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quarta-feira, 6 de junho de 2012

Inscrições abertas para o 2º Prêmio Jornalista Abdias Nascimento

O 2º Prêmio Nacional Jornalista Abdias Nascimento recebe até 31 de julho inscrições de  reportagens ou trabalhos fotográficos que abordem o tema da igualdade racial no Brasil. Jornalistas que atuam em todas as regiões do país podem concorrer em sete categorias (Mídia Impressa, Televisão, Rádio, Internet, Mídia Alternativa ou Comunitária, Fotografia e Especial de
Gênero). Serão distribuídos R$ 35 mil em prêmio.
Para se inscrever nesta 2ª edição, os jornalistas devem ter publicado e/ou veiculado matérias entre 1º de maio de 2011 até 31 de julho de 2012.  O regulamento e a ficha de inscrição estão disponíveis no site http://www.premioabdiasnascimento.org.br/
Lançado em 2011 pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro (SJPMRJ), o prêmio distribuirá  R$ 35 mil para reportagens que abordem relações raciais, mercado de trabalho, populações ou comunidades tradicionais, saúde da população negra, juventude, intolerância religiosa, discriminação racial, entre outros temas relacionados à equidade racial.
O concurso homenageia o ativista dos direitos humanos e ex-Senador, Abdias Nascimento, que atuou como jornalista e foi um incansável defensor dos direitos civis dos negros no Brasil.
O Prêmio Jornalista Abdias Nascimento é uma iniciativa da Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial (Cojira-Rio), vinculada ao SJPMRJ. Conta com o apoio da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), das demais Cojiras que atuam no Distrito Federal, São Paulo, Alagoas, Paraíba e Bahia, do Núcleo de Jornalistas Afro-Brasileiros (do Rio Grande do Sul) e do Centro de Informações das Nações Unidas (ONU).
O patrocínio é da Fundação Ford, Fundação W. K. Kellogg e da Oi.
Acesse a ficha de inscrição e o regulamento em http://www.premioabdiasnascimento.org.br/ .
Informações: premioabdiasnascimento@gmail.com

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Cobain conta porque quis se suicidar e porque odeia a todos


Publicar cartas de suicidas é, para muitos, algo mórbido. No caso de Kurt Cobain, astro do punk rock, há também o fato de se levar em conta  os mimados que morrem. Aqui o princípio é como se forma a desesperança. Como as cartas ainda podem representar um desejo de mudança, quando nenhum outro esforço é útil ou ncessário.
Não são apenas desabafos. São histórias que nos levam à reflexão não sobre drogas, riquezas, mas sobre a indole do homem, atávica, conhecida já no Antigo Testamento, de fazer o mal para os outros e para si próprio.


Para Boddah

Falando como um simplório experiente que obviamente preferiria ser um efeminado, infantil e chorão. Este bilhete deve ser fácil de entender. Todas as advertências dadas nas aulas de punk rock ao longo dos anos, desde minha primeira introdução a, digamos assim, ética envolvendo independência e o abraçar de sua comunidade, provaram ser verdadeiras.
Há muitos anos eu não venho sentindo excitação ao ouvir ou fazer música, bem como ao ler ou escrever. Minha culpa por isso é indescritível em palavras. Por exemplo, quando estou atrás do palco, as luzes se apagam e o ruído ensandecido da multidão começa, nada me afeta do jeito que afetava Freddie Mercury, que costumava amar, se deliciar com o amor e adoração da multidão - o que é uma coisa que totalmente admiro e invejo.
O fato é que não consigo enganar vocês, nenhum de vocês. Simplesmente não é justo para vocês e para mim. O pior crime que posso imaginar seria enganar as pessoas sendo falso e fingindo que estou me divertindo 100 por cento. Às vezes acho que eu deveria acionar um despertador antes de entrar no palco. Tentei tudo que está em meus poderes para gostar disso (e eu gosto, Deus, acreditem-me, eu gosto, mas não o suficiente).
Me agrada o fato de que eu e nós atingimos e divertimos uma porção de gente. Devo ser um daqueles narcisitas que só dão valor as coisas quando elas se vão. Eu sou sensível demais. Preciso ficar um pouco dormente para ter de volta o entusiasmo que tinha quando criança.
Em nossas últimas três turnês, tive um reconhecimento por parte de todas as pessoas que conheci pessoalmente e dos fãs de nossa música, mas eu ainda não consigo superar a frustração, a culpa e a empatia que tenho por todos.
Existe o bom em todos nós e acho que eu simplesmente amo as pessoas demais, tanto que chego a mim sentir mal. O triste, sensível, insatisfeito, pisciano, pequeno homem de Jesus. Por que você simplesmente não aproveita? Eu não sei! Tenho uma esposa que é uma deusa, que transipira ambição e empatia e uma filha que me lembra demais de como eu costumava ser, cheio de amor e alegria, beijando todo mundo que encontra porque todo mundo é bom e não vai fazer mal a ela. Isto me aterroriza a ponto de eu mal conseguir funcionar.
Mal posso suportar a idéia de Frances se tornando o triste, autodestrutivo e mórbido roqueiro que virei. Eu tive muito, muito mesmo, e sou grato por isso, mas desde os sete anos de idade passei a ter ódio de todos os humanos em geral. Apenas porque parece muito fácil se relacionar e ter empatia. Apenas porque eu amo e sinto demais por todas as pessoas, eu acho. Obrigado do fundo de meu nauseado estômago queimando por suas cartas e sua peocupação ao longo dos anos. Eu sou mesmo um bebê errático e triste! Não tenho mais a paixão, então lembrem, é melhor queimar do que se apagar aos poucos. Paz, Amor, Empatia.

Kurt Cobain

Frances e Courtney, estarei em seu altar. Por favor, vá em frente, Courtney, por Frances. Pela vida dela, que vai ser tão mais feliz sem mim. EU TE AMO, EU TE AMO!

domingo, 8 de abril de 2012

Confissões de Schimidt encontra um sentido no desabafo da correspondência



Confissões de Schimidt é um filme de orçamento baixo, nos padrões de Holywood. Custou US$ 30 milhões. Avatar teve uma despesa de US$ 500 milhões. Não é um filme excelente, mas bom o suficiente para se debruçar sobre um quadro psicológico que trata das fraquezas humanas. É um caso de se surpreender num filme modesto, sobretudo considerando a boa atuação do elenco, especialmente de Jack Nicholson, que se revela um grande ator, sem que recorra à expressão louca e histriônica como em Estranho no Ninho (apesar da malandragem), o Iluminado e Melhor Impossível.
A história é sobre um homem que aos 60 anos se aposenta e lida rapidamente com a morte da mulher, Helen. Já no início, há um passagem da câmara pelos prédios e pelo semblante melancólico do protagonista que acompanhará por toda a película. Warren Schmidt (Jack Nicholson) é um homem medroso, fracassado e triste. Ele tenta superar o medo fazendo uma travessia pelo meio Oeste norte-americano, partindo de Omaha, em Nebraska. Tal como sugere Goethe, tendo coragem a força está a seu favor. Mas depois descobre que seu ato é incipiente se comparado com os pioneiros que chegaram ao Oeste Norte Americano, passando por adversidades bem maiores.
Também se sente fracassado em seu casamento, na relação com os amigos e na escolha do marido de sua única filha. Busca vencer esses obstáculos, encontrando energias onde já estão quase minguando. Impotente, se vê vencido pela hipocrisia do amigo Ray, a mediocridade da família do marido de Jenny, a filha, e por fim, é tomado por aguda tristeza.
Assim como se escreve num blog para que uma pessoa ou nenhuma venha a ler, as agruras de sua vida são relatadas em cartas para um garoto de seis anos, chamado Ndugu, que vive na Tanzânia. Resolve contar sobre a aposentadoria, a morte da mulher, o despeito com o genro e o desfalecimento de suas forças. Também lhe envia US 20 dólares por mês. Como diria o jornalista de Iguatu, Honório Barbosa, não importa se você escreve para uma ou 40 mil pessoas. A gratuidade do gesto é que compensa e recupera um sentido, onde se pensa que não há mais nenhum sentido. Está passando este mês no Cinemax.

