Muita gente tem falado nos últimos dias da possibilidade de criação de um novo jornal no Ceará. Para jornalistas da minha geração, ninguém pode esquecer o entusiasmo quando, em meados de 1980, o empresário Edson Queiroz lançou no mercado o Diário do Nordeste. Isso representou na diversificação de mídias impresas, onde a concorrência obrigava a modernização e a prática de um jornalismo agora pautado pelos leitores, além, naturalmente, da pluralidade do mercado de trabalho.
Sem necessidade de que haja desmentidos oficiais, novas mídias, inclusive a internet, somadas a crise global, colocam um balde de água fria no sonho, tanto para quem está ainda cursando a faculdade de Comunicação Social e similares, quanto para os calejados profisisonais que torcem pela resistência do jornal. Pessoalmente, duvido do advento desse novo periódico, porque contraria a tendência atual de mercado.
A ANJ acredita que a durabilidade da mídia impressa está garantida por alguns anos, de modo que essa seja polarizada por dois jornais. Se tudo não passa de um boato e de uma vontade louca de mais postos de trabalho para jornalistas, o tempo rapidamente vai nos dizer. Contudo, quero render homenagem aos tempos do jornalismo romântico, opinativo, próprio do começo do século passado.Aqui reproduzo o primeiro o editorial do Jornal O Povo, de 7 de janeiro de 1928:
Contrariamente ao pensamento de muitos, nunca será demais um novo jornal.
A complexidade da vida moderna agitada e vertiginosa, já por si, justificaria a preferência dos períódicos sobre os livros.
A vista não mais se apura no estudo paciente e metódico dos gabinetes, mas limita-se a pecorrer títulos e a deter-se onde encontra o assunto escolhido e pelas necessidades materiais e mentais de cada momento.
O livro está, evidentemente, restrito às perquirições das elites.
O jornal é do vulgo.
É no jornal que o povo encontra o seu pão espiritual de cada dia. O jornal descortina-lhe omundo, vencendo distâncias.
É a lanterna mágica do progresso.
É a força propulsora e condutora das massas insatisfeitas, para as grandes reivindicações de sues direitos postergados pela cáfila absorvente dos magnatas de todos os tempos.
Quando o povo geme escravo, entorpecido pelas algemas do cativeiro, indiferente e modorrento, resignado à violência paralisante do grilhão, o jornal é o sangue novo, forte, e negeroso a nutrir-lhe as células dormentes, a despertar-lhe os neurônios amortecidos, a ondear-lhe, nas veias, a torrente vigorosa e enégica da revolta.
O povo necessita de mais gritos que o estimulem, de mais vozes que lhe falem ao sentimento.
Eis porque surgimos.
Ao desfraldar a nossa bandeira de combate, pelos puros ideais de justiça e liberdade, não nos entontece a glória de vencer, porque a alvorada redentora, ainda está muito longe de raiar no oriente da Pátria,.
Mas havemos de ser o grão de areia do formidável monumento, contra, o qual srã impotentes as picaretas aguçadas dos erros seculares.
O Povo é, pois, uma bateria descoberta para os embates francos e leais, na arena da imprensa.
E o futuro dirá da nossa fidelidade ao programa aqui traçado.
O caminho que temos a percorrer, embora seja bordado de precípicios e semeado de espinhos, não será a picada sinuosa dos ´hipócritas, mas a estrada real por onde marcham, alheados de si mesmos, aqueles que se acostumaram a fitar a claridade dos infinitos deslumbrados...)
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