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domingo, 4 de março de 2012

Vaidade e marketing pessoal manipulam retratos da pintura à fotografia

Tomas Morus


Era para ser tudo muito simples: o retrato é a semelhança da pessoa. Mas desde a pintura, passando para as fotografias que são exibidas, hoje, pela internet, há uma grande necessidade de impressionar. Assim, o que deveria ser a imagem real, passa a a ser uma imitação surreal ou mentirosa. O que poderia significar uma identidade se transforma num marketing pessoal.
Essa reflexão não é de agora, pois existia já na arte do retrato, que chegou ao seu apogeu entre os séculos XV e XVI. Naquela época, houve várias tentativas de manipulação dos retratados, para se impor socialmente, compensar suas fraquezas psicológicas e até para se apresentarem mais bonitos do que eram verdadeiramente.
Bia


No caso da pintura, há muitas explicações porque as pessoas ansiavam imortalizar seus corpos. Como a escultura detinha um custo muito elevado, a pintura se constuía num acesso a esse bem de forma menos exclusivista. Claro que existem exceções. Daí que a escolha por personagens nesta mini coletânea é mais uma homenagem à pintura retratista, do que se fazer um culto à personalidade.
Norbert Schneider, em A Arte do Retrato, diz: "A partir do século XV,não foram apenas os príncipes, o alto clero e a nobreza, mas também os membros de outros grupos sociais - comerciantes, artesãos, banqueiros, sábios humanistas e artistas, que posaram para seus retratos, expondo-se literalmente aos olhares públicos. Esse período presenciou também a revolução de vários tipos de retrato, subgêneros que iriam determinar as formas que o retrato viria a assumir nos séculos posteriores. Podemos citar como exemplos o retrato do corpo inteiro, normalmente reservado aos princípes e nobres, os de três quartos e aqueles de mais diferentes ângulos: perfil (uma reminiscência ao estilo de medalha), de busto(...)" e até de costas.
Betty


A escolha se deu livremente e, naturalmente, haverá omissões graves. No entanto, coloco relevantes obras como a Monalisa, e seu sorriso enigmático, que tantas intrepetações já suscitaram nos críticos e nos amantes das artes; o perfil (estilo medalha) de Giovanna Tornabuoni, que morreu no ano em que a pintura ficou concluída; Bia, a filha ilegítima de Cosimo de Médice e, para não se estender muito sobre outras escolhas, a de Betty, de Richter, em que mais se assemelha a uma fotografia. Seu rosto oculto é considerado uma transgressão à pintura, mas é inegável o seu valor pelo detalhamento fotográfico.
Há quem diga que a fotografia tornou os retratados mais reais. Ao contrário da pintura, as imperfeições não mais se corrigiam nos pinceis e nas telas. Dizia-se que as gerações que não a conheceram tiveram contato com a morte duplamente, porque esta nova técnica (que depois chegaria ao patamar da arte) era imparcial, uma ladra, por assim dizer, daquele momento: sem inventar, ou aumentar. As pessoas e as coisas iam se deteriorando com o tempo, mas o registro instantâneo se eternizava. Pelo menos isso existiu genuinamente por algum período do tempo. Também não devemos responsabilizar o photoshop por toda a manipulação que já se fez após os clic da fotografia. O fato é que a vaidade atravessa o tempo e nunca lhe faltou artimanhas e artifícios para que se manifestasse.


2 comentários:

  1. “As fotografias "melhores" seriam aquelas que evidenciam a vitória do homem sobre o aparelho: a vitória do homem sobre a máquina”.
    A Filosofia da Caixa Preta, Vilém Flusser

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  2. Felizmente, ainda há a fotografia arte e aquela que eterniza o instante e faz história.

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