É do mundo exterior que o conhecimento precisa vir a nós, pela leitura, audição e contemplação. Wendy Beckett
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domingo, 8 de julho de 2012
Sentimento, intuição e paixão na poesia de Almada Negreiros
A Sombra sou eu
(Almada Negreiros)
A minha sombra sou eu,
ela não me segue,
eu estou na minha sombra
e não vou em mim.
Sombra de mim que recebo luz,
sombra atrelada ao que eu nasci,
distância imutável de minha sombra a mim,
toco-me e não me atinjo,
só sei dó que seria
se de minha sombra chegasse a mim.
Passa-se tudo em seguir-me
e finjo que sou eu que sigo,
finjo que sou eu que vou
e que não me persigo.
Faço por confundir a minha sombra comigo:
estou sempre às portas da vida,
sempre lá, sempre às portas de mim!
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quarta-feira, 28 de março de 2012
Poesia é como um punhal que fere o seio e o colo de graça fatal
Inês ou a solidão
Maria José Batista
Na tempestade de um tempo maldito
Extingue-se o sol, o calor, o coração aflito
Ouve-se o uivo do chacal, o uivo da fera
No vazio idêntico da solidão que se apodera
Do espírito e da alma como um punhal
Fere o seio, o peito, o colo de graça fatal
Silencia na cova comida até ao pó
Até à inerte substância de criatura só
O choro e o riso do poder grandioso
Do despudor de um amor poderoso
A sete palmos da terra… é rainha sim!
Dos imensos invernos, da imensa miséria
De estrelas, de sóis, de luas de quem sorria
Pelo crime de tanto…tanto amar assim…
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segunda-feira, 5 de março de 2012
Poetisa clama pelas chamas de mel e os beijos em poemas
Súplica
Maria José Batista
Traz-me palavras chuva miudinha,
nas noites húmidas e quentes,
traz-me a voz do amor, somente,
alma gémea, alma minha.
Traz-me um espelho que adivinhe
a nudez da onda na luz selvagem
que suspensa num sopro de aragem
suavemente no meu seio se aninhe.
Traz-me os astros em alvoroço,
sem rota, as estrelas e as galáxias,
de Nino os concertos e as sinfonias
qualquer coisa, que eu ouço!
Traz-me poesia e música
em suaves acordes de melodia,
a claridade de um novo dia
em fados de aventura. Uma súplica:
Por favor… traz-me o mar e as
ondas verdes, uma nova carícia,
chamas de mel e sal, a delícia
do paraíso e os beijos em poemas,
ou então a ternura…
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quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012
Fernando Pessoa sente e se revela através de enigmas e mistérios
Teus olhos entristecem
Teus olhos entristecem.
Nem ouves o que digo.
Dormem, sonham esquecem...
Não me ouves, e prossigo.
Digo o que já, de triste,
Te disse tanta vez...
Creio que nunca o ouviste
De tão tua que és.
Olhas-me de repente
De um distante impreciso
Com um olhar ausente.
Começas um sorriso.
Continuo a falar.
Continuas ouvindo
O que estás a pensar,
Já quase não sorrindo.
Até que neste ocioso
Sumir da tarde fútil,
Se esfolha silencioso
O teu sorriso inútil.
Fernando Pessoa
(1888-1935)
domingo, 27 de novembro de 2011
Camões canta de amor tão docemente
Sonetos
Eu cantarei de amor tão docemente,
Por uns termos em si tão concertados,
Que dous mil acidentes namorados
Faça sentir ao peito que não sente.
Farei que o Amor a todos avivente,
Pintando mil segredos delicados,
Brandas iras, suspiros magoados,
Temerosa ousadia e pena ausente.
Também, Senhora, do desprezo honesto
De vossa vista branda e rigorosa,
Contentar-me-ei dizendo a menor parte.
Porém, para cantar de vosso gesto
A composição alta e milagrosa,
Aqui falta saber, engenho e arte.
Luís de Camões
Eu cantarei de amor tão docemente,
Por uns termos em si tão concertados,
Que dous mil acidentes namorados
Faça sentir ao peito que não sente.
Farei que o Amor a todos avivente,
Pintando mil segredos delicados,
Brandas iras, suspiros magoados,
Temerosa ousadia e pena ausente.
Também, Senhora, do desprezo honesto
De vossa vista branda e rigorosa,
Contentar-me-ei dizendo a menor parte.
Porém, para cantar de vosso gesto
A composição alta e milagrosa,
Aqui falta saber, engenho e arte.
Luís de Camões
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quinta-feira, 13 de outubro de 2011
Amor e beijo delirantes de Florbela Espanca
Realidade
(Florbela Espanca)
Em ti o meu olhar fez-se alvorada
E a minha voz fez-se gorgeio de ninho...
E a minha rubra boca apaixonada
Teve a frescura pálida do linho...
Embriagou-me o teu beijo como um vinho
Fulvo de Espanha, em taça cinzelada...
E a minha cabeleireira desatada
Pôs a teus pés a sombra dum caminho...
Minhas pálpebras são cor de verbena,
Eu tenho os olhos garços, sou morena,
E para te encontrar foi que eu nasci...
