Existe um conto escrito por Moreira Campos que nunca li, mas da forma como me contaram é brilhante. Trata-se de "A grande mosca no copo de leite". Resumindo, o título é uma metáfora absurda e cruel sobre a sensação de um jovem ao ver sua mãe, uma empregada doméstica, sendo torturada, nua, amarrada ao medonho pau de arara. A imagem do púbis descoberto e seu corpo muito branco levou à essa comparação, que na verdade possui uma dor com dimensão bem maior: a acusação injusta de um roubo na casa onde trabalhava.
Ao longo da minha existência e da minha carreira, nunca testemunhei uma cena de tortura. Ouvi casos de presos comuns a políticos, "quase-confissões" de policiais e fiquei comovido com as vítimas em cenas de filmes, como o Bom Pastor, mesmo sabendo que o que via não era real. Ou seja, repugna como o homem pode aviltar outro homem, seja por qualquer razão, onde se misturam sentimentos como obsessão, fanatismo, ódio, inveja, etc.
Faço essa introdução para abordar a existência da Comissão da Verdade, que acaba de instituir seus membros e deverá investigar, especialmente, os casos que contrariam os direitos humanos. Tenho medo dessa afirmação, porque em nome dos direitos humanos, foram cometidos pelas civilizações ocidentais as maiores matanças: Iraque (ainda com as denúncias inverídicas de possuir armas químicas e nucleares) e a Líbia.
É bom que o Brasil resgate sua história e ilumine o passado sombrio. Como não atender ao clamor daqueles que perderam seus entes queridos na luta pela liberdade ou pelos direitos humanos e para aqueles mais sensíveis, que se repugna contra toda ação de tortura?
Não sei se existe uma corrente neste sentido, mas penso que o temor maior é que a Comissão da Verdade ofusque os problemas mais atuais do Brasil e que são bem piores do que a fome ou a seca no Nordeste, Falo da corrupção. Devemos elogiar as medidas duras da presidente Dilma adotadas até agora, exonerando ministros envolvidos em ilicitudes, mas o leque dos desmandos e da avidez pelo dinheiro público é tão diverso, que não vislumbro apenas a inconsequência dos gestos mais honestos, como também atos que não venham a ser escamoteados, ora por um novo escândalo que surge, ora pela dor que pulsa nas feridas reabertas dos tempos da ditadura.
Se o Brasil tomar medidas efetivas contra o Mensalão, como exemplo notório de desmando ocorrido nos tempos da administração petista que tanto esperamos pela retomada da moralidade política, e que tenha ou não a firmeza da presidente Dilma, não apenas consolidamos a democracia, como realmente nos apresentamos como Nação desenvolvida, que sepultou o totalitarismo e que não dá mais um passo atrás. Nem mesmo para pegar impulso.
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