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quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Festival Canoa Blues traz grandes nomes em sua quarta edição

Fortaleza não é mais a única fomentadora de eventos culturais de grande porte no Ceará. De uns anos para cá, cidades litorâneas e do sertão cearenses viraram palco de eventos culturais e de entretenimento, tornando-se pólos importantes de geração de renda e disseminação de informações, agregando oportunidades à população local e aos turistas.

Canoa Quebrada, localizada a 150 quilômetros de Fortaleza, é considerada um dos principais destinos turísticos do Estado. Eventos como Férias no Ceará, Etapa Kit Surfe, Curta Canoa e Réveillon da Paz já tiveram passagem pela praia. Dentre os diversos festivais sediados em Canoa, está o Canoa Blues, evento reconhecido nacionalmente e que integra o Calendário Oficial de Eventos do Estado do Ceará, chega a sua quarta edição.

Canoa Blues
Este ano, sete atrações, entre músicos locais, nacionais e internacionais, subirão ao palco do Pólo de Lazer, na praça principal de Canoa Quebrada.

Atrações internacionais
Os norte-americanos Peter “Madcat” Ruth e Tia Carroll pisam em solo cearense para apresentar seu som e suas influências, justificando o status de grandes nomes do blues. Peter “Madcat” tem quase 50 anos de carreira e tocou ao lado de grandes lendas do jazz e do blues, como Gerry Mulligan, Paul Desmond e Dave Brubeck. Atualmente, além de seu trabalho solo, Madcat forma, com a guitarrista Shari Kane, o duo Madcat & Kane e, com Chris Brubeck e o guitarrista Joel Brown, o trio Triple Play. O artista tem realizado turnês sistemáticas no Brasil, acompanhando pelo guitarrista carioca Big Joe Manfra. Em 2005, apresentou-se em Fortaleza.

Tia Carroll é comparada a Koko Taylor, Tina Turner e Aretha Franklin, seja pela potência de sua voz ou pela desenvoltura no palco. Nascida em Richmond, na Califórnia, Tia começou a cantar na igreja. Nos anos 1970, fez backing vocal para Jimmy McCracklin e Sugar Pie DeSanto. Os críticos apontam Sam Cooke e Stevie Wonder como influências em sua carreira. A cantora já lançou três discos: “Wanna Ride”, “Tia Carroll” e, o mais recente, “Soul Survivor”.

Atrações nacionais
Os representantes brasileiros enriquecem o Festival Canoa Blues através de sua diversidade sonora, com representantes vindo do Rio Grande do Norte e Paraná. O guitarrista Gustavo Cocentino vem se destacando no cenário do blues do Nordeste por meio de parcerias com nomes como Nuno Mindelis e Flávio Guimarães, dois dos mais respeitados músicos brasileiros do gênero. Também produtor, é hoje a principal referência do blues potiguar.

Criada no início dos anos 90, a banda Mister Jack gravou seu primeiro disco (“Blues!”) em 1994, colocando Curitiba no circuito nacional do ritmo. Em 2001, o grupo realizou duas grandes apresentações no Ceará, ganhando evidência nos estados do Nordeste e abrindo novas fronteiras. No ano de 2002, o reconhecimento chegou através do convite para participar do Natu Nobilis Blues Festival, que reuniu as melhores bandas brasileiras e recebeu figuras consagradas do blues internacional. Em 2008, os músicos resolveram fazer um recesso para realizar individualmente novas experiências musicais. Mister Jack é formada por Benê Jr. (harmônica), Marcelo Ricciardi (guitarra), Paulo Krefta (baixo) e Edu Kardeal (bateria).

Outro músico nacional que chega para apresentar sua música é Igor Prado, acompanhado da Prado Blues Band. O bluesman paulistano é considerado uma das grandes revelações do blues nacional dos últimos anos e passeia com prestígio por Estados Unidos e Europa. Com seu CD solo “Upside Down”, foi o único sul-americano incluído nas listas de 100 melhores de 2007 das revistas internacionais Real Blues e Blues Matters. O guitarrista já levou seu som para Argentina, México, Espanha, Itália, França, Alemanha, Bélgica, Dinamarca, Suiça e Estados Unidos. A Prado Blues Band é formada ainda por Yuri Prado (bateria), Rodrigo Mantovani (contrabaixo acústico) e Denilson Martins (saxofone).

