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sábado, 24 de setembro de 2011
O aborto tratado pela Literatura e a Filosofia nos dias de hoje (II parte - final)
Como aborto é um assunto polêmico, existe no Brasil duas posturas: ser radicalmente contrário, inclusive baseado na legislação em vigor, ou ficar em cima do muro. Pessoalmente, não concordo com ambas as posições, porque o sentimento de culpa, de se jogar previamente na fogueira do inferno aquelas que optaram pela interrupção da maternidade são problemas até menores do que os que se transformaram em drama de saúde pública. Eis porque o Ministro da Saúde falava em plebiscito. Enquanto que cada vez mais os países do bloco Ocidental discutem o fim do aborto como ação criminosa, a exemplo de Portugal, e considerando que os dogmas religiosos pouco construíam na edificação da identidade feminina, proponho que o Brasil deva se inserir na idade moderna da plena discussão popular e passe a debater democraticamente a questão. Não é uma nenhuma ideia original, mas uma retomada de um assunto, que fica guardado como o lixo embaixo do tapete.
Talvez esse assunto chegue com ataso e já não ataia tanta atenção quanto no passado. O escândalo levantado pela obra o Segundo Sexo, de Simone de Bouvoir, contudo, não parece conter um conteúdo distante de nossas atuais demandas. Simone mostrava como a mulher se encontrava dividida diante de uma gravidez não desejada. "A situação é ambígua, o peso moral da decisão é paralisante. Para uma mulher a quem o aborto se apresenta como uma solução, a experiência é de angústia. Vêm à tona o paradoxo e a complementaridade entre contingência e liberdade. A contingência é representada por sua condição social, sua classe, sua fé, sua família. A liberdade, pela decisão."
No livro O Segundo Sexo, mostra como o controle do aborto é o controle da sexualidade da mulher. Transformado o aborto em crime é uma forma de impor à mulher um sofrimento desumano. Se ela opta pelo aborto, tem de suportar sozinha o peso de ser uma “criminosa”. Se opta por ter um filho que não deseja, carrega a culpa e a carga afetiva negativa dessa relação por toda a vida. A sugestão é que não se esgotem as discussões e que não somente as ricas como as mulheres pobres possam livremente se manifestar.
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