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sábado, 17 de dezembro de 2011

Memória de Fortaleza é destruída porque o cidadão não quer ter saudade de seu passado de miséria

Christiano e Douvina. Foto:Luana Araújo


Quem quer ter memória de seu passado miserável?" Indaga Christino Câmara, no Programa Movimento Urbano, transmitido hoje à noite pela TV O Povo. Entrevistado pela jornalista Cinthia Medeiros, essa foi uma das críticas ferinas disparadas pelo memorialista e pesquisador, que aos 76 anos, sente orgulho de ter nascido e viver até hoje na casa localizada na Travessa Baturité, no Centro de Fortaleza, ao lado de sua mulher Douvina.

A crítica que Christiano faz às elites cearenses têm uma relação com a  degradação ambiental e histórica da cidade, que viu seus principais monumentos sendo destruídos para uma presumida tentativa de desenvolvimento, dentre esses a casa de seu avô e onde nasceu o falecido bispo de Recife e Olinda, dom Hélder Câmara. No entanto, ele reforça: tudo não passa de se querer fugir do passado. Por isso, diz que o memorialista para se ter apoio do Estado ou das próprias elites tem que ficar de boca fechada. Não pode fazer crítica e se limitar a fazer comparações: Antes era assim. Hoje é assim.

Para quem conhece o memorialista como eu conheço, sabe que suas  observações são bem mais contudentes, quando se encontra em seu próprio habitat, a casa com quintal (pasmem) ao lado da Catedral. No entanto, me chamou  a atenção sua preocupação com o"boom" de construções previsto para Copa do Mundo de 2014. Ele teme pelos "elefantes brancos'. Ou seja, obras que serão construídas para turistas, mas que depois sofrerão o desgaste ou abandono por não contar com verbas para a manutenção. É sempre bom lembrar que os estádios construídos na África do Sul estão hoje sendo ameaçados de virem á baixo, porque não há como mantê-los. Uma coisa é construir, observa Cãmara, outra é preservar.


A destruição do patrimônio histórico foi ensejada pela igreja católica, dentre outros empreendedores, como se referiu ao desabamento da antiga igreja da Sé, construida em na década de 1800, passando pelos espigões instalados na Praia de Iracema. Daí que adverte: a natureza não reclama. Ela se vinga. E faz uma profecia aterradora. Um dia o mar deverá cobrar o espaço que lhe foi tomado.

Poderia citar aqui muitos momentos interessantes e instigantes desse personagem que toda a cidade é devedora. Assim como também mostrar que é vidraça e fica meio inapropriado o anacronismo, ao rejeitar a internet, o aparelho celular e recordar os rostos mais bonitos do cinema, aqueles que desfilaram pelas de décadas de 1930 e 1940, como se nos dias de hoje também não houvessem essas beldades. Mas sem Chistiano, quem mais poderia exercer um espírito crítico sobre o criminoso desmanche da história da Cidade? Ele lembra que não devemos chorar como crianças, quando deveríamos ter reagido como homens. Então, solta uma gargalhada. "Dizem que eu fico rindo porque tenho dinheiro. É aquela forma de se asociar alegria sempre ao dinheiro", afirmou.

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