sábado, 7 de abril de 2012

Egito e Vietnã ensinaram que não se deve baixar a guarda em datas religiosas



É difícil pensar em guerra no dia de hoje, mas não é um pensamento absurdo, principalmente se olharmos um pouco para nossa identidade religiosa e um pouco mais para trás. Mais importante do que o Natal, a Páscoa é a maior festa religiosa para os católicos. Afinal, trata da ressurreição de Jesus Cristo, celebrada amanhã, como prova da vitória sobre a cruz. Ontem, o Papa Bento XVI lembrou que a cruz tem um significado ôntico, pois significa o sofrimento que passa todo ser humano e isso não tem sido diferente no presente com a crise econômica internacional, provocando desemprego e desesperança.
Para os católicos, a Páscoa é a esperança concretizada de que se passará da tristeza para a alegria. Deus enviou seu filho à Terra para que morresse pelos nossos pecados. Por tanto, todo o período da Semana Santa é um chamado para a reflexão da dor e da sua superação, por meio da promessa.
Se o Brasil fosse tão católico quanto no passado, se os seus inimigos fossem mais explícitos e beligerantes esse seria o momento ideal para um ataque. Mas isso não é sequer cogitado pelo Ministério da Defesa ou por qualquer pessoa sã.
O jejum da Sexta-feira Santa, a obrigação de não se comer carne, as igrejas sem missas e a procissão sem cânticos, com marcações esporádicas das matracas são tradições que perdem adeptos a cada momento e não ecoam nos sentimentos do grosso da comunidade católica.
Curiosamente, a não indiferença com a data até se justificaria historicamente no aspecto militar. Foram nos momentos de fervor religiosos que grandes potências sofreram baixas consideráveis, quando se pensavam no respeito à fé.
Primeiro foi a Guerra do Yom Kippur, quando forças egípcias atacaram israelenses na primeira linha de defesa, ao longo do canal de Suez, com chuvas de granadas. Isso aconteceu no chamado Dia do Perdão, maior feriado judeu, onde a tônica é a reconciliação incondicional, em 6 de outubro de 1967.
Foi uma retaliação à Guerra dos Seis Dias, que contou com o apoio da Síria, mesmo país que está sendo execrado na atualidade pela repressão cruel com os opositores do regime. A surpresa deveria deixar lições para os países beligerantes. Mas não foi isso o que aconteceu.
Anos depois, durante a guerra do Vietnã, as forças norte-americana baixaram a guarda no que foi chamado maior ataque daquele País a forças americanas. Detalhe: também aconteceu durante o feriado religioso vietnamita que jamais se pensaria em tamanha desobediência aos preceitos ao Tet, maior feriado do ano, ocorrendo em torno de tarde de janeiro a início de fevereiro.
O arquiteto da ofensiva foi o general Vo Nguyen Giap, principal responsável pela fragorosa derrota norte-americana em 1975. Poderia ter sido um mito, mas é difícil encontrar citações sobre seus feitos mesmo na internet. Os Estados Unidos nunca o perdoaram. É muito provável que o generais ianques tenham pensando: ah, vamos relaxar. Hoje, os comunistas estarão rezando. Não é uma contradição?
No Brasil, mais precisamente no Ceará, aconteceu no dia 1º deste ano, o momento mais grave na segurança pública. Quando se comemorava o Dia da Confraternização Universal, a Polícia promoveu a maior greve de sua história. Não houve conflitos fatais, mas não deixou de ser uma ação traumatica, que implicou, inclusive, na vinda de forças do Exército para intervir na segurança pública, um ato que não acontecia desde a retomada da democracia.
Tudo isso serve para entender que não há mais determinismo, quer filosófico, como assim pensava o marxismo, quer religioso, como prega o livro de Eclesiaste.
Temos um mundo não apenas menos apegado a normas e preceitos, mas muito menos religioso.
Baixar a guarda é somente para os incautos. No livro de São Mateus, diz que se o pai de familia soubesse que hora o ladrão chegaria a sua casa, vigiaria e não deixaria que fosse arrombada a sua morada. Se o espírito da paz reinasse na Semana Santa não haveria tantos assassinatos e acidentes de trânsitos fatais em maior número do que no período de Carnaval. São Mateus sugere que devemos orar e vigiar.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Unilab já conta com alunos do Timor Leste

Ao todo, serão 69 alunos que virão de Timor Leste, país asiático
A Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), com um campus instalado em Redenção, a 63 quilômetros de Fortaleza (CE), deverá contar com quase 300 alunos estrangeiros a partir de junho deste ano. A grande novidade é a participação de 69 jovens do Timor-Leste, entre 18 e 23 anos. Desde ontem, 43 estudantes daquele País já se encontram em Fortaleza, estando acolhidos no Centro de Formação Frei Humberto, no bairro de São João do Tauape.
Dentre os que chegaram na madrugada de ontem está o estudante Setembriano Patrício, de 20 anos. Ele veio ao Ceará para cursar Engenharia de Energia, e, por tanto, nutre grande expectativa de retornar ao seu País e dar uma guinada radical na sua vida, não apenas no plano econômico, como de prestar um serviço para sua comunidade.
“Tenho grandes esperança de um bom aprendizado e boas convivência. Acredito que meu interesse e a disponibilidade da Universidade se unirão para oferecer um curso de qualidade”, disse o estudante, que ressalta que precisará de tempo para se adaptar desde o fuso horário (com 12 horas de diferença) até alimentação e hábitos sociais.
A Unilab é uma instituição de ensino superior do governo brasileiro e tem como missão estabelecer convênios de cooperação com os países lusófonos para o desenvolvimento mútuo da educação superior. No caso do Timor-Leste, foi assinado um convênio de cooperação bilateral entre a Unilab e a Universidade Nacional de Timor Lorosa’e (Timor-Leste).
Em fevereiro o blog Sobrearte já havia  antecipado nesta nova demanda de alunos estrangeiros. A fonte foi o Ministério das Relações Exteriores, que chegou a estimar em 300 o total de estudantes de outros países falam o Portuguës.
Nos próximos dias, os timorenses irão regularizar os processos burocráticos de permanência no Brasil em órgãos federais e participar de passeios culturais para conhecer a capital do estado, Fortaleza. Eles chegam à Redenção na manhã do dia 26 de março para uma cerimônia de acolhida, com a presença de várias autoridades, inclusive do Embaixador do Timor-Leste no Brasil, Domingos de Sousa. O começo das aulas do grupo está previsto para o início do mês de abril. A Universidade oferece uma grade voltada para assuntos de primeira ordem em países em desenvolvimento como Angola, Moçambique, Cabo Verde e Guiné Bissau e, agora, Timor Leste, tais como Administração Pública, Agronomia, Ciências Humanas, Ciências e Matemática, Enfermagem, Engenharia de Energias e Letras. Os alunos fazem suas refeições e dormem no próprio campus.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Unilab recebe mais 300 novos alunos de países de língua portuguesa

Aula inaugural na Unilab. Fotos: Marcus Peixoto

A Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), com um campus instalado em Redenção, a  63 quilômetros de Fortaleza (CE), deverá estar recebendo 300 novos alunos estrangeiros de países africanos e do Timor Leste.  As aulas começam no segundo semestre deste ano. A instituição se propõe a abrir espaço para o livre e amplo intercâmbio de conhecimento e cultura entre o Brasil e os países de expressão portuguesa.
A experiência, que chega ao seu segundo ano, demonstra o quanto tem valido os esforços de cooperação solidária, em oferecer a outros países, principalmente africanos, o desenvolvimento por meio de  "formas de crescimento econômico, político e social entre os estudantes, formando cidadãos capazes de multiplicar o aprendizado", assim como é dito no site oficial da Unilab.
A escolha por Redenção, um Município localizado na chamada região do carrasco do Maciço do Baturité, teve uma simbologia própria. Trata-se da primeira cidade brasileira a abolir a escravidão. Só não fica bem claro este ponto de vista para os alunos assim que chegam porque não ha cidadãos negros, não apenas naquela localidade quanto em todo o Ceará. No caso de Redenção, há de se lembrar quando houve a abolição, existia apenas um escravo cativo, numa rara senzala da região onde se instalaram engenhos de cana de açúcar.
No caso do Ceará, a explicação é que não houve uma migração africana expressiva por conta da própria condição econômica do Estado, onde as estiagens frequentes, não permitiam a prosperidade da agricultura e, desse modo, a aquisição da mão de obra escrava tornava-se inviável.

No entanto, a Universidade voltada para os estudantes de língua portuguesa encontra nos africanos seus maiores usuários. O interesse pelos estudos anima e enche de esperança seu alunos, como Eduardo, 21 anos, de Guiné Bissau, que afirma sonhar em poder voltar para seu País e oferecer uma vida melhor para si e sua família. Eduardo, assim como os demais africanos, falam das dificuldades de adaptação. Uma delas é ser minoria negra num estado de mestiços e pardos. Uma outra foi a alimentação. Contudo, nada que o desejo de crescer e usufruir de conhecimentos e oportunidades não seja superior.
A Universidade oferece uma grade voltada para assuntos de primeira ordem em países como Angola, Moçambique, Cabo Verde e  Guiné Bissau, tais como  Adminstração Pública, Agronomia, Ciências Humanas, Ciências e Matemática, Enfermagem, Engenharia de Energias e Letras. Os alunos fazem suas refeições e dormem no próprio campus. Há uma discipliana rígida, comandada por um experiente coordenador africano, para impedir brigas e rixas tribais ou para assuntos que saiam do controle e que são comuns a qualquer lugar onde se promova a reunião de jovens, homens e mulheres: namoros e bebedeiras.
Padre Clóvis Cabral