Atrações locais
O som do Ceará também se faz presente no Canoa Blues através dos representantes Arthur Menezes e Rafael Balboa. O primeiro lançou-se na cena local como integrante da banda Blues Label. O guitarrista tem Stevie Ray Vaughan, Albert King e Albert Collins como influências. Seu primeiro CD, “Early To Marry”, lançado pela BluesTime Records, ganhou projeção nacional. Hoje, após temporadas em Chicago (EUA), bebendo numa das mais representativas fontes do blues, Arthur transita pelos palcos de São Paulo e Fortaleza.

O guitarrista Rafael “Balboa” Vasconcelos começou a despontar no cenário musical cearense a partir de sua participação na Killer Queen, projeto de tributo ao Queen, que contava com diversos outros músicos conhecidos e respeitados no meio. Sua passagem anterior por diversas bandas e estilos contribuiu para que desenvolvesse uma maneira própria de tocar. Em 2010, criou o Block, trio de blues e rock clássico, onde assumiu também os vocais. Com a experiência, passou a compor blues.

Reponsabilidade social
Além da programação musical, o Canoa Blues realiza ações de responsabilidade social.  De 17 a 21 de outubro, jovens assistidos pela Fundação Raimundo Fagner, em Fortaleza, participarão do Curso de Introdução à Harmônica Blues com os gaitistas e arte-educadores Rodrigo Bezerra e Di Lennon Ribeiro.

Também haverá o Curso de Prática Circense em Tecido na ONG Canoa Criança, ministrado nos dias 7 e 8 de outubro pela professora Juliana Longuinho (RJ). Todas as aulas serão gratuitas e os alunos receberão, também sem ônus, camiseta específica do evento didático e apostila. O Canoa Blues ainda será ponto de arrecadação de livros de gêneros diversos para composição do acervo das bibliotecas mantidas pela Associação dos Empreendedores de Canoa Quebrada e da Associação Canoa Criança.
Fonte: Assessoria de imprensa

Peter Madcat


segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Ralph Della Cava recebe título de Doutor Honoris Causa pela UFC

Ralph Della Cava em sua última visita ao Ceará, durante a III Conferência Internacional sobre o Padre Cícero
O historiador norte-americano Ralph Della Cava, um dos maiores pesquisadores sobre a vida do Padre Cícero Romão Batista (1844 – 1934), receberá o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal do Ceará na próxima sexta-feira (30), às 19h, no auditório do Campus da UFC no Cariri, em Juazeiro do Norte. O evento é aberto ao público e contará com a presença do homenageado e do Reitor Jesualdo Farias, autor da proposta do título para Della Cava, cuja aprovação se deu, de forma unânime, em junho deste ano, pelo Conselho Universitário. Na ocasião, será distribuído O livro “Onze vezes Joaseiro”, que reúne ensaios sobre a cidade de Juazeiro do Norte. Della Cava viveu 14 meses entre Fortaleza, Juazeiro, Rio de Janeiro e outros lugares do País, estudando um tema que sempre foi cercado de polêmica: a vida de Padre Cícero. Em meados de 1964, na Biblioteca Municipal de Fortaleza, o pesquisador iniciou os estudos,  que culminaria no livro “Miracle at Joaseiro” (Milagre em Juazeiro), publicado em 1976, pela Editora Paz & Terra, obra considerada uma das mais aprofundadas sobre o tema. Todo o acervo pesquisado acabou sendo doado em vida pelo autor para uma universidade norte-americana e chegou até ser aplaudido por isso por intelectuais locais.
Em setembro de 2005,  entrevistei Della Cava  para a Revista Plenário, publicada pela Assembleia Legislativa. A matéria tratatava sobre os esforços do bispo do Crato, dom Panico, pela reabilitação de padre Cícero.

