. Na primeira é realizado o Concurso Nacional de Histórias voltado aos moradores de cidades com até 20 mil habitantes. Os 40 autores das histórias selecionadas, na segunda fase, participam de uma oficina audiovisual, no Rio de Janeiro, onde aprendem, com a orientação de profissionais renomados do cinema, todas as etapas de realização de um vídeo, incluindo noções sobre roteiro, produção, direção, som, fotografia, direção de arte, edição, comunicação e mobilização. Na terceira etapa, os autores retornam às cidades para a realização do vídeo com recursos e o acompanhamento técnico do projeto. Num processo de mobilização popular, familiares, vizinhos, amigos e artistas locais são estimulados a integrar as equipes, desempenhando funções artísticas, técnicas e de apoio.
 A quarta etapa é marcada pelo Circuito Nacional de Exibição. As obras são apresentadas em sessões abertas e gratuitas nas 40 cidades selecionadas e nas capitais dos estados envolvidos. Para completar o processo de democratização audiovisual, as 40 obras reunidas em um box de DVDs, contendo as histórias e making ofs da produção e do circuito de exibição, são distribuídas para bibliotecas, escolas públicas, pontos de culturas, cineclubes e órgãos públicos ligados à educação e à cultura. Os vídeos são ainda exibidos em mostras e festivais nacionais e internacionais. Desde a criação do projeto, há sete anos, foram realizadas 160 obras audiovisuais feitas por moradores de pequenas cidades.

Mais informações:

segunda-feira, 11 de julho de 2011

O Último Apito trata do desmonte do sistema ferroviário

Rusty train 2



O Último Apito é um  filme-documentário produzido pelo cineasta  Aderbal Nogueira. Nas palavras do secretário de Cultura de Aurora, José Cícero, trata-se de uma produção "simples, mas não um filme simplesmente... Aqui reproduzo boa parte do artigo,  que faz uma referência nostálgica aos bons tempos dos trens cortando as ferrovias do Estado e, particularmente, o Município de seu coração: Aurora. O que deixou de ser uma mera lembrança de um passado feliz é também uma denúncia sobre o descaso com a ferrovia, em que o descaso  fez mergulhar esse sistema de transporte no sucateamento e, por fim, no total desmonte.
Aqui reproduzo trechos da crítica apaixonada do intelectual e pesquisador do cangaço:

