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sexta-feira, 22 de abril de 2011

Música que abre amplamente a alma



Achei inapropriado postar ópera no dia de hoje, como sempre faço às sextas-feiras. Considerando a data religiosa, poderia dedicar o espaço para algo que enalteça a música no plano espiritual. Para mim, o melhor exemplo é Proust, como demonstrou em Busca do Tempo Perdido. No Caminho de Swann, descreve uma peça tocada para piano e violino. Ele não identifica o autor nem o nome da obra. Pela sensibilidade de Swann, vai descrevendo  e vamos acompanhando o movimento dos instrumentos, como se os escutássemos. É muito difícil se fazer algo parecido na Literatura. Quem tentou fazer, ficou parecendo uma paródia do original.
Eis aqui um pequeno trecho:
No ano anterior, numa reunião, ouvira uma obra para piano e violino. Primeiro, só lhe agradara a qualidade material dos sons empregados pelos instrumentos e depois fora um grande prazer, quando por baixo da linha do violino, tênue, resistente, densa e dominante, vira de súbito erguer-se num líquido marulho a massa da parte do piano, multiforme, indivisa, plana e entrechocada, como a malva agitação das ondas, como o luar encanta e bemoliza. Mas em certo momento, sem que pudesse distinguir um contorno, dar um nome ao que lhe agradava, subitamente fascinado, procura recolher a frase ou a harmonia - não o sabia ele próprio - que passava e lhe abria amplamente a alma, como certos perfumes de rosas, circulando no ar úmido da noite, tem a propriedade de nos dilatar o nariz.

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