Entrevista
"Cento e setenta e um anos depois do nascimento de Padre Cícero e 71 depois de sua morte, ele permanence como um dos maiores personagens do Brasil contemporâneo, um santo e taumaturgo dos humildes da terra". A afirmação é do historiador norte-americano Ralph Della Cava, 70 anos, que doou o material de seus estudos sobre o Padre Cícero à Biblioteca Latino-Americana da Universidade da Flórida, nos Estados Unidos. Ele começou a estudar a vida e a obra do fundador de Juazeiro do Norte na década de 1970. Ao longo de quatro décadas, foi acumulando livros, cordéis, fotografias, xilogravuras, documentos e cerãmicas num trabalho apaixonado pela mística de quem considera como o que há de mais extraordináriuo em matéria de milagres e história. Os motivos da doação, anunciada em abril deste ano, foram relatadas como um sentimento de medo. Ou seja, que este precioso tesouro pudesse se estragar, caindo vitima de herdeiros , leiloeiros e cupins, além, é claro, da pressão de sua mulher, Olga, bibliotecária, que o ultimava para que desse um destino ao acervo ainda em vida. Della Cava é professor emérito de história de Queens College da City University of New York e atualmente é Pesquisador Senior Associado do Instituto de Estudos Latinoamericanos (ILAS) da Columbia University na Cidade de New York.
Pergunta: Como o senhor vê, hoje, os movimentos da Igreja Católica para a reabilitação do Padre Cícero?
Resposta. Esses movimentos existem há muito tempo e os resultados são bastantes complexos e incertos. Houve esforços inumeráveis para retificar o estado de Padre Cícero como um padre de posição regular a partir do século XIX. Na realidade, logo após a ocorrência dos primeiros milagres alegados. Não obstante, todos os tais esforços foram malsucedidos. O que é sem igual trata-se da iniciativa presente, originada da Diocese de Crato, ao perceber as muitas sanções contra o pároco de Juazeiro, da mesma maneira, como as elites do Crato e os líderes posteriores denegriram freqüentemente sua imagem dentro um espectro desesperado, e também fracassando a tentativa para evitar o próprio declínio político e econômico desses segmentos. Mas, com respeito ao movimento atual, temos que perguntar qual é seu objetivo preciso. Seria reabilitar Padre Cícero com relação a essas sanções ou é, como o Bispo atual de Crato insistiu repetidamente, reconciliar " a igreja com os dois milhões de romeiros que vão a cada ano a Juazeiro, além de milhares de devotos existentes por todo o Nordeste, bem como os seus descendentes, que ajudaram fazer o município o segundo mais próspero no estado de Ceará?" Como bispo, Dom Fernando Panico, tem pela primeira vez na história da diocese uma iniciativa pública de antagonismo aos antecessores no que diz respeito a Juazeiro e seu romeiros. Incitando a reabilitação, como é a visão de Dom Fernando - como o perito pastoral que ele é - de como melhor a Igreja poderia servir às necessidades espirituais e materiais destes crentes. À  esse fim, desfruta o endosso da Conferência Nacional de Bispos de Brasil (CNBB) e, como foi informado na imprensa, do Papa Benedito XVI, por ocasião em que foi Perfeito da Congregação para a Doutrina da Fé. Os romeiros sentirão de perto a diferença de um padre Cícero restabelecido por Roma dos sentimentos que eles têm agora, como o padre de longo-sofrimento, proclamado como santo e intercessor de milagre há muito tempo - apesar da Igreja? Essa é, pelo menos, a pergunta interessante disposta por meu colega o Gilmar de  Carvalho. Mas, aqui também, só o tempo contará.
P. Em algum momento, em suas pesquisas, houve a descoberta de uma espiritualidade de fato singular que explicaria o fenômeno da reverência e da romaria convergindo para Juazeiro do Norte?
R. O fervor religioso origina-se da predominância de condições sociológica para a sua elevação extraordinariamente rápida em Juazeiro em população e influência econômica dentro de dez anos dos milagres alegados de 1888-1889. As romarias foram incitadas no princípio pelos " fatos extraordinários de Juazeiro " – relacionados à Beata Maria de Araújo, dando conta de a hóstia em sua boca foi transformada em sangue, imediatamente proclamado pelo clero para ser isso de Jesus Cristo. Então, com as grandes secas de 1888 e 1915, os romeiros eram indistinguíveis de retirantes na procura deles por um porto seguro, no qual eles acharam a fertilidade nos campos do Cariri. Durante as primeiras três ou quatro décadas do último século, milhares de migrantes procuraram Juazeiro - em um dos grandes movimentos demográficos internos da história brasileira moderna, o que se constitui num daqueles restos de silêncio a serem estudados.
P. Na sua pesquisa, o que foi considerado como a grande contribuição de Padre Cícero?
R. O serviço abnegado dele para os outros! Para os romeiros - que tornou Juazeiro possível - ofereceu isso que nenhum dos coronéis locais, fazendeiros e políticos não puderam, afirmando que se trabalhasse com dignidade, com deliberação sábia e a esperança duradoura de uma vida melhor, aqui e no futuro.
P. Tem-se afirmado que Padre Cícero ainda é muito pouco estudado. Que expectativa tem com o recente fato de ter doado seu acervo para a Biblioteca Latino-Americana da Flórida? Amplia-se a possibilidade ser melhor conhecido e difundido?
