O filme Haiti, 12 de janeiro, dirigido por Cleonildo Cruz, será lançado no dia 12, às 18h, na Vila das Artes. No dia 19, o filme será exibido novamente, desta vez com a presença do diretor para debate. A obra, de 52 minutos, retrata a realidade do Haiti após dois anos da maior catástrofe das Américas, em que mais de 250 mil haitianos morreram e mais de 1 milhão ficaram desabrigados. Haitianos que sobreviveram relatam o caos estabelecido no dia do terremoto que atingiu a cidade de Porto Príncipe e redondezas. A chegada do primeiro contingente de militares brasileiros, em 2004, é resgatada, traçando uma linha histórica linear até os dias atuais.
Estive em Porto Príncipe, em 2006. Naquela época, a presença das Forças Armadas Brasileiras se destacava dentre as as nações que integravam a Minustah, missão de paz criada pela Organização das Nações Unidas (ONU), dois anos antes. O então comandante era o general Elito Carvalho Siqueira, subsituindo o general Urano