Por ocasião de sua aula inaugural, quando estive presente, houve a participação do padre jesuíta Clóvis Cabral, filho de uma ialorixá baiana, sendo um dos mais controvertidos religiosos brasileiros. Já na sua ordenação, contou-se com a participação de integrantes do candomblé, onde se misturam cultos católicos e afrobrasileiros.
Ele falou do racismo e da limitação intelectual brasileira, em ter produzido grandes líderes negros, a exemplo de Nelson Mandela, Agostinho Neto, Samora Marchal e Martin Luther King. "Durante muito tempo, causava muita isada a piada de que negro só era gente quando se batia na porta do banheiro e este respondia: tem gente", disse o padre, que estampava uma camisa com a figura do São Jorge Guerreiro, que no Candomblé equivale a Oxóssi. Sobre os orixás, lembrou que foi a forma mais democrática dos negros se igualarem aos brancos. "Veja que somente aqui se fala em Oxóssi, Xangô, Oxalá. Nos seus países africanos não existem esse culto específico para cada deus afro", afirmou padre Clóvis.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

De Patinhas a Bruce Weyne, a ideologia do Capital nos deixa um legado de tristeza


Nos desenhos animados há três tipos de ricos que se não nos causam inveja por sua imensa fortuna, nos introduz a um mundo de possibilidades na ficção sobre quanto o dinheiro é desmedido, ora tendendo para esbórnia e o estilo estróina, ora para a mais extrema usura. Aqui relembro Tio Patinhas, Riquinho e Bruce Weyne, o Batman. Pessoas da minha geração e que trilharam os primeiros caminhos da leitura pelas histórias em quadrinhos, certamente se depararam com suas tramas hilárias, permeadas de adversários sempre ambiciosos pelo dinheiro ou poder  e, sobretudo, extasiando-se com o mundo contrário ao de privação, repressão, limitação situado na infância. Ser rico é uma fantasia encantadora.
Tio Patinhas, saído dos estúdios da Disney, é o mais avarento de todos os nossos heróis. Trata seus sobrinhos (Donald e os sobrinhos netos Huginho, Zezinho e Luizinho)  à pão e água. Toda sua energia é canalizada para proteger, especialmente, sua moeda nº 1, aquela que lhe dá sorte. Para tanto, luta contra a magia das bruxas Maga Patológica e Madame Min, a inveja de Patacôncio, o segundo pato mais rico de Patopólis, e os Irmãos Metralhas. Chamava a atenção pela sua avidez pela aventura, pois assim descobria novos tesouros e vencia a depressão de sentir-se um velho estagnado.

Riquinho, personagem da Harvey Comics, é o menino mais rico do mundo. Na imensa mansão onde mora, há uma lanchonete, uma piscina, um parque de diversão e todos trazem a marca $. Sua frustração é não poder levar uma vida normal como outras crianças de sua idade. Por exemplo, jogar beisebol. Em termos de fantasia, não se pode medir se é mais rico do que Patinhas, mas de longe o que possui melhor coração. Tanto ele quanto seus pais chegam a ser perdulários. No entanto, por mais que distribuam seus bens, há uma fonte inesgotável, que provém de diversos negócios no mundo, incluindo bancos, petróleo e donos de países inteiros. No cinema, foi interpretado por Macaulay Culkin, então com 14 anos, sendo seu último papel infantil.
Por fim, temos o milionário Bruce Weyne, que foi concebido nos quadrinhos pelo desenhista Bob Kane e o escritor Bill Finger. É destinado a um publico menos infantil e com uma linha de atitude mais complexa. Com os pais sendo assassinados, tornou-se um homem vingativo e destinado a combater o crime, através do gótico personagem Batman. Seus arquinimigos, Pinguim, Charada e Coringa, dentre outros, são considerados vilões covardes e surpesticiosos, daí que a fantasia de morcego é mais um instrumento de intimidação. Porém, sem poderes sobrenaturais, ele se vale do intelecto, da tecnologia (proporcionada pela sua imensa riqueza) por artes marciais e pela vantagem de seu físico.

Os heróis ricos, engraçados ou não, nos falam de um sistema capitalista seguro, baseado no sucesso dos negócios e na irreversibilidade. Se a panfletagem em torno do comunismo por um mundo igualitário nos atraía para um engajamento político, a propaganda do acúmulo do capital revelava um mundo novo que, como Lutero acreditava, a tecnologia, a ciência, o Estado eram uma dádiva de Deus.
Nos países ocidentais, ser rico para crianças e jovens das décadas de 1960 e 1970 não trazia culpa. Assim como não eram convicentes as assertivas de que era mais fácil um camelo entrar num buraco de agulha do que um rico no reino de Deus ou ainda aquela de Proudhon: "La proprieté  c'est le vol" (A propriedade é um roubo). O sonho do fausto, do consumismo desenfreado, de se ter mais do que se precisa foi tão profundamente enraizado que nos fez crer como os marxistas se apresentaram como bobos. Quando caiu o Muro de Berlim, houve mais motivos para se comemorar a vitoria do imperialismo ocidental. A nova ordem se estabelecia com um fato novo: não existiam mais oponentes.
Daí veio a crise econômica nos Estados Unidos, estendendo-se pela Europa e causando mais ruínas na Grécia, depois se prolongando pela Irlanda e Portugal. Todos estes países aderiram ao capitalismo, com pouca ou nenhuma resistência. Mas alguma coisa deu errada na engrenagem e, embora não se pense em reviver o socialismo, sabe-se, como disse Darcy Ribeiro, que foi uma guerra entre vitoriosos e perdedores. E aí os medíocres são e sempre serão os mais fortes. No entanto, não tão somente por uma questão de ética, de moralidade, mas de aprendizado entre certo e errado, nesta luta ideológica é melhor ter ficado do lado dos fracassados do que dos vencedores. Quando o sorriso se vai, procuramos um bem maior que ficou no vácuo de nosso espírito. De Patinhas a Bruce Weyne, a ideologia do Capital nos deixa uma herança decadente, um  legado de tristeza, decepção e melancolia.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Luiza, Big Brother e o lixo cultural que tanto nos divertem

Reprodução /
Twitter


A semana termina como mais questionamentos sobre a inteligência do brasileiro. Muito bom que as redes sociais, muito criticadas juntamente com as televisões por produzir lixo cultural, estejam favorecendo essa autocrítica sobre o que é relevante ou não nas nossas discussões.
Twitter, orkut, facebook, youtube e HI5 foram e são pródigos em produzir esses fenômenos midiáticos que têm muitas vezes menos de 15 minutos de fama. Uma cena comum - e muito discutida em Portugal, foi quando circulou há algum tempo um vídeo pela internet. Tratava-se de uma histérica disputa de uma aluna para manter seu telemóvel (aparelho celular), enquanto a professora buscava arrebatá-lo.
Algumas pessoas acham engraçado, outras consideram pobres intelectualmente, mas o que é importante mesmo é esse instante quando o ser humano, seja de onde for, para por algum momento a fim de se ver profundamente. O olhar do estrangeiro ajuda porque muitas vezes são melhores juízes em causas alheias, do que nas causas próprias. No entanto, quando olhamos para o nosso próprio umbigo, como vi em inúmeros comentários e discussões, não nos têm faltado imparcialidade, seriedade, vontade de desenvolver nossas faculdades interpretativas e a repulsa pelo fútil e hilário.
Também li muitos comentários de que chegamos à exaustão ao falar de assuntos bizarros. Não vejo assim. Na verdade, quanto mais ínformações, mais conteúdos são formados. A concisão e o reducionismo nos levam  a uma discussão superficial, quando temos acervo e tutano para irmos mais além. Não devemos restringir nossos pensamentos a cinco linhas. Também não são assuntos que mereçam teses ou dissertações. Nem muito ao mar. Nem muito à terra.
O leitor já deve ter notado que estou a falar sobre Luíza, Big Brother e menos sobre arte.  Se a ideia é que 90% da população brasileira (não faço a menor ideia onde vi esse dado) não leem, por que não oferecer referências e assimilar a contribuição de formulação de opinião aos restantes 10%?
Vou continuar mantendo a convicção de que não é o ridículo que nos faz sentir parte de um mundo melhor. Creio muito firmemente que as reflexões são etapas do amadurecimento de nossa sociedade. Assim como uma mangueira, não é de esperar que todos os frutos sejam sazonais ao mesmo tempo. Umas mangas estão verdes, outras nem tanto e outras de tão madura demandam nosso imediato deleite, de seu perfume, sua textura, sua cor e seu sabor.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Na guerra da selva, não é preciso ser bom homem para ser bom soldado


