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domingo, 16 de outubro de 2011

Jornais são mais vozes que falam aos sentimento



Muita gente tem falado nos últimos dias da possibilidade de criação de um novo jornal no Ceará.  Para jornalistas da minha geração, ninguém pode  esquecer o entusiasmo quando, em meados de 1980, o empresário Edson Queiroz lançou no mercado o Diário do Nordeste. Isso representou na diversificação de mídias impresas, onde a concorrência obrigava a modernização e a prática de um jornalismo agora pautado pelos leitores, além, naturalmente, da pluralidade do mercado de trabalho.
Sem necessidade de que haja desmentidos oficiais, novas mídias, inclusive a internet, somadas a crise global, colocam um balde de água fria no sonho, tanto para quem está ainda cursando a faculdade de Comunicação Social e similares, quanto para os calejados profisisonais que torcem pela resistência do jornal.  Pessoalmente, duvido do advento desse novo periódico, porque contraria a tendência atual de mercado.
A ANJ acredita que a durabilidade da mídia impressa está garantida por alguns anos, de modo que essa seja polarizada por dois jornais. Se tudo não passa de um boato e de uma vontade louca de mais postos de trabalho para jornalistas, o tempo rapidamente vai nos dizer. Contudo, quero render homenagem aos tempos do jornalismo romântico, opinativo, próprio do começo do século passado.Aqui reproduzo o primeiro o editorial do Jornal O Povo, de 7 de janeiro de 1928:

Contrariamente ao pensamento de muitos, nunca será demais um novo jornal.
A complexidade da vida moderna agitada e vertiginosa, já por si, justificaria a preferência dos períódicos sobre os livros.
A vista não mais se apura no estudo paciente e metódico dos gabinetes, mas limita-se a pecorrer títulos e a deter-se onde encontra o assunto escolhido e pelas necessidades materiais e mentais de cada momento.
O livro está, evidentemente, restrito às perquirições das elites.
O jornal é do vulgo.
É no jornal que o povo encontra o seu pão espiritual de cada dia. O jornal descortina-lhe omundo, vencendo distâncias.
É a lanterna mágica do progresso.
É a força propulsora e condutora das massas insatisfeitas, para as grandes reivindicações de sues direitos postergados pela cáfila absorvente dos magnatas de todos os tempos.
Quando o povo geme escravo, entorpecido pelas algemas do cativeiro, indiferente e modorrento, resignado à violência paralisante do grilhão, o jornal é o sangue novo, forte, e negeroso a nutrir-lhe as células dormentes, a despertar-lhe os neurônios amortecidos, a ondear-lhe, nas veias, a torrente vigorosa e enégica da revolta.
O povo necessita de mais gritos que o estimulem, de mais vozes que lhe falem ao sentimento.
Eis porque surgimos.
Ao desfraldar a nossa bandeira  de combate, pelos puros ideais de justiça e liberdade, não nos entontece a glória de vencer, porque a alvorada redentora, ainda está muito longe de raiar no oriente da Pátria,.
Mas havemos de ser o grão de areia do formidável monumento, contra, o qual srã impotentes as picaretas aguçadas dos erros seculares.
O Povo é, pois, uma bateria descoberta para os embates francos e leais, na arena da imprensa.
E o futuro dirá da nossa fidelidade ao programa aqui traçado.
O caminho que temos a percorrer, embora seja bordado de precípicios e semeado de espinhos, não será a picada sinuosa dos ´hipócritas, mas a estrada real por onde marcham, alheados de si mesmos, aqueles que se acostumaram a fitar a claridade dos infinitos deslumbrados...)

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