Um grito a romper o silêncio cômodo de uma história que ainda não terminou. Um contributo à preservação da memória história de toda uma geração de ex-ferroviários – bravos guerreiros, assim como de todos aqueles que de algum modo superlativo tiveram uma parte significativa das suas vivências ligada ao antigo cotidiano das estradas de ferro. Uma saga do povo cearense...
Um filme que nos comove e convida a pensar diferente, ao passo que também  instiga a nos indignar diante das circunstâncias até hoje mentirosas que supostamente levaram a interrupção do transporte ferroviário do nosso estado. Um retrato fiel da realidade de abandono em que está relegado todo o patrimônio ferroviário (material e imaterial), algo  que nos dói no fundo da alma. Um filme que desnuda por si mesmo uma verdade ainda hoje uma tanto quanto inconveniente e há muito escondida. ‘O último Apito’ é, em suma, um grande presente e uma homenagem que se faz à memória histórica e afetiva do povo cearense em geral e os ferroviários em particular.
Com um título dos mais sugestivos, daqueles, cujos vocábulos já dizem muito. Um tanto além da mera expressão lídima do termo - “O último Apito”: não é somente um filme simplesmente. Mas, diria que quase uma ferroada de maribondo-de-chapéu na ânsia(quem sabe) de acordar a todos do sono letárgico que em estivemos submetido por anos a fio. Diante deste verdadeiro esbulho que foi a destruição do nosso rico patrimônio ferroviário.
Um documento em movimento que aborda de modo realista e sentimental um pouco da história da estrada de ferro e das antigas estações ferroviárias do Ceará, agora relegadas ao mais completo estado de abandono (quando ainda não foram demolidas). Uma cocha de retalhos memorialistas, composta de relatos fidedignos e comoventes de ex-ferroviários e de outros pesquisadores convidados. Um filme com a cara da nossa história que tem a capacidade de mexer profundamente com nossos sentimentos mais recônditos. Insisto: Não apenas um filme simplesmente... Mas um libelo de um crime de lesa-pátria e de lesa-história.
Inteligentemente o nobre diretor Aderbal Nogueira, cujo avô foi ferroviário e morara inclusive, na década de 20 em Aurora, coloca além da temática central, algumas capilaridades, tais como a história do célebre coronel Izaías Arruda e o seu notório assassinato na estação do trem de Aurora. A ele agradeço pelo convite de também ter tido a honra de participar deste filme como  um dos pesquisadores entrevistados.
Devo confessar que ao assistir os depoimentos e o choro de alguns dos personagens reais do documentário eu também me emocionei desmedidamente. Posto que também nasci e adolesci praticamente correndo, brincando e jogando bola à margem da linha férrea na minha antiga Missão Velha. De tal sorte que posso afirmar que quase tudo no meu tempo de menino estava de certo modo ligado as idas e vindas do velho trem. Minha casa, minha escola, meu campinha da várzea, as brincadeiras de esconde-esconde tinham como cenário maior a estação e os comboios ferroviários. O gesso, o açúcar, o combustível que nós aparávamos para depois pôr nos candeeiros, os grandes pregos dos dormentes, os bigus nos troles, a verdadeira feira-livre de bebidas, de comidas e guloseimas que todos os dias se formavam na “pedra” da estação. As águas das quartinhas e a famosa macaxeira a que todos diziam ser do cemitério. Uma verdadeira festa. Um acontecimento social de fato inesquecível. Um encontro dos mais democráticos. Uma saudade que ‘O último Apito’ agora nos traz de volta na mais absoluta das realidades.
O trem passava literalmente duas ou três vezes por dia pelo meu quintal. De modo que esta história faz parte da minha memória afetiva. Quem viveu aquele tempo e não é de ferro, não tem como agüentar impassível as imagens e as narrativas trazidas pelo “o último Apito”. Por tudo isso, presumo ser impossível não sermos tocados por essas lembranças  após assistirmos um filme deste naipe, tão realista, audaz e tocante.
‘O último apito’ é um espinho de mandacaru tocando fundo o nosso passado e as nossas recordações mais sentidas de um tempo bom e romântico que não volta mais... Por fim, um filme que, forçosamente teremos que assistir por mais de uma vez. Um passado que não passa...

domingo, 10 de julho de 2011

I Seminário Dança Teatro Educação prorroga inscrições


Foram prorrogadas, até 15 de julho, as inscrições para o I Seminário Dança Teatro Educação, que acontecerá em Fortaleza, entre 24 e 26 de agosto. O seminário traz como tema “A docência-artista do artista-docente” e terá como convidados os professores Márcia Strazzacappa (Unicamp) e José Sávio (UFRN). A promoção é dos cursos de licenciatura em Teatro e em Dança do Instituto de Cultura e Arte (ICA) da Universidade Federal do Ceará. 

O evento discutirá o impacto dos dois novos cursos na cidade de Fortaleza e a importância de se formarem, nos próximos três anos, pessoas especializadas nessas duas áreas para atuar nas escolas públicas. O curso de graduação em Dança da UFC (licenciatura e bacharelado) teve início no primeiro semestre de 2011 e o de Teatro (licenciatura), no início de 2010. Ambos têm duração de quatro anos. Todas as propostas devem ser enviadas até o dia 15 de julho para o endereço eletrônico seminariodte@ufc.br, conforme a convocatória disponível no sitewww.seminariodte.ufc.br