Tens sido vida fora o meu desejo
E agora, que te falo, que te vejo,
Não sei se te encontrei... se te perdi...
sexta-feira, 8 de julho de 2011
Florbela transforma sofrimento e solidão em poesia
Fumo
Longe de ti são ermos os caminhos,
Longe de ti não há luar nem rosas,
Longe de ti há noites silenciosas,
Há dias sem calor, beirais sem ninhos!
Meus olhos são dois velhos pobrezinhos
Perdidos pelas noites invernosas…
Abertos, sonham mãos cariciosas,
Tuas mãos doces, plenas de carinhos!
Perdidos pelas noites invernosas…
Abertos, sonham mãos cariciosas,
Tuas mãos doces, plenas de carinhos!
Os dias são Outonos: choram… choram…
Há crisântemos roxos que descoram…
Há murmúrios dolentes de segredos…
Há crisântemos roxos que descoram…
Há murmúrios dolentes de segredos…
Invoco o nosso sonho! Estendo os braços!
E ele é, ó meu Amor, pelos espaços,
Fumo leve que foge entre os meus dedos!…
E ele é, ó meu Amor, pelos espaços,
Fumo leve que foge entre os meus dedos!…
Florbela Espanca
quarta-feira, 6 de abril de 2011
Fernando Pessoa compara viajar a ser outro constantemente
Viajar
Viajar! Perder países!
Ser outro constantemente,
Por a alma não ter raízes
De viver de ver somente!
Não pertencer nem a mim!
Ir em frente, ir a seguir
A ausência de ter um fim,
E a ânsia de o conseguir!
Viajar assim é viagem.
Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho da passagem.
O resto é só terra e céu.
Fernando Pessoa, 20-9-1933
Viajar! Perder países!
Ser outro constantemente,
Por a alma não ter raízes
De viver de ver somente!
Não pertencer nem a mim!
Ir em frente, ir a seguir
A ausência de ter um fim,
E a ânsia de o conseguir!
Viajar assim é viagem.
Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho da passagem.
O resto é só terra e céu.
Fernando Pessoa, 20-9-1933
terça-feira, 29 de março de 2011
Escritora portuguesa escuta a voz das coisas
Poema de Sophia Andresen:
Quero
Nos teus quartos forrados de luar
"Onde nenhum dos meus gestos faz barulho
Voltar.
E sentar-me um instante
Na beira da janela contra os astros
E olhando para dentro contemplar-te,
Tu dormindo antes de jamais teres acordado,
Tu como um rio adormecido e doce
Seguindo a voz do vento e a voz do mar
Subindo as escadas que sobem pelo ar.
Quero
Nos teus quartos forrados de luar
"Onde nenhum dos meus gestos faz barulho
Voltar.
E sentar-me um instante
Na beira da janela contra os astros
E olhando para dentro contemplar-te,
Tu dormindo antes de jamais teres acordado,
Tu como um rio adormecido e doce
Seguindo a voz do vento e a voz do mar
Subindo as escadas que sobem pelo ar.
sábado, 29 de janeiro de 2011
Podem voar mundos, morrer astros, que tu és como Deus. Princípio e fim
Reprodução |
Florbela Espanca escreveu:
Fanatismo
Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver !
Não és sequer a razão do meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida !
Não vejo nada assim enlouquecida ...
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida !
"Tudo no mundo é frágil, tudo passa ..."
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim !
E, olhos postos em ti, digo de rastros :
"Ah ! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus : Princípio e Fim ! ..."
Livro de Soror Saudade (1923)
sexta-feira, 15 de outubro de 2010
Quero-te para sonho, não para te amar
- Dorme enquanto eu velo...
- Deixa-me sonhar...
- Nada em mim é risonho.
- Quero-te para sonho,
- Não para te amar.
- A tua carne calma
- É fria em meu querer.
- Os meus desejos são cansaços.
- Nem quero ter nos braços
- Meu sonho do teu ser.
- Dorme, dorme. dorme,
- Vaga em teu sorrir... Sonho-te tão atento
- Que o sonho é encantamento
- E eu sonho sem sentir.
- Fernando Pessoa
sexta-feira, 8 de outubro de 2010
lágrimas ocultas
POESIA
LÁGRIMAS OCULTAS
Florbela Espanca
Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era q'rida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida.
E a minha triste boca dolorida
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!
E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim
E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!
LÁGRIMAS OCULTAS
Florbela Espanca
Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era q'rida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida.
E a minha triste boca dolorida
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!
E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim
E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!
domingo, 5 de setembro de 2010
A palavra
Poesia
A palavra, como tu dizias,
chega húmida dos bosques: temos que semeá-la;
chega húmida da terra: temos de defendê-la;
chega com as andorinhas
que a beberam sílaba a sílaba da tua boca.
Cada palavra tua é um homem de pé.
cada palavra tua faz do orvalho uma faca,
faz do ódio um vinho inocente
para bebermos contigo no coração
em redor do fogo.
*
Eugénio de Andrade
Obrigado Maria, você é maravilhosa
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