Por causa de uma dívida de R$ 40 mil, referente a venda de um carro, um homem entra numa loja do devedor e atira à queima roupa. O morto pouco tempo teve para compreender que seu dia tinha chegado ao fim, já às  vesperas do final do ano. Afinal, quem atirava era o filho do dono de uma loja de revendas de automóveis, aquele que manteve empenhada a palavra de que seria pago, mas num gesto frio não se compadeceu em ceifar a vida de quem considerou como um traidor da confiança. Porém, numa ironia do destino, porque não é comum isso acontecer, rapidamente equipes de policiais em motocicletas ao ouvirem o disparo, cercaram e prenderam o assassino e o comparsa que conduzia o veículo da fuga, numa ação espetacular - e rara - de prisão em flagrante.
Nunca vi tanta televisão como nestes últimos dias de mais repouso, mesmo que a contragosto. Por exemplo, vi o Papa Bento XVI, que disse em sua primeira encíclica que era pecado advinhar, concluir sua homilia natalina afirmando que tanto o preocupava a crise econômica na Europa, quanto a crise da fé. Orou pela paz mundial, por fim. Vi o último comboio dos Estados Unidos abandonar o Iraque. Num instante seguinte, um atentado mata mais mais de 70 pessoas e deixa dezenas de ferido em Bagdá. Os conflitos se agravam na Siria, reconhecendo o Brasil ainda um aliado. O Supremo Tribunal Federal praticamente engaveta o processo do mensalão, causando protestos em vários setores da sociedade. O que fazer? Lá não estão os melhores juristas, aqueles do maior saber da magistratura, mas chegando lá não tem mais para onde ir. Mudo de canal. Procuro os da televisão fechada e assisto, olha que coincidência, "Os homens que encaravam as cabras", que conta sobre um grupo de soldados norte-americanos para-normais, que eram treinados para destruir seus oponentes com o poder da mente. Acaba sendo engraçado, mas de um humor que magoa os iraquianos, os animais e o sentido dos Exércitos. Não é possível que nada na literatura ou no cinema não contrarie a máxima chinesa de que se não é preciso bom ferro para se fazer pregos, também não são necessários bons homens para se fazer bons soldados.
Por fim, olhei para dentro de mim mesmo e vi a batalha que travava pela minha saúde. Como Al Capone, não posso mudar as condições. Apenas as enfrento sem recuar. Assim como Deus fez erguer o Exército dos Ossos Secos, dando-lhe fibra, carne e vida, como diz o Livro de Ezequiel, assim vamos enfrentando os inimigos, ocultos ou não, com moral alta, fortalecido pela esperança e fé e, sobretudo, sendo um reconhecedor das batalhas já vencidas, como um predestinado para a vitória.
As batalhas acontecem muito mais facilmente do que aquelas que conseguimos perceber. Há uma tendência natural do homem para o combate, como se fossem infindáveis as motivações. Na vida real, ou na televisão há um mundo cruel que luta renhidamente. Algumas bombas caem com efeito pirotécnico. Algum sangue derramado, quando não o nosso, nos faz lembrar quanto a vida nos foi generosa e nos poupou daquela tragédia. Mas que a felicidade não nos chegue por esse mesquinho preço. Enquanto isso, vou pensando como Kant: "Duas coisas nunca deixam de me causar espanto e admiração:o céu estrelado lá no alto e a lei moral dentro de mim".

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Vítimas cobram dívidas deixadas pela repressão do regime militar



Há quem diga que os dois lados mentem: os militares dizem que não "bateram" tanto quanto afirmam as vítimas, porque se tivessem apanhando muito não estariam tão inteiras. Essas dizem que apanharam muito. E a própria presidente Dilma conta que foi vítimas de torturas terríveis aos 19 anos. É muito provável que a maioria minta. Por isso, nada mais adequado que a instalação da Comissão da Verdade, sancionada pela presidente em 18 de novembro passado.
Embora haja quem reconheça como uma medida revanchista, os clamores das famílias que ainda têm seus entes queridos desaprecidos, ou a convivência impune de torturades e espiões do Regime Militar sem nenhuma crise moral insultam os sobreviventes e aqueles que sofreram indiretamente os tempos de "Anos de Chumbo'.
Aqui reproduzo uma carta aberta de meu primo e jornalista Mirton Peixoto, filho do militante de esquerda Aloíso Peixoto, meu tio. Católico fervoroso, Mirton não fala em revanche mas na mais transparente verdade que venha á tona e possa esclarecer o conflito entre militares e seus opositores.

Comissão da verdade: hora de abrir o baú das injustiças contra o povo brasileiro

Por Mirton Peixoto*

Tomo a liberdade de resgatar a história da minha família, que na época no Brasil não podia se expressar e nem sequer viver com ideias democráticas. Foram momentos de muita tensão, entre o Estado Novo (1946) e a Ditadura Militar, nos anos de 1964 a 1968, e que ainda se estendeu até 1985. Hoje está sendo criada a Comissão Nacional da Verdade em que vai ser aberto o baú das injustiças contra o povo e a própria sociedade. Momento oportuno para colocar em pratos limpos tudo que aconteceu naquela época.

A veracidade dos fatos é a minha própria vida e a de minha família. Não temos documentos, mas temos fatos concretos de desrespeito e autoritarismo que ocorreram e ficaram para sempre na memória.

A vida do meu pai e todos os meus irmãos foi de tremenda luta pela sobrevivência e os resquícios dessa época são grandes e deixaram muitas feridas abertas. Qual o perigo que oferece um trabalhador (meu pai era soldador), que só tentava organizar a classe que ocupava? Por que viver na clandestinidade um operário, por simplesmente pensar em uma sociedade mais justa e solidária? Porque um líder comunitário que procurava ajudar a sociedade por melhores condições de vida era perseguido? Como uma filha de um “sonhador” não poderia assumir um concurso público ou trabalhar numa empresa por causa do nome do pai?

Um homem que não podia usar sua própria identidade, porque não era bem recebido pela classe patronal e uma sociedade militarista atrasada. Lembro-me de histórias contadas pelo meu pai que teria levado um tiro de “raspão” no braço direito em um comício de Luis Carlos Prestes, na chamada “Coluna Prestes", nos finais da década de 30. Para não ser preso ele fugia. Ele escrevia cartas para minha mãe em um papel em branco com limão. Para ler a carta, era preciso colocar o papel aparentemente branco sob a luz. Portanto, todo cuidado era pouco, para a sobrevivência. Contava, em forma de piada, acontecimentos verdadeiros, como, por exemplo, que todo sujo de carvão (para não ser reconhecido) a polícia federal chegou a perguntar a ele por ele próprio. E dizia: “sei lá quem é esse fdp” e pegando uma pá com carvão jogou pó no olho do policial. E assim mais uma vez fugiu e continuava vivendo na clandestinidade, sem praticamente identidade própria.

Lembro-me muito bem quando eu estava junto dele e “Dom Helder Câmara”, em 1963, antes de ir para Recife, pediu para ele não deixar cair o “Centro Maternal da Piedade” - local onde as lavadeiras lavavam as roupas para a sobrevivência e suas crianças ficavam no berçário. Lembro também quando ele contava que o então Governador Virgílio Távora estava em uma reunião em Messejana e outras pessoas estavam falando mal de meu pai, e o governador perguntou a essas pessoas, “esse Aloisio é o da Piedade? Pois enquanto vocês estão falando mal dele aqui, ele está lá trabalhando pela comunidade”. Meu pai tinha uma ligação com a esposa do Virgílio, a Dona Luiza Távora, ele a chamava de “Dona Zelinda” e conseguia tudo com ela para a comunidade.

Tenho uma irmã que estudou na Escola Normal Justiniano de Serpa na época em que alunos pularam o muro para não ser levados pela polícia. Daí ela não foi mais para a Escola. Só após alguns anos, ela continuou a estudar no Colégio São José, onde terminou o Segundo Grau. Outro irmão foi depor na Polícia Federal, pois era do Centro de Estudantes Secundaristas do Ceará. Lá também quem participava era perseguido.

O lema de meu pai era “justiça, igualdade e fraternidade”. E por causa desse “projeto” a minha família sofreu perseguições, foi negado emprego a ele e a todos os irmãos mais velhos. E ele teve que trocar de profissão e passou a ser contabilista. Enfim, vivíamos de trabalhos diários para a sobrevivência. Eu poderia dizer que matar um leão por dia era fácil. O problema maior era conviver com as cobras.

Nessa luta diária, eu, com menos de dez anos de idade, tinha a preocupação de sobrevivência e todos os dias esperava meu pai trazer a notícia do dia: se tinha conseguido dinheiro para comer no dia seguinte, pois, em muitos dias, não se tinha nem o necessário. Como dizia minha mãe, era “arroz e feijão na água e no sal, sem mistura”, pois emprego fixo era negado a toda família. Eu passei a ajudar meu pai nessa busca diária por dinheiro a partir dos 12 anos. Tinha uma irmã que cobria botões. Outros faziam serviços de escrita fiscal para mercearias. Outro irmão trabalhava como pintor numa empresa de um primo da minha mãe. Teve época em que meu pai devia tanto, que tomaram até o “ganha pão” dele, que era uma máquina de escrever e outra de calcular.

