Quando o médico e descobridor da vacina oral contra a poliomielite Albert Sabin (a "gotinha"), então casado com a brasileira Heloísa Carneiro, esteve em Fortaleza, na década de 1970, o apresentador do programa Show do Mercantil, Augusto Borges, lhe retribuiu a participação no programa, presenteando-com um quadro de Chico da Silva (1923-1985). Era um gesto em que o ser humano tira as vestes da soberba e doa o que tem de melhor para oferecer.
Naquela época, o pintor acreano, filho de uma cearense e um índio peruano, já era uma celebridade e reconhecido como artista talentoso pelos especialistas do mundo todo. Em 1966, havia recebido a menção honrosa na XXXIII Bienal de Veneza. Alguns de seus quadros foram adquiridos pela rainha Elisabeth II e hoje destaca paredes de colecionadores ricos.
O que fazia a pintura de Chico da Silva tão especial? Conheci Chica da Silva, a filha dele, que também pintava os quadros com o estilo do pai e esse apenas dava a sua assinatura. Com um pouco mais instrução e a sorte de ter conhecido gente como o pintor Jean-Pierre Chabloz (o descobridor de Chico da Silva e seu mestre no óleo sobre tela), talvez tivesse uma carreira solo e com uma identidade própria.
Aliás foi a grande demanda pelos seus quadros que fez com que a obra do pintor se tornasse individual e comunitária. A grande procura fazia com que filhos e vizinhos residentes no bairro do Pirambu, pintassem os galos, os dragões, peixes e todo um mundo colorido, que se chamava de primitivismo, mas na verdade, para os especialistas, não se encaixava em nenhuma escola.
Vale ressaltar a alegria das cores, a ênfase nos detalhes das penas, dos olhos arregalados dos bichos e da fantasia que inspirava. Era uma arte que se inseria com o declínio do figurativismo e a elevação da fotografia. Daí, que consciente ou não, o menino grafiteiro, ingênuo e enganado por mercadores de arte inescrupulosos e vencido pelo alcoolismo fez o que se esperava para um artista de vanguarda: apresentar elementos a mais para a figuração. Uma oportunidade para conhecer parte do legado do artista está no segundo pavimento do Shopping Benfica, em explosição permanente.
Sou fã do trabalho do Chico da Silva. Chabloz foi seu mestre, na medida certa. Não só respeitou sua originalidade, como também a incentivou. Pois Chico quis se influenciar por uma pintura dentro de padrões mais acadêmicos, e Chabloz não deixou. Que o Ceará possa sempre respeitar a obra de Chico da Silva.
ResponderExcluirÉ verdade, Janaína. Foram tristes os últimos anos do pintor: roubado, pobre e excluído
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