R. Não é que o Padre Cícero seja "pouco estudado," mas - como todo sujeito histórico em torno do qual continua a surgir tanta controvérsia - será sempre estudado. O momento atual não pode ser mais propício: muitos novos documentos, todos inéditos, apareceram, como o foi anunciado o ano passado durante o III Simposio Internacional sobre o Padre Cícero realizado em Juazeiro. Também porque vários arquivos antes inacessíveis ou não publicados - como os de Gilmar de Carvalho e Renato Casimiro, dois estudiosos do mais alto gabarito - estão hoje a disposição dos pesquisadores. Quanto à doação do meu arquivo sobre o Padre Cícero, ser facilmente acessivel a todos e permanecer bem e profissionalmente cuidado eram as condições que a Universidade de Florida em Gainesville (Estado de Flórida, EUA) se comprometeu de respeitar. E já cumpriu em parte: restaurou o microfilme dos arquivos do Colégio Salesiano de Juazeiro e da Diocese do Crato que eu filmei, chapa por chapa, em 1964; dele já fez uma cópia positiva (de mil sete centos pés de comprimento) a ser doada ao acervo da Universidade Regional do Carirí; colocou uns primeiros títulos e fotos no site da Biblioteca Latinoamericana (http://web.uflib.ufl.edu/lac/Brasiliana.html); e organizou em abril e maio deste ano uma mostra seletiva de artefatos, livros e fotos tirados do meu acervo - e com a promessa que não será a última.
P. Quais os motivos dessa doação?
R. Numa palavra: o medo! O medo de que este precioso tesouro pudesse se estragar, caindo vitima de herdeiros , leiloeiros e --- cupins! Foi a minha mulher, Olga, por muitos anos arquivista e bibliotecária na Columbia University, que entendia da urgência em achar um depósito certo. Precisava-se dum grande centro de estudos sobre América Latina com recursos permanentes, um equipe profissional, e um programa de estudos pós-graduados em religião, política e sociedade. Assim, a escolha caiu na Flórida (que era nem onde estudei nem onde lecionava) e assim tanto o meu acervo ganhou uma nova vida como as futuras gerações de jovens pesquisadores fontes preciosas.
P. Como avalia a vida política de Padre Cícero?
R. Diria que o grande momento na vida política de Padre Cícero foi quando ele deu o seu aval irrestrito à campanha de Juazeiro de independência do município do Crato, lá pelos anos de 1908 ate 1911. Atras deste empenho absolutamente consciente da sua parte foi a sua persistente aspiração de localizar em Juazeiro o futuro "Bispado do Cariry", um projeto que em retrospecto coincidiria com o dos Alencar para uma grande província interioriana do Cariry num Brasil independente.
Tanto o Padre José de Alencar Peixoto, oriundo de Crato como o Padre Cícero, como o ambicioso forasteiro baiano, o Doutor Floro Bartholomeu, militaram para avançar o sonho. No caso do Bispado do Cariry nunca teve a menor chance, dada a intransigência de Roma na época para com o Padre Cícero.
Com respeito à "revolução de 1914" e as suas conseqüências, tudo que eu vi nos arquivos que consultei indica que o Padre Cícero nem estava a par das tramas. Costuradas por Doutor Floro, o Coronel Antônio Luiz Alves Pequeno, o então "mandachuva" de Crato, e o Senador Pinheiro Machado, elas se desenvolveram a revelia do padre e, o que pareceu, contra a sua vontade.
P. De um modo geral, como se distingue a mística e a vida secular do sacerdote?
R. Eu diria que eles eram urdidura e textura de um único pano.
Realmente, se você tivesse viajado os sertões no XIX até a metade do último século, você não teria achado um padre católico romano mais ortodoxo que Padre Cícero. A vida espiritual dele foi ancorada na honra dos votos sacerdotais e centrada ao redor de oração e ações prescritas pelo Conselho de Trento, devoções místicas, em honra do Coração Sagrado de Jesus e prometendo para seus devotos a ab-rogação de castigo físico na vida após a morte para os pecados deles.
Como o grande antecessor dele, Padre Mestre Ibiapina, aconselhou os homens e mulheres na eficácia de oração e vivência honesta. Falou de modos que o roceiro mais humilde poderia entender, dispensou os seus bens entre os mais necessitados, assim como os bens dele e propriedades para ordens religiosas para promover educação.
No conflito com Roma, ele buscou ano após ano, a restituição das suas ordens sacerdotais A obstinação dele naquela intuíto, a insistência inicial na veracidade dos milagres, o envolvimento largamente involuntário dele em políticas, e a preferência irrestrita pelo pobre conduziu durante os anos tranformaram-no em um mito. Eu e outros investigadores tentaram fazer um retrato mais verdadeiro para a vida e com tanta recisão quanto as fontes e nossas corcundas permitiriam.
P. Na condição de intelectual, como tem debruçado pelos supostos milagres atribuídos àquela região?
R. A minha paixão intelectual reside em descubrir a maneira em que nós construímos o nosso mundo e tentamos torná-lo mais justo e igualitário, transparente e tolerante. No caso do "milagre de Juazeiro"  enxerguei como um grande e excepcional acontecimento em torno do qual surgiu um movimento social que continua até hoje, evidentemente sob formas diversas, na tentava de entendê-lo. Imagine só: 171 anos depois do nascimento de Padre Cícero e 71 depois de sua morte, ele permanence como um dos maiores personagens do Brasil contemporâneo, um santo e taumaturgo dos humildes da terra, enquanto a cidade que ele "fundou" floreceu precisamente como um porto seguro para todos os refugiados da miséria, injustiça e infortúnio. Em matéria de milagres e história,  tudo isto não é já bastante extraordinário?

