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sábado, 3 de março de 2012

O Anel de Nibelungen reflete sobre a falta de caráter dos deuses



Há neste post assuntos tão diversos, quanto convergentes. Falo da Ópera de Wagner, a Filosofia de Nietzsche e aqui também aparecem um dos mais conceituados maestros brasileiros, o cearense de Iguatu, Eleazar de Carvalho (1912-1996) e ainda a cantora lírica paulista Neyde Thomas (1930-2011), numa apresentação do aniversário de 20 anos da TV Cultura.  O ponto em comum é a alegria que a arte nos proporciona pelos seus mais diversos instrumentos, que nos faz crer no antipessimismo, numa nova ordem humana.
Nietzsche
Vamos por partes. O anel dos Nibelungos (Der Ring des Nibelunger) é um festival cênico. A primeira representação do ciclo completo aconteceu em Bayreuth, agosto de 1876. A obra consiste de quatro dramas musicais: O ouro do Reno, a Válquíria, Siegfried e Crepúsculo dos Deuses. A história fala sobre a renúncia ao amor, a mais sagrada das emoções, em vista da cobiça de Wotan, o chefe dos Deuses, que leva ao roubo do ouro do Reno, guardado pelas donzelas, para forjar o anel que o tornará todo poderoso.
Wagner, assim como Nietzsche, não apenas se desinteressa pela divindidade, como passa a apontá-la como origem dos males. Para se livrar das maldições, Wotan se torna temporariamente mortal.O filósofo alemão, por sua vez,  faz uma comparação: "O que significa afinal que Deus tenha se tornado homem em Cristo? Significa a certeza de que vale a pena ser homem. Mas não somos seres humanos ainda estamos nos tornando isso".
Rüdiger Safranski assinala que "o mundo mítico de Wagner tem pois três planos. Embaixo, ser original de beleza e amor, corporificado pelas filhas do Reno e da terra-mãe Erda. Por cima, mundo dos Nibelungos, onde se trata do poder e posses. E sinistramente enredado nisso tudo, o terceiro mundo, o mundo dos deuses, que se afastaram de suas origens otônicas. No fim do "Ouro do Reno" as Filhas do Reno se lamentam: "Confiável e bom é só aqui no fundo/falso e covarde/quem lá em cima se alegra".
A obra é demorada e fez com que retardasse o reconhecimento do gênio de Wagner, menos para Nietzsche, que diz "a melodia interminável- a gente perde a margem, e entrega-se às ondas". Até então, o filósofo fincava sua Filosofia numa ligação muito profunda à mitologia, grega por excelência, e a sublimação desta por meio da música. Em "O Nascimento da tragédia no espírito da música", afirma: "Mesmo psicologicamente, todos os traços decisivos de minha própria natureza estão inscritos na de Wagner - o lado a lado das forças mais luminosas e das mais fatais, a vontade de potência como nunca um homem a posuiu, a audácia sem cerimônia no espiritual, a ilimitada força de aprender, sem que a vontade de ação fosse esmagada com isso".
Essa é a sensação que sinto em ouvir a música wagneriana, às vezes muita intensa, outras tranquilas e serenas como as águas de um lago. O Anel de Nibelugen não é a obra wagneriana que mais gosto. Não traz uma ária,  protofonia e/ou coro memoráveis, como em outras obras suas. Chama a atenção, no entanto, a quantidade enorme de energia gasta pelo compositor (o festival cênico é para ser apresentado em três dias) e o entusiasmo que causa em Nietzsche, como se, finalmente, tivesse resolvido o enigma existencial e, assim, se apaziguado.

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