Quanto mais converso com os artistas, principalmente escritores e pintores, mais me convenço que não descobrimos uma forma de incentivo real às manifestações culturais e artísticas. Falo, especialmente, da Lei n° 8.313/1991 (Lei Rouanet), que é uma forma de estimular o apoio da iniciativa privada ao setor cultural. O proponente apresenta uma proposta cultural ao Ministério da Cultura (MinC) e, caso seja aprovada, é autorizado a captar recursos junto a pessoas físicas pagadoras de Imposto de Renda (IR) ou empresas tributadas com base no lucro real visando à execução do projeto.
No papel, é um projeto excelente. O problema é a prática. E aí cito as conversas já matidas com os artistas, que consideram esse tipo de mecenato ardiloso e criador de falsas perspectivas. Pelo menos, essa é a opinião do poeta e cordelista Babi Guedes, que na sua opinião o que existe é uma espécie de publicidade subsidiada. Ou seja, as empresas tendem a apoiar exclusivamente aqueles que já são conhecidos do grande público e o investimento resulta em vantagens para a promoção do órgão ou empresa promotora.
Babi sabe do que está falando porque há mais de uma década vinha tentando editar um livro que narra a Guerra de Canudos, e somente agora encontrou uma forma de viabilizá-lo.
A questão não é sequer o tempo que se leva até se chegar onde chegou. Ele explica que a dificuldade maior está na burocracia, na forma de se comercializar o produto, que mesmo com os incentivos fiscais da Lei, não são compensadores para quem produz arte.
O País do Vale Tudo, tema de uma tele novela da década de 1990, ainda se mantém nos dias de hoje. Os empresários faturam em cima de obras que já despontam para a consagração, a priori de sua qualidade. É o inverso do humanismo existencialista de Sartre. A existência não precede a essência. A essência precede a existência.
Se sairmos para as edições bancadas pelo próprio bolso é quase uma certeza que se encontrará o encalhe. O que um escritor, por exemplo, vai fazer com mil livros, além daqueles que pode comercializar nas noites de lançamento? Ser escritor de uma única edição é uma predestinação, especialmente na nossa realidade.
Tudo isso pode parecer muito amargo, mas o leitor não se iluda: é muito pior do que pode estar parecendo. Não aconselho que se desista, até porque é inútil quando se tem uma determinação de um fanático como Antônio Conselheiro, a frieza de um androide e a loucura de um santo para se manter artista.
Então, prepare-se para conviver num mundo hostil. Veja os duendes que irão rir, explicitamente muitas vezes, de sua obra. Prepare-se para amargar momentos de solidão e delírios noturnos. Os dedos dos inquisidores lhe apontando por mal desvo de energias. Mesmo assim, talvez esteja aqui uma receita e a inspiração para mais uma obra. E aí o artista encontra forças para ir adiante.
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