Hoje, o local, onde as mulheres ainda resistem no trabalho artesanal e nas vendas, tem uma aparência triste, como um acampamento de sem-tetos. Os boxes de alvenaria cederam lugar a uma rústica estrutura de madeira, coberta por lonas.
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A rendeira Maria Pereira, 66 anos, diz que amarga muito mais o descaso do poder público, do que o esvaziamento da clientela. "Nos foi prometido um Centro de primeiro abandono. Hoje, trabalhos na areia", conta. Com isso, o local chega até ser evitado pelos turistas e há anos deixou de fazer parte dos passeios dos receptivos.
Para a rendeira Maria de Lurdes de Souza, de 66 anos, o fim da prática da pesca artesanal agora se torna extensiva às rendeiras, que não possuem um lugar, conforme observa, digno para trabalhar e vender seus tradicionais produtos.
"Hoje não vemos mais nenhum jovem que queira ser pescador ou rendeira. Ao contrário, assistimos uma juventude cada vez mais envolvida com a prostituição e as drogas", afirma.
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"Acho que não há só um culpado pela desmonte do Centro das Rendeiras. Vejo como um conjunto de ações que levaram nossa atividade a uma situação bastante precária", destaca. Um dos poucos compartimentos que auxiliam as artesãs são um depósito para guardar seus produtos (o que não acontece pelo temor de roubos), banheiros e mais uma cozinha, onde se preparam os alimentos para aquelas que ficam manhã e a tarde no trabalha da renda.
Sob as lonas, as mulheres confeccionam nas almofadas os contornos para caminhos de mesa, camisolas e roupas femininas. Outras ainda complementam os acabamentos com bordados.
Culpados
O secretário de Turismo de Aquiraz, Eric Vasconcelos, diz que a culpa pela não construção de um novo centro é das próprias mulheres rendeiras.
Eric conta que os recursos se encontram na Caixa Econômica, mas não podem ser liberados, enquanto não houver uma medição e esta somente poderá ocorrer, quando as artesã deixarem o local. "O que aconteceu é que oferecemos um espaço alternativo para funcionar provisoriamente enquanto são realizadas as obras. Daí que algumas estão no local destinado e outras ainda permanecem no antigo lugar", disse.
Para o jornalista e pesquisador da cultura popular no Ceará, Gilmar de Carvalho, o quadro é de tristeza pelo que chama "abandono do gestor".
"Associo tanto a Prainha com a renda de bilros, que fica difícil imaginar que o Centro tenha sido desativado. Custa tão pouco manter um espaço para trabalho e comercialização de artesanato. Talvez por isso mesmo, seja visto pelo gestor como algo anacrônico", afirma.
Segundo Gilmar, o que aconteceu naquele trecho do litoral cearense foi algo muito grave. "Vejo como um crime a desativação do Centro das Rendeiras. Devia haver um ´tribunal do patrimônio´ para julgar gestores equivocados". (MP)
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