Eu, como filho mais novo, vi os meus irmãos serem privados de emprego, de falar, de gritar por condições mínimas de saúde e de sobrevivência. Eu com um ano de idade perdi a visão do olho direito. Outro irmão se arrastava pelo chão - não andava - era paralítico de nascença e morreu com 18 anos. Uma irmã mais nova morreu ainda. Vi minha irmã mais velha ser demitida e o dinheiro, guardado em casa, após alguns anos (talvez 15 anos), quando precisou, não valia mais nada, pois foi trocada a moeda do país. Outra irmã fugiu de casa para casar.

A história do Brasil tem uma dívida com a sociedade, que precisa, pelo menos, conhecer a verdade, o que aconteceu com todo o povo, que muito lutou, e que não tinha sequer identidade própria.

Como foi difícil a caminhada até aqui. Ficaram os frutos da organização de classe, trabalhos comunitários, luta por justiça e melhores condições de vida e de saúde. Posso dizer que a luta continua, mas pelo menos hoje temos a liberdade de expressar as opiniões, mesmo sabendo que ainda reinam as injustiças sociais e que o trabalho é desvalorizado pelos empresários. Os lucros ainda são concentrados nas mãos dos patrões e os trabalhadores ainda não estão conscientes de que é o trabalho que gera a riqueza.

Que este Brasil, de hoje e do futuro, aprenda com a história, que os fatos sejam revelados, que nunca mais voltem governos autoritários e que se possa apontar o erro, falar e expressar com liberdade. Posso dizer que na ditadura perdeu-se o brilho e a graça, diante da violência e da falta de Deus nos corações das pessoas, acreditando que a Comissão da Verdade revelará ao povo brasileiro a memória oculta nas sombras do regime de exceção.

* Diretor de Ação Sindical do Sindjorce e do DIEESE-CE e ministro extraordinário da Sagrada Comunhão da paróquia Bom Jesus dos Aflitos (Parangaba) e fundador da comunidade Santo Expedito (Maraponga).

sábado, 22 de outubro de 2011

Ministério da Defesa garante que Brasil não recuará no domínio da energia nucelar




Se o Iraque e a Líbia tivessem bomba atômica, teriam havido deposições de seus ditadores e sofridas perdas civis? A julgar pelo que acontece com a Coréia do Norte, onde uma ditadura é muito mais hostil ao Ocidente e agressiva, a resposta é não. Com esse argumento Exército e acadêmicos especialistas em Defesa Nacional têm se posicionado como favoráveis para a continuação do programa nuclear brasileiro, tendo à frente a Marinha do Brasil, que desaguará, se não houver nenhuma sabotagem, na criação da bomba.
O desenvolvimento da política nuclear, a contragosto dos Estados Unidos, assim como as ações de tecnologia espacial, desenvolvidas pela Aeronáutica, e de cibernética, pelo Exército, foram reforçadas pelo general Alderico Mattioli, diretor do Departamento de Produtos de Defesa do Ministério da Defesa, esta semana. Ele disse que todo o esforço militar brasileiro se coaduna na estratégia da dissuasão.
Ele esteve presente à Audiência Pública para debater o reaparelhamento das Forças Armadas, promovida pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado, presidida pelo senador Fernando Collor.
Para explicar melhor essa alternativa de defesa, o especialista em Defesa Nacional, Antônio Luiz da Costa, disse que há três tipos de estratégias: uma, quando uma força militar é consideravelmente superior a seu opositor. Então esse é derrotado de forma avassaladora. A segunda, é quando há uma inferioridade entre as partes. Há um certo equilíbrio de forças, mas vence quem derrota o inimigo minando suas forças, a exemplo do que faz o toreiro com o touro. E a última, é a dissuasão. Consiste em colocar a questão de que se houver um conflito, a força inferior poderá sucumbir, mas o inimigo poderá perder pelo menos um braço. Isso valeria à pena?
Antônio Luiz lembrou que a presidente Dilma também deixou explícito que o Brasil não abandonará seu programa nuclear, porque entende que o desarmarmento não pode ser unilateral. Ele salientou que o Brasil é um País rico, mas precisa ter poder. Caso contrário essa riqueza pode ser roubada.
"O Brasil é um País mestiço, sincrético, antropofágico (no sentido empregado por Oswald de Andrade, naturalmente), tolerante e pode ser a liderança do futuro, pela impossibilidade dos Estados Unidos em reunir essas qualidades e pelo declínio que as Nações ricas vêm sofrendo no lado Ocidental.
Contrário ao pensamento da proliferação das armas nucleares, o professor Gutther Rudzit, doutor em Defesa Nacional, disse temer que o Brasil perca essa hegemonia no Ocidente, e não apenas passe a ser temido como também incentive o armamento atômico pelos países vizinhos. Ele foi advertido por Antônio Luiz, que deveria imaginar o que o "espaço do Brasil não é assim como colher frutas no pomar".
Ou seja, nunca antes neste Pais a energia nuclear passa a ser uma prioridade assim como a compra de caças, mais navios, mais submarinos e mais recursos que levem o País a não sofrer perdas, quer pelas suas riquezas na plataforma marítima, quer por deter 12 por cento da água mundial e por se constituir no País mais influente do Hemisfério Sul, consolidando as raízes e suas diferenças como uma América Portuguesa.

sábado, 8 de outubro de 2011

Trabalho e frequência escolar reduzem pena de condenados nos presídios

Foto: Marcus Peixoto

Conhecido desembargador cearense causou rebouliço, mesmo ser ter descoberto a pólvora, ao comentar que no Brasil somente vão para a cadeia pobres, pretos e prostitutas. É fato que os crimes de colarinho branco passam ao largo da medidas punitivas. De fato, as cadeias e os sentimentos de vingança são canalizados exclusivamente para esses segmentos sociais, como o principal alvo de sentenças condenatórias. No entanto, de uma forma ou de outra, também têm decretadas penas capitais, assim como toda a sociedade é auto punida pelas ausência dos serviços de saúde, educação, bons salários.
Podemos citar alguns exemplos de condenações radicais como aquelas decorrentes da fome,  sede, depressão, homicídio, analfabetismo, alienação, infarto agudo do miocárdio por aterosclerose, fumo, alcoolismo, vício em drogas ilícitas, solidão, bala perdida, guerras, acidente de trânsito,
É verdade que a violência das ruas gera uma couraça contrária ao sentimentalismo por essas pessoas marginais. Daí que pouco se sabe de medidas que visam à ressocialização dos apenados e diminuição das penas.
No presídio Femino Auri Moura, bem como no Instituto Presídio Olavo Oliveira II, destinado para internos, há iniciativas produtivas que objetivam a redução da pena. Através de cada três dias trabalhos, é diminuído um dia da pena.
Outra medida, ainda não sancionada pela presidente Dilma, foi aprovada pelo Congresso Nacional em julho passado. Trata da lei que  determina que os condenados poderão descontar um dia de pena para cada 12 horas de frequência escolar.Com isso, se permite, que para a concessão do benefício, a utilização de horas no ensino fundamental, médio (incluindo profissionalizante), superior e ainda de requalificação profissional. O preso poderá estudar de forma presencial ou em cursos a distância.
É bem provável que um dia a sociedade se torne mais exigente com os criminosos e exijam a pena de morte da forma clássica. Também não se pode deixar de almejar que possamos amadurecer em medidas que possam atenuar o sofrimento dos internos nos presídios, que tem relação direta com o nosso tipo de humanidade.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Ralph Della Cava recebe título de Doutor Honoris Causa pela UFC

Ralph Della Cava em sua última visita ao Ceará, durante a III Conferência Internacional sobre o Padre Cícero
O historiador norte-americano Ralph Della Cava, um dos maiores pesquisadores sobre a vida do Padre Cícero Romão Batista (1844 – 1934), receberá o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal do Ceará na próxima sexta-feira (30), às 19h, no auditório do Campus da UFC no Cariri, em Juazeiro do Norte. O evento é aberto ao público e contará com a presença do homenageado e do Reitor Jesualdo Farias, autor da proposta do título para Della Cava, cuja aprovação se deu, de forma unânime, em junho deste ano, pelo Conselho Universitário. Na ocasião, será distribuído O livro “Onze vezes Joaseiro”, que reúne ensaios sobre a cidade de Juazeiro do Norte. Della Cava viveu 14 meses entre Fortaleza, Juazeiro, Rio de Janeiro e outros lugares do País, estudando um tema que sempre foi cercado de polêmica: a vida de Padre Cícero. Em meados de 1964, na Biblioteca Municipal de Fortaleza, o pesquisador iniciou os estudos,  que culminaria no livro “Miracle at Joaseiro” (Milagre em Juazeiro), publicado em 1976, pela Editora Paz & Terra, obra considerada uma das mais aprofundadas sobre o tema. Todo o acervo pesquisado acabou sendo doado em vida pelo autor para uma universidade norte-americana e chegou até ser aplaudido por isso por intelectuais locais.
Em setembro de 2005,  entrevistei Della Cava  para a Revista Plenário, publicada pela Assembleia Legislativa. A matéria tratatava sobre os esforços do bispo do Crato, dom Panico, pela reabilitação de padre Cícero.

