Menina afegã comove pela sua deslumbrante e sofrida beleza

Há uma diferença entre o fotógrafo sensacionalista, que não mede os riscos para obter a imagem para uma capa de revista, e aquele que estuda, mergulha na alma e eterniza impressões. No primeiro caso, são tantos os créditos, mas que podem ser perdoados  porque se pode acreditar que ingenuamente foram levados pelas revistas (desde a Cruzeiro, Realidade, etc, apenas para citar as brasileiras), de que assim estavam fazendo o bom jornalismo. Para dizer que não cito nomes, lembro o do cearense Luciano Carneiro, presente na Guerra da Coreia (dando a versão dos Estados Unidos) e que morreu estupidamente num desastre de avião, no Brasil, quando o avião comercial em que viajava chocou-se com um outro de modelismo, invadindo espaço aéreo não permitido.
No caso, dos verdadeiros artistas,  Steve Mc Curry é posuidor de um talento inquestionável, ao retratar a Menina Afegã, em 1984. O fotógrafo é o autor da célebre fotografia de uma garota, no acampamento de refugiados, Nasir Bagh no Paquistão, na época com 12 anos, na guerra contra a invasão soviética. Sua foto foi publicada na capa da National Geographic em junho de 1985 e devido a seu expressivo rosto de olhos verdes, a capa converteu-se numa das mais famosas da revista.
Provavelmente Steve Mc Curry bebeu nas águas de Dorothea Lange, a grande fotógrafa norte-americana, que retratou o povo pobre do Sul da América, durante a Grande Depressão nos meados da década de 1940. A semelhança com "Mother" nos causa essa reflexão.
Mas se estudou, se buscou as melhores referências, se suas inspirações residem na sensibilidade de quem sofre existiria  menos méritos? Claro que não. Tanto assim, que é um artista consagrado. Anos depois, em 1992, voltou ao Afeganistão e reencontrou Nasir Bagh, agora casada e levando uma vida estável com sua família. Olhar para a fotografia é possível que ocorra aos outros o que aconteceu comigo: deslumbramento.