Fonte: Profª Rosa Primo, Coordenadora do Curso de Dança da UFC - (fone: 85 3252 2041)

sábado, 9 de julho de 2011

West Point e o Exército norte americano se tornaram independentes do Brasil

Capela West Point Academia Militar Cadet de
Capela de West Point

A Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), no Rio de Janeiro, informa sobre a administração de aulas de Geografia do Brasil para os cadetes da Academia Militar do Exército dos Estados Unidos da América (West Point), localizada em Nova York. A ligação entre ambas instituições é antiga. Pelo menos dois generais que atuaram durante o regime militar instituído a partir de 1964 foram professores de Português na escola norte americana: o general-de-Exército Heitor Furtado Anizaut de Mattos, e o general-de-brigada Oacyr Pizzotti Minervino. O general Floriano Peixoto, não o ex-presidente do Brasil,  de 1996 a 1998, exerceu a função de Oficial de Ligação do Exército Brasileiro.
Berço dos grandes oficiais, influentes políticos e mentores da indústria de armas, West Point tem como seus maiores críticos, pela liberdade de expressão e o exercício da auto-crítica, os próprios norte americanos.  Para explicar porque os Estados Unidos são há décadas, um estado militarizado, que gosta de participar de alguma guerrinha em algum lugar do mundo, o general Van Fleet (de West Point, 1915), afirmou: A Coréia foi uma bênção. É preciso que haja  Coréias aqui ou em qualquer lugar do mundo". Já o ex-senador radical republicano B.F Wade, de Ohio, declarou: "Não acredito que se possa encontrar, em toda a face da Terra...outra instituição que tenha produzido tantos homens falsos e ingratos quanto os que emanaram dessa instituição".
Do escritor norte-americano Gore Vidal, há a lembrança do fundador da Academia (em 1817) Sylvanus Thayer, um admirador apaixonado de Napoleão Bonaparte, que afirma que o próprio "se empenhou em criar um inferno de quatro anos para os rapazes mandados para ele, vindo do país inteiro. Eram mantidos permanentemente ocupados, recebiam tratamento de robôs, e eram enquadrados num código de honra que, em poucas palavras, transformava cada um deles em espião dos outros'.
Ainda segundo Gore Vidal, não é de espantar que o pessoal de West Point tenha mais sucesso quando se dedica a criar West Points em miniaturas,especialmente na América Latina. Claro que ainda há o desejo de jovens cadetes brasileiros de cursarem nos Estados Unidos, para isso existem o intercâmbio e é incentivado por todos os Ministérios da Defesa. Mas se no passado havia avidez e um sentimento de orgulho para o currículo cursar o Fort Benning (Geórgia), como o general de Exército Rubens Bayma Denys; o Fort Bevoir (Virgínia), o general de Exército, Samuel Augusto Alves Correa; o Fort Leavenwort,  o general-de-Exército Luiz Gonzaga Schoeder Lessa, dentre outros, todos na ativa durante o movimento de militar de 1964, hoje existe uma inversão de valores. Já não há mais a reverência aos norte-americanos, não "porque cometeram muitas maldades aqui e acolá", mas porque esses se tornaram independentes do Brasil. Em todo o caso, prevalece a mentalidade de que "quando não se tiver nada para fazer, policie a área".

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Florbela transforma sofrimento e solidão em poesia

fumar nu


Fumo


Longe de ti são ermos os caminhos,
Longe de ti não há luar nem rosas,
Longe de ti há noites silenciosas,

Há dias sem calor, beirais sem ninhos!
Meus olhos são dois velhos pobrezinhos
Perdidos pelas noites invernosas…
Abertos, sonham mãos cariciosas,
Tuas mãos doces, plenas de carinhos!
Os dias são Outonos: choram… choram…
Há crisântemos roxos que descoram…
Há murmúrios dolentes de segredos…
Invoco o nosso sonho! Estendo os braços!
E ele é, ó meu Amor, pelos espaços,
Fumo leve que foge entre os meus dedos!…
Florbela Espanca