Entrevista
"Cento e setenta e um anos depois do nascimento de Padre Cícero e 71 depois de sua morte, ele permanence como um dos maiores personagens do Brasil contemporâneo, um santo e taumaturgo dos humildes da terra". A afirmação é do historiador norte-americano Ralph Della Cava, 70 anos, que doou o material de seus estudos sobre o Padre Cícero à Biblioteca Latino-Americana da Universidade da Flórida, nos Estados Unidos. Ele começou a estudar a vida e a obra do fundador de Juazeiro do Norte na década de 1970. Ao longo de quatro décadas, foi acumulando livros, cordéis, fotografias, xilogravuras, documentos e cerãmicas num trabalho apaixonado pela mística de quem considera como o que há de mais extraordináriuo em matéria de milagres e história. Os motivos da doação, anunciada em abril deste ano, foram relatadas como um sentimento de medo. Ou seja, que este precioso tesouro pudesse se estragar, caindo vitima de herdeiros , leiloeiros e cupins, além, é claro, da pressão de sua mulher, Olga, bibliotecária, que o ultimava para que desse um destino ao acervo ainda em vida. Della Cava é professor emérito de história de Queens College da City University of New York e atualmente é Pesquisador Senior Associado do Instituto de Estudos Latinoamericanos (ILAS) da Columbia University na Cidade de New York.
Pergunta: Como o senhor vê, hoje, os movimentos da Igreja Católica para a reabilitação do Padre Cícero?
Resposta. Esses movimentos existem há muito tempo e os resultados são bastantes complexos e incertos. Houve esforços inumeráveis para retificar o estado de Padre Cícero como um padre de posição regular a partir do século XIX. Na realidade, logo após a ocorrência dos primeiros milagres alegados. Não obstante, todos os tais esforços foram malsucedidos. O que é sem igual trata-se da iniciativa presente, originada da Diocese de Crato, ao perceber as muitas sanções contra o pároco de Juazeiro, da mesma maneira, como as elites do Crato e os líderes posteriores denegriram freqüentemente sua imagem dentro um espectro desesperado, e também fracassando a tentativa para evitar o próprio declínio político e econômico desses segmentos. Mas, com respeito ao movimento atual, temos que perguntar qual é seu objetivo preciso. Seria reabilitar Padre Cícero com relação a essas sanções ou é, como o Bispo atual de Crato insistiu repetidamente, reconciliar " a igreja com os dois milhões de romeiros que vão a cada ano a Juazeiro, além de milhares de devotos existentes por todo o Nordeste, bem como os seus descendentes, que ajudaram fazer o município o segundo mais próspero no estado de Ceará?" Como bispo, Dom Fernando Panico, tem pela primeira vez na história da diocese uma iniciativa pública de antagonismo aos antecessores no que diz respeito a Juazeiro e seu romeiros. Incitando a reabilitação, como é a visão de Dom Fernando - como o perito pastoral que ele é - de como melhor a Igreja poderia servir às necessidades espirituais e materiais destes crentes. À  esse fim, desfruta o endosso da Conferência Nacional de Bispos de Brasil (CNBB) e, como foi informado na imprensa, do Papa Benedito XVI, por ocasião em que foi Perfeito da Congregação para a Doutrina da Fé. Os romeiros sentirão de perto a diferença de um padre Cícero restabelecido por Roma dos sentimentos que eles têm agora, como o padre de longo-sofrimento, proclamado como santo e intercessor de milagre há muito tempo - apesar da Igreja? Essa é, pelo menos, a pergunta interessante disposta por meu colega o Gilmar de  Carvalho. Mas, aqui também, só o tempo contará.
P. Em algum momento, em suas pesquisas, houve a descoberta de uma espiritualidade de fato singular que explicaria o fenômeno da reverência e da romaria convergindo para Juazeiro do Norte?
R. O fervor religioso origina-se da predominância de condições sociológica para a sua elevação extraordinariamente rápida em Juazeiro em população e influência econômica dentro de dez anos dos milagres alegados de 1888-1889. As romarias foram incitadas no princípio pelos " fatos extraordinários de Juazeiro " – relacionados à Beata Maria de Araújo, dando conta de a hóstia em sua boca foi transformada em sangue, imediatamente proclamado pelo clero para ser isso de Jesus Cristo. Então, com as grandes secas de 1888 e 1915, os romeiros eram indistinguíveis de retirantes na procura deles por um porto seguro, no qual eles acharam a fertilidade nos campos do Cariri. Durante as primeiras três ou quatro décadas do último século, milhares de migrantes procuraram Juazeiro - em um dos grandes movimentos demográficos internos da história brasileira moderna, o que se constitui num daqueles restos de silêncio a serem estudados.
P. Na sua pesquisa, o que foi considerado como a grande contribuição de Padre Cícero?
R. O serviço abnegado dele para os outros! Para os romeiros - que tornou Juazeiro possível - ofereceu isso que nenhum dos coronéis locais, fazendeiros e políticos não puderam, afirmando que se trabalhasse com dignidade, com deliberação sábia e a esperança duradoura de uma vida melhor, aqui e no futuro.
P. Tem-se afirmado que Padre Cícero ainda é muito pouco estudado. Que expectativa tem com o recente fato de ter doado seu acervo para a Biblioteca Latino-Americana da Flórida? Amplia-se a possibilidade ser melhor conhecido e difundido?
R. Não é que o Padre Cícero seja "pouco estudado," mas - como todo sujeito histórico em torno do qual continua a surgir tanta controvérsia - será sempre estudado. O momento atual não pode ser mais propício: muitos novos documentos, todos inéditos, apareceram, como o foi anunciado o ano passado durante o III Simposio Internacional sobre o Padre Cícero realizado em Juazeiro. Também porque vários arquivos antes inacessíveis ou não publicados - como os de Gilmar de Carvalho e Renato Casimiro, dois estudiosos do mais alto gabarito - estão hoje a disposição dos pesquisadores. Quanto à doação do meu arquivo sobre o Padre Cícero, ser facilmente acessivel a todos e permanecer bem e profissionalmente cuidado eram as condições que a Universidade de Florida em Gainesville (Estado de Flórida, EUA) se comprometeu de respeitar. E já cumpriu em parte: restaurou o microfilme dos arquivos do Colégio Salesiano de Juazeiro e da Diocese do Crato que eu filmei, chapa por chapa, em 1964; dele já fez uma cópia positiva (de mil sete centos pés de comprimento) a ser doada ao acervo da Universidade Regional do Carirí; colocou uns primeiros títulos e fotos no site da Biblioteca Latinoamericana (http://web.uflib.ufl.edu/lac/Brasiliana.html); e organizou em abril e maio deste ano uma mostra seletiva de artefatos, livros e fotos tirados do meu acervo - e com a promessa que não será a última.
P. Quais os motivos dessa doação?
R. Numa palavra: o medo! O medo de que este precioso tesouro pudesse se estragar, caindo vitima de herdeiros , leiloeiros e --- cupins! Foi a minha mulher, Olga, por muitos anos arquivista e bibliotecária na Columbia University, que entendia da urgência em achar um depósito certo. Precisava-se dum grande centro de estudos sobre América Latina com recursos permanentes, um equipe profissional, e um programa de estudos pós-graduados em religião, política e sociedade. Assim, a escolha caiu na Flórida (que era nem onde estudei nem onde lecionava) e assim tanto o meu acervo ganhou uma nova vida como as futuras gerações de jovens pesquisadores fontes preciosas.
P. Como avalia a vida política de Padre Cícero?
R. Diria que o grande momento na vida política de Padre Cícero foi quando ele deu o seu aval irrestrito à campanha de Juazeiro de independência do município do Crato, lá pelos anos de 1908 ate 1911. Atras deste empenho absolutamente consciente da sua parte foi a sua persistente aspiração de localizar em Juazeiro o futuro "Bispado do Cariry", um projeto que em retrospecto coincidiria com o dos Alencar para uma grande província interioriana do Cariry num Brasil independente.
Tanto o Padre José de Alencar Peixoto, oriundo de Crato como o Padre Cícero, como o ambicioso forasteiro baiano, o Doutor Floro Bartholomeu, militaram para avançar o sonho. No caso do Bispado do Cariry nunca teve a menor chance, dada a intransigência de Roma na época para com o Padre Cícero.
Com respeito à "revolução de 1914" e as suas conseqüências, tudo que eu vi nos arquivos que consultei indica que o Padre Cícero nem estava a par das tramas. Costuradas por Doutor Floro, o Coronel Antônio Luiz Alves Pequeno, o então "mandachuva" de Crato, e o Senador Pinheiro Machado, elas se desenvolveram a revelia do padre e, o que pareceu, contra a sua vontade.
P. De um modo geral, como se distingue a mística e a vida secular do sacerdote?
R. Eu diria que eles eram urdidura e textura de um único pano.
Realmente, se você tivesse viajado os sertões no XIX até a metade do último século, você não teria achado um padre católico romano mais ortodoxo que Padre Cícero. A vida espiritual dele foi ancorada na honra dos votos sacerdotais e centrada ao redor de oração e ações prescritas pelo Conselho de Trento, devoções místicas, em honra do Coração Sagrado de Jesus e prometendo para seus devotos a ab-rogação de castigo físico na vida após a morte para os pecados deles.
Como o grande antecessor dele, Padre Mestre Ibiapina, aconselhou os homens e mulheres na eficácia de oração e vivência honesta. Falou de modos que o roceiro mais humilde poderia entender, dispensou os seus bens entre os mais necessitados, assim como os bens dele e propriedades para ordens religiosas para promover educação.
No conflito com Roma, ele buscou ano após ano, a restituição das suas ordens sacerdotais A obstinação dele naquela intuíto, a insistência inicial na veracidade dos milagres, o envolvimento largamente involuntário dele em políticas, e a preferência irrestrita pelo pobre conduziu durante os anos tranformaram-no em um mito. Eu e outros investigadores tentaram fazer um retrato mais verdadeiro para a vida e com tanta recisão quanto as fontes e nossas corcundas permitiriam.
P. Na condição de intelectual, como tem debruçado pelos supostos milagres atribuídos àquela região?
R. A minha paixão intelectual reside em descubrir a maneira em que nós construímos o nosso mundo e tentamos torná-lo mais justo e igualitário, transparente e tolerante. No caso do "milagre de Juazeiro"  enxerguei como um grande e excepcional acontecimento em torno do qual surgiu um movimento social que continua até hoje, evidentemente sob formas diversas, na tentava de entendê-lo. Imagine só: 171 anos depois do nascimento de Padre Cícero e 71 depois de sua morte, ele permanence como um dos maiores personagens do Brasil contemporâneo, um santo e taumaturgo dos humildes da terra, enquanto a cidade que ele "fundou" floreceu precisamente como um porto seguro para todos os refugiados da miséria, injustiça e infortúnio. Em matéria de milagres e história,  tudo isto não é já bastante extraordinário?