Ex-traficante abre jornal no Complexo do Alemão e quer criar biblioteca

Complexo do Alemão.JPG
O ex-traficante André Luiz Ramos, morador do Complexo do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro, descobriu um novo caminho na vida quando foi apreendido pela polícia: o jornalismo. Ramos ficou internado no Instituto Padre Severino dos 15 aos 17 anos e lá desenvolveu amor às palavras.

Ele sequer terminou o quarto ano do ensino fundamental, mas no tempo em que ficou detido se dedicou à leitura de matérias e aprendeu a lidar com computadores. Cerca de sete anos depois, Ramos voltou à comunidade, fez um curso de empreendedorismo no próprio morro e se tornou editor-chefe do jornal Plantador Fiel, que circula na região e tem tiragem mensal entre cinco mil a oito mil exemplares.

O jornal foi aberto logo após o término do curso, ocasião em que Ramos, ao expor seu trabalho em uma feira de negócios, ganhou o terceiro lugar com o seu projeto – o jornal - e uma proposta de patrocínio de uma grande empresa de cosméticos.

Hoje, aos 25 anos, Ramos espera que a nova geração do Complexo do Alemão descubra na própria comunidade o que ele aprendeu no período em que esteve recluso: a paixão pela leitura. “Estou planejando criar uma biblioteca na comunidade, mas ainda não tem nada concreto.”

De acordo com o portal R7, a estratégia de distribuição do jornal no Alemão, foi planejada por Ramos. Ele conta com a ajuda dos 600 mototaxistas que circulam pelas vielas do bairro para distribuir os exemplares. Segundo ele, há mais de 500 assinantes do Plantador Fiel dentro da comunidade.

