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quarta-feira, 7 de março de 2012

Vestido de Noiva inicia série de homenagens a Nelson Rodrigues



"A mulher normal, equilibrada, é capaz de amar dois, três, quatro ao mesmo tempo. O amor múltiplo é uma exigência sadia de sua carne e sua alma". Essa é uma das milhares (e são milhares mesmo) de frases de efeito de Nelson Rodrigues, que se fosse vivo completaria em agosto próximo 100 anos de idade. Vários movimentos culturais em todo o País estão programando atividades, inclusive reeditando suas obras, que incluem romance, contos e teatro.
Há quem diga que se Nelson Rodrigues falasse um idioma mais conhecido internacionalmente, como o espanhol por exemplo, teria alcançado uma projeção que até hoje não esteve à sua altura. Foi uma das mentes mais férteis de sua geração e ainda não superada. A inteligência de suas assertivas desconcertava a moral da época quando escrevia seus artigos para jornais e os textos para o teatro. Em cada uma delas, havia uma forma de chocar, desestruturar conceitos mas nunca sem uma pitada de coerência."A Europa é uma burrice aparelhada de museus", dizia nos seus ataques anti-colonialistas. "O europeu ou é um Paul Valéry ou uma besta".São frases que tanto angariavam simpatia, quanto inimizades, mas nunca a indiferença. No teatro, viveu tempos de perseguições e hipocrisia. Felizmente, o talento ressurgia e sua voz se tornava mais eloquente do que todo o falso moralismo que se levantava ao contrário.
Nelson Rodrigues teve uma vida muito conturbada, intensa, marcada pela polêmica, pela censura, por casamentos e amantes, pela tragédia, o assassinato do irmão Roberto, a morte prematura do pai, a filha Daniela, cega e com paralisia cerebral, o filho Nelsinho, preso e torturado pelo regime militar, a morte do irmão Paulinho, soterrado com a esposa e filhos, em decorrência de desabamento do prédio onde moravam em Laranjeiras, em fevereiro de 1967 e o suicídio, em dezembro do mesmo ano, de sua cunhada, a viúva de seu irmão Mário Filho.
Em o Anjo Pornógrafico, de Ruy Castro, formou-se um retrato que é apontado dos mais fiéis. Um homem averso à esquerda, embora tivesse um filho preso como terrorista e (por conveniência ou não) considerado como um direitista. Escritor tenaz, chegou a escrever um romance na redação do jornal onde trabalhava, misturando personagens fictícios com reais, inclusive o do escritor Oto Lara Rezende, frequentemente citado em Engraçadinha e na peça Bonitinha, mas ordinária ou Oto Lara Rezende.
Os críticos afirmam que Nelson conseguia expor em suas peças a natureza humana, com domínio do trágico e do grotesco, transmitindo uma visão de mundo quase sempre pessimista e desesperada. Suas peças são consideradas o que se fez de melhor no teatro brasileiro até os dias atuais.
"Nelson Rodrigues ao levar para o palco toda matriz de transgressões, de certo modo salvava a platéia da vivência na carne, deixando-as na latência do imaginário", afirma o escritor e jornalista Carlos Augusto Viana. Daí que do escândalo se transformava em axioma, por mais contudente que pudesse parecer. "O medo mata o desejo, mata o prazer. O palavrão é um estímulo. Na intimidade sexual, a mulher gosta do palavrão". Ou então,
"Não há presidente que não sonhe com os funerais dos chefes de Estado. O defunto presidencial é um exibicionismo ululante".
Hoje, apresento o texto da peça Vestido de Noiva. Amanhã, retomarei outras obras do teatrólogo, que não foi, absolutamente, como dizia: "um autor de muitos originais e sem nenhuma originalidade".

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