Ex-traficante abre jornal no Complexo do Alemão e quer criar biblioteca

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O ex-traficante André Luiz Ramos, morador do Complexo do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro, descobriu um novo caminho na vida quando foi apreendido pela polícia: o jornalismo. Ramos ficou internado no Instituto Padre Severino dos 15 aos 17 anos e lá desenvolveu amor às palavras.

Ele sequer terminou o quarto ano do ensino fundamental, mas no tempo em que ficou detido se dedicou à leitura de matérias e aprendeu a lidar com computadores. Cerca de sete anos depois, Ramos voltou à comunidade, fez um curso de empreendedorismo no próprio morro e se tornou editor-chefe do jornal Plantador Fiel, que circula na região e tem tiragem mensal entre cinco mil a oito mil exemplares.

O jornal foi aberto logo após o término do curso, ocasião em que Ramos, ao expor seu trabalho em uma feira de negócios, ganhou o terceiro lugar com o seu projeto – o jornal - e uma proposta de patrocínio de uma grande empresa de cosméticos.

Hoje, aos 25 anos, Ramos espera que a nova geração do Complexo do Alemão descubra na própria comunidade o que ele aprendeu no período em que esteve recluso: a paixão pela leitura. “Estou planejando criar uma biblioteca na comunidade, mas ainda não tem nada concreto.”

De acordo com o portal R7, a estratégia de distribuição do jornal no Alemão, foi planejada por Ramos. Ele conta com a ajuda dos 600 mototaxistas que circulam pelas vielas do bairro para distribuir os exemplares. Segundo ele, há mais de 500 assinantes do Plantador Fiel dentro da comunidade.

Fonte: Comunique-se

sábado, 24 de setembro de 2011

O aborto tratado pela Literatura e a Filosofia nos dias de hoje (II parte - final)


Como aborto é um assunto polêmico, existe no Brasil duas posturas: ser radicalmente contrário, inclusive baseado na legislação em vigor, ou ficar em cima do muro. Pessoalmente, não concordo com ambas as posições, porque o sentimento de culpa, de se jogar previamente na fogueira do inferno aquelas que optaram pela interrupção da maternidade são problemas até menores do que os que se transformaram em drama de saúde pública. Eis porque o Ministro da Saúde falava em plebiscito. Enquanto que cada vez mais os países do bloco Ocidental discutem o fim do aborto como ação criminosa, a exemplo de Portugal,  e considerando que os dogmas religiosos pouco construíam na edificação da identidade feminina, proponho que o Brasil deva se inserir na idade moderna da plena discussão popular e passe a debater democraticamente a questão. Não é uma nenhuma ideia original, mas uma retomada de um assunto, que fica guardado como o lixo embaixo do tapete.
Talvez esse assunto chegue com ataso e já não ataia tanta atenção quanto no passado. O escândalo levantado pela obra o Segundo Sexo, de Simone de Bouvoir, contudo, não  parece conter um conteúdo distante de  nossas atuais demandas.  Simone mostrava como a mulher se encontrava dividida diante de uma gravidez não desejada. "A situação é ambígua, o peso moral da decisão é paralisante. Para uma mulher a quem o aborto se apresenta como uma solução, a experiência é de angústia. Vêm à tona o paradoxo e a complementaridade entre contingência e liberdade. A contingência é representada por sua condição social, sua classe, sua fé, sua família. A liberdade, pela decisão."
No livro O Segundo Sexo,  mostra como o controle do aborto é o controle da sexualidade da mulher.  Transformado o aborto em crime é uma forma de impor à mulher um sofrimento desumano. Se ela opta pelo aborto, tem de suportar sozinha o peso de ser uma “criminosa”. Se opta por ter um filho que não deseja, carrega a culpa e a carga afetiva negativa dessa relação por toda a vida. A sugestão é que não se esgotem as discussões e que não somente as ricas como as mulheres pobres possam livremente se manifestar. 

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

O aborto tratado pela Literatura e a Filosofia nos dias de hoje (I parte)

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Ao mesmo tempo que a editoria  policial não tem dado notícia para  casos novos envolvendo clínicas de aborto, a Literatura também já não mais enfatiza o mesmo assunto como no passado. É bem verdade que há outros meios contraceptivos e muitos países, onde antes era proibido, legalizaram a prática, inclusive contando com o apoio do Estado. 
O fato é que no Brasil o assunto é sensível e se restringe a uma mão única: ser contra. Caso contrário, há uma grande patrulha social sobre seus defensores. Em 2007, o ministro da Saúde, José Augusto Temporão, foi alvo dessa rejeição, quando propôs um plebiscito para se discutir o aborto. Ele defendia uma participação aberta da sociedade, haja vista que a manutenção da ilegalidade em nada contribuia para a saúde das mulheres, expondo aos riscos das clínicas clandestinas. Houve protestos de quase todos os lados (à exceção de alguns grupos feministas isolados) e a ideia foi abandonada.
Na literatura, a simples discussão do tema até a década de 1940 era considerada um escândalo. Em O Sangue dos Outros (de 1945), Simone de Beauvoir coloca uma de suas personagens diante do dilema. Na trilogia Os Caminhos da Liberdade (1945 a 1949), Sartre faz seu personagem masculino se posicionar diante do mesmo problema: sua namorada está grávida e ele deseja o aborto. No primeiro livro, a Idade da Razão,  Mathieu pede ao seu irmão o dinheiro para o aborto de Marcelle, a justificativa de Jacques para recusar o empréstimo é totalmente montada numa questão individual e livre. Mathieu não leva em consideração o que ela quer.
Em Palmeiras Selvagens, de William Faulkner, é mostrado o drama de um médico, Harry Wilbourne, e sua amante Charlotte Rittenmeyer. Incompetente, desempregado, ele vive algum tempo às custas dela, e acaba por matá-la, ao lhe provocar um aborto. Aqui, a protagonista recusa a maternidade e a ação se desenvolve no ano de 1938.
Na Filosofia, os defensores tiveram como partida a seguinte questão:
"Um feto é uma pessoa.
É errado matar uma pessoa.
Logo, é errado matar um feto"
O desmonte dessas premissas se dava pela desvalorização dos termos dispostos. Se colocava dúvida no fato sobre o que o autor pretendia, ao afirmar que um feto é uma pessoa. Segundo algumas interpretações de "pessoa", pode ser óbvio que um feto seja uma pessoa. Em contrapartida, seria bastante controverso se, no mesmo sentido de "pessoa", matar for sempre algo errado. Segundo outras interpretações, é mais plausível que seja sempre errado matar pessoas, mas totalmente confuso se um feto pode ser entendido como "pessoa."  Num ensaio de filosofia, o termo "pessoa" podia ser dado a qualquer ser vivo e consciente. Aí se incluía as baleias e os golfinhos. Mas essas espécimes não seriam consideradas "pessoas", adotando um senso comum. Quando se falava que o aborto era um assassinato, então lembravam que a morte de John Kennedy também poderia ser considerada como um "aborto".
Depois, alguns pensadores e aí se inclui a própria Simone, tiveram posições mais claras com relação ao assunto.Vamos voltar ao assunto amanhã.

    terça-feira, 13 de setembro de 2011

    Imprensa usa dois pesos e duas medidas para abordar o terrorismo

    A imprensa foi colocada em cheque, ontem, na abordagem dada ao terrorismo. A atual presidente da Frente Parlamentar Brasil-Cuba, Vanessa Grazziotin afirmou que os cubanos Gerardo Hernández, René González, Ramón Labañino, Antonio Guerrero e Fernando Gonzáles foram presos injustamente em 12 de setembro de 1998 durante o governo Bill Clinton.
     De acordo com a senadora, "Os Cinco", como passaram a ser conhecidos, foram presos nos EUA depois de investigar e denunciar atentados contra Cuba arquitetados por grupos anticastristas sediados em Miami.

    Vanessa Grazziotin informou que existe um movimento internacional pela libertação dos cubanos. Segundo ela, dez ganhadores do Prêmio Nobel já se somaram aos pedidos de soltura dos Cinco, além da Anistia Internacional e parlamentos de diversas nações.
     A senadora pediu o apoio dos parlamentares, da população e do governo brasileiros em prol do movimento de libertação, que ela chamou de causa humanitária. Grazziotin também se solidarizou com a população americana pela passagem dos dez anos do atentado ao World Trade Center, em Nova York. Entretanto, ela afirmou que
    os Estados Unidos já cometeram, nas últimas décadas, diversos atos que também podem ser considerados terroristas.
     
    O pronunciamento aconteceu um dia depois da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) realizarem a palestra Terrorismo e Novas Mídias, apresentada pelo professor de Comunicação da Universidade de Haifa, Israel, Gabriel Weimann.
    Weimann defende que as redes sociais são usadas largamente para recrutar e treinar novos membros para as ações terroristas, por meio de campanhas de marketing digital específico. Se o alvo é selecionar crianças, são usados recursos lúdicos para atraí-las. 
    O professor monitora 5,8 mil sites de militantes de movimentos terroristas e é autor de diversas publicações voltadas para esse segmento, como o livro Terror on the internet: the new Arena, the new challenges (ainda sem tradução para o português). 
    Para o senador Cristovam Buarque (PDT-DF)  existem "formas diferentes de terrorismo", embora a imprensa tenha criado o estigma de que o terrorismo tem que ser de origem mulçulmana e árabe.  Ele lembrou a queda de um avião com um delegação de atletas cubanos em meados da década de 70 por terroristas venezuelanos, que hoje se encontram em liberdade nos Estados Unidos. Na ocasião morreram cerca de 70 pessoas. "Não importam se morre um ou mais. O terrorismo tem que ser condenado de todas as formas", afirmou.

    segunda-feira, 15 de agosto de 2011

    Com ou sem Maria, vá de Coca Cola

    Belém, Lisboa by marcus peixoto
    Belém, Lisboa, a photo by marcus peixoto on Flickr.
    1950, 15 de agosto. Nada de celebração de Nossa Senhora da Assunção. Nada de Caminhada com Maria ou muito menos festa de Iemanja. O destaque da imprensa cearense naquele dia era a inauguração da primeira fábrica em Fortaleza da Coca Cola.
    Em anúncio de meia página, o Jornal O Povo dá conta que a nova fábrica funcionará na Rua Monsenhor Tabosa, 1054 por iniciativa da Fortaleza Refrigerantes S/A.
    Não que antes a bebida já não fosse uma febre no Ceará. Acredita-se que tenha chegado com os norte-americanos aquartelados no Pici, durante a II Guerra Mundial, sendo importada dos Estados Unidos.
    Em seguida, viria o Grapeti, para somente em 4 de janeiro de 1957 chegasse ao paladar o gosto alaranjado do Crush,engarrafado por F. Sanford & Cia. Para matar a sede dos cearenses, a disputa de mercado era celebrada como ação de desenvolvimento regional.

    quarta-feira, 10 de agosto de 2011

    Presídio promove socialização abrindo suas muralhas para a arte


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    Foto: Viviane Pinheiro


    Os mais diversos tipos de cossocos, cartas artesanais de baralho e até uma balança de precisão para drogas, feita com copinhos de iorgutes. Esses engenhos foram apreendidos em casas de detenção do Ceará e passaram a ser uma espécie de acervo da "criatividade" dos internos, guardados na sede da Sejus. No entanto, cada vez mais os presídios abrem suas muralhas para o trabalho e a arte, no esforço de combater a ociosidade, gerar renda e promover a socialização.
    Das 514 internas do Instituto Penal Feminino Desembargadora Auri Moura Costa (IPF), 185 estão hoje se beneficiando de atividades de geração de renda. Boa parte dessas mulheres atua na indústria da moda, por meio da parceria entre a Secretaria de Justiça e Cidadania do Estado do Ceará (Sejus) e indústrias de Confecção Famel (proprietária das grifes Famel e Dona Florinda) e Pena. 
    As ações produtivas resultam na redução das penas e, especialmente, na ressocialização das mulheres já julgadas por crimes. Além das indústrias, boa parte das internas se integra em atividades como o artesanato, padaria e serviços de manutenção do presídio. Pelo fato de não possuírem familiares, se dá prioridade a estrangeiras presas por envolvimento com o narcotráfico.
    Afora as indústrias de confecções, outra atividade concorrida pelas presidiárias são as oficinas de artesanato, coordenadas por Maria Eunice Bezerra, a tia Nenen. Ela ministra aulas de crochê, fuxico (técnica que aproveita restos de tecido para criar e customizar roupas, acessórios e objetos domésticos), bordado, pintura, petwork e macramê.
    Outra boa notícia chega  da Penitenciária Dênio Moreira de Carvalo (PDMC), em Ipaba, município de Minas Gerais, O informe Comunique-se dá conta que "o brasileiro Juarez da Silva Goulart ganhou destaque em sites e blogs durante a semana passada, mas a repercussão de seu nome não está relacionada com a geologia, área de sua formação, nem pelas experiências de morar no exterior – viveu na França e nos Estados Unidos". O motivo de ele aparecer na mídia é o trabalho de editor que realiza como interno. 
    Segundo a publicação, Silva Goulart cumpre pena em regime fechado na prisão do interior mineiro, informa o site do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) – que não divulga os crimes pelos quais o geólogo foi acusado e nem o período da pena que ele cumprirá. Longe de sua profissão, o detento trabalha da biblioteca da unidade carcerária e comanda o jornal “Inclusão”, publicação que teve sua terceira edição lançada no final do mês passado.

    Com o objetivo de ressocializar detentos, o jornal é produzido integralmente por pessoas que cumprem pena no PDMC e pelos próprios funcionários do local. Além do editor Silva Goulart, o veículo de comunicação tem todas as reportagens e notas feitas pelos presidiários e agentes; as imagens são de responsabilidade de um dos administradores penitenciários. Na última edição, o “Inclusão” teve tiragem de 1.200 exemplares. 

    Patrocinado pela indústria Celulose Nipo-Brasileira (Cenibra), o jornal também conta com o apoio do diretor da penitenciária de Ipaba, Adão dos Anjos, que publicou um artigo na última edição. “Meu pai cometeu alguns erros”, disse ao ser questionado pela Agência CNJ sobre a sua relação de colaboração com o jornal editado por Silva Goulart.
    Engenhos apreendidos no IPPS. Foto: Marcus Peixoto




    quarta-feira, 18 de maio de 2011

    Livro sobre ensino de História da África será lançado no MAUC

    O Departamento de História e a Coordenadoria de Comunicação Social e Marketing Institucional da Universidade Federal do Ceará lançam no Museu de Arte da UFC (MAUC), às 18h30 do dia 23 de maio, o livro “África, Brasil, Portugal – História e Ensino de História”. Os organizadores da publicação são os professores Eurípedes Funes, Francisco Régis Lopes, Franck Ribard e Kênia Sousa Rios, todos vinculados àquele Departamento.

    A obra, que leva o selo das Edições UFC e reúne artigos de pesquisadores cearenses, africanos e portugueses, é fruto do III Festival UFC de Cultura, realizado em outubro do ano passado sob o tema “Ceará, África, Lusofonia: encontros e diálogos além mar”. O objetivo dos autores é divulgar o livro junto às instituições de ensino, secretarias de educação e instituições afins, para diminuir a carência por materiais didáticos sobre a temática afro-brasileira, cuja inclusão no currículo da Educação Básica é exigida pela Lei nº 10.639/2003.

    O Departamento de História da UFC já vem, há quase 10 anos, desenvolvendo projetos para ampliar o debate sobre história e cultura africana, especialmente no contexto da formação de educadores. Um deles é o Curso de Aperfeiçoamento em História da África, que iniciou uma nova turma no dia 16 de maio. Destina-se a professores da rede pública e educadores de movimentos sociais e organizações não-governamentais. 

    Fontes: Professores Régis Lopes, Franck Ribard e Kênia Rios, do Departamento de História - (fone: 85 9121 9261 / 8892 2121 / 8698 0495)