Fonte: Comunique-se

domingo, 25 de setembro de 2011

Romaria é ainda o lugar onde o católico se sente acolhido pela igreja



Ex votos no Santuário de São Francisco (Canindé). Foto: Marcus Peixoto


Na abertura, ontem,  dos festejos alusivos ao padroeiro de Canindé, São Francisco das Chagas, uma das manifestações que emociona os devotos do santo, são as caminhadas. Por mais uma vez testemunhei esse momento de fervor religioso e, particularmente, um dos raros instantes em que o católico ainda se sente acolhido. Por isso, não é surpresa o crescimento das igrejas evangélicas, a compra de pacotes de horários nas televisões pela madrugada para programas de religiões cristãs e não católicas...
Além de Canindé,  podemos também somar as romarias de Padre Cícero em Juazeiro do Norte. Em ambos os centros, há ainda os penintentes, aqueles que depositam os ex votos e  pagam promessas anuais, com o princípio de quanto maior for a dificuldade maior é a gratidão que se obterá ao santo milagroso, abaixo de Deus. 
Dentre essas penintências e pagamento de promessas, destacam os caminhantes. Em Canindé, com a inauguração do santuário surgiram na Paróquia as caminhadas, sendo que muitas delas, ainda de forma acanhada, onde apenas as famíias se reuniam para vir a Canindé pagar suas promessas e depois no mesmo ritual retornar para as suas casas.
Com o passar do tempo, as comunidades foram se organizando e através das emissoras de rádio anunciavam para as mais distantes o local, a hora e o trajeto que deveria seguir até Canindé. Isso, não importava o sacrifício, o importante era chegar em paz na igreja e cumprir a sua missão com o santo.
Em 1986, sentindo o crescimento da romaria o vigário da época, frei Lucas Dolle, deu poderes aos coordenadores de pstorais para motivar e organizar a romaria a pé, que chegava impressionar pelo grande número de peregrinos a caminho da terra dos milagres.
No período de 1996 com a participação de Frei Humberto Wasllachg surgiram os Conselhos dos Serviços fraternos da sede e da zona rural, ondce cada representante junto à coordenação paroquial começou a preparar um plano de organização para as caminhadas de abertura para a festa de São Francisco.
Este ano, as caminhadas comemoram 23 anos de organização em busca da fé e da cura no santuário. Serão cinco caminhos de acesso para chegar a Canindé nos próximos nove dias.

sábado, 24 de setembro de 2011

O aborto tratado pela Literatura e a Filosofia nos dias de hoje (II parte - final)


Como aborto é um assunto polêmico, existe no Brasil duas posturas: ser radicalmente contrário, inclusive baseado na legislação em vigor, ou ficar em cima do muro. Pessoalmente, não concordo com ambas as posições, porque o sentimento de culpa, de se jogar previamente na fogueira do inferno aquelas que optaram pela interrupção da maternidade são problemas até menores do que os que se transformaram em drama de saúde pública. Eis porque o Ministro da Saúde falava em plebiscito. Enquanto que cada vez mais os países do bloco Ocidental discutem o fim do aborto como ação criminosa, a exemplo de Portugal,  e considerando que os dogmas religiosos pouco construíam na edificação da identidade feminina, proponho que o Brasil deva se inserir na idade moderna da plena discussão popular e passe a debater democraticamente a questão. Não é uma nenhuma ideia original, mas uma retomada de um assunto, que fica guardado como o lixo embaixo do tapete.
Talvez esse assunto chegue com ataso e já não ataia tanta atenção quanto no passado. O escândalo levantado pela obra o Segundo Sexo, de Simone de Bouvoir, contudo, não  parece conter um conteúdo distante de  nossas atuais demandas.  Simone mostrava como a mulher se encontrava dividida diante de uma gravidez não desejada. "A situação é ambígua, o peso moral da decisão é paralisante. Para uma mulher a quem o aborto se apresenta como uma solução, a experiência é de angústia. Vêm à tona o paradoxo e a complementaridade entre contingência e liberdade. A contingência é representada por sua condição social, sua classe, sua fé, sua família. A liberdade, pela decisão."
No livro O Segundo Sexo,  mostra como o controle do aborto é o controle da sexualidade da mulher.  Transformado o aborto em crime é uma forma de impor à mulher um sofrimento desumano. Se ela opta pelo aborto, tem de suportar sozinha o peso de ser uma “criminosa”. Se opta por ter um filho que não deseja, carrega a culpa e a carga afetiva negativa dessa relação por toda a vida. A sugestão é que não se esgotem as discussões e que não somente as ricas como as mulheres pobres possam livremente se manifestar. 

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

O aborto tratado pela Literatura e a Filosofia nos dias de hoje (I parte)

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Ao mesmo tempo que a editoria  policial não tem dado notícia para  casos novos envolvendo clínicas de aborto, a Literatura também já não mais enfatiza o mesmo assunto como no passado. É bem verdade que há outros meios contraceptivos e muitos países, onde antes era proibido, legalizaram a prática, inclusive contando com o apoio do Estado. 
O fato é que no Brasil o assunto é sensível e se restringe a uma mão única: ser contra. Caso contrário, há uma grande patrulha social sobre seus defensores. Em 2007, o ministro da Saúde, José Augusto Temporão, foi alvo dessa rejeição, quando propôs um plebiscito para se discutir o aborto. Ele defendia uma participação aberta da sociedade, haja vista que a manutenção da ilegalidade em nada contribuia para a saúde das mulheres, expondo aos riscos das clínicas clandestinas. Houve protestos de quase todos os lados (à exceção de alguns grupos feministas isolados) e a ideia foi abandonada.
Na literatura, a simples discussão do tema até a década de 1940 era considerada um escândalo. Em O Sangue dos Outros (de 1945), Simone de Beauvoir coloca uma de suas personagens diante do dilema. Na trilogia Os Caminhos da Liberdade (1945 a 1949), Sartre faz seu personagem masculino se posicionar diante do mesmo problema: sua namorada está grávida e ele deseja o aborto. No primeiro livro, a Idade da Razão,  Mathieu pede ao seu irmão o dinheiro para o aborto de Marcelle, a justificativa de Jacques para recusar o empréstimo é totalmente montada numa questão individual e livre. Mathieu não leva em consideração o que ela quer.
Em Palmeiras Selvagens, de William Faulkner, é mostrado o drama de um médico, Harry Wilbourne, e sua amante Charlotte Rittenmeyer. Incompetente, desempregado, ele vive algum tempo às custas dela, e acaba por matá-la, ao lhe provocar um aborto. Aqui, a protagonista recusa a maternidade e a ação se desenvolve no ano de 1938.
Na Filosofia, os defensores tiveram como partida a seguinte questão:
"Um feto é uma pessoa.
É errado matar uma pessoa.
Logo, é errado matar um feto"
O desmonte dessas premissas se dava pela desvalorização dos termos dispostos. Se colocava dúvida no fato sobre o que o autor pretendia, ao afirmar que um feto é uma pessoa. Segundo algumas interpretações de "pessoa", pode ser óbvio que um feto seja uma pessoa. Em contrapartida, seria bastante controverso se, no mesmo sentido de "pessoa", matar for sempre algo errado. Segundo outras interpretações, é mais plausível que seja sempre errado matar pessoas, mas totalmente confuso se um feto pode ser entendido como "pessoa."  Num ensaio de filosofia, o termo "pessoa" podia ser dado a qualquer ser vivo e consciente. Aí se incluía as baleias e os golfinhos. Mas essas espécimes não seriam consideradas "pessoas", adotando um senso comum. Quando se falava que o aborto era um assassinato, então lembravam que a morte de John Kennedy também poderia ser considerada como um "aborto".
Depois, alguns pensadores e aí se inclui a própria Simone, tiveram posições mais claras com relação ao assunto.Vamos voltar ao assunto amanhã.

    Exposição "Memórias e Histórias nos Caminhos de Ferro" será aberta hoje

    A ferrovia e as pessoas que nela trabalham ou trabalharam têm sido tema recorrente de inspiração de pesquisas acadêmicas, livros, longas e curtas vídeo- documentários produzidos no Ceará nos últimos anos. Também a partir do séc. XIX a história socioeconômica do Ceará se confunde com a história da implantação da ferrovia, e tão vastos quanto os trilhos são os temas a eles relacionados, considerando o elemento humano como intercessor fundamental. Assim, a ferrovia possibilita leituras multifacetadas, além de fortalecer a história corporativa. Assim a ferrovia foi e é, sobretudo, local de trabalho, de sociabilidade e de histórias de vida.    Foi neste sentido que o Crea-CE teve a ideia de realizar a exposição fotográfica "Memórias e Histórias nos Caminhos de Ferro do Ceará", que será aberta às 19h30min de hoje, no Centro Cultural do Crea-CE, que funciona na cobertura da sede da autarquia, na Rua Castro e Silva, 81, Centro.
        A exposição tem a assessoria cultural do Crea-CE de Silvana Figueirêdo e a curadoria de José Hamilton Pereira (engenheiro aposentado pela RFFSA, membro da direção da Associação dos Engenheiros da Rede Viação Cearense - AERVC e diretor do Museu do Trem) e Túlio de Souza Muniz (jornalista, historiador com graduação e mestrado pela UFC e doutor pela Universidade de Coimbra, Portugal).
        Na noite da abertura da exposição será exibido o documentário "O Último Apito", com 1h30min de duração e idealizado por Aderbal Nogueira, que traz depoimentos de personagens ligados da história da ferrovia no Estado do Ceará.




    Maiores Informações:
    Mozarly Almeida
    Assessora de Imprensa do Crea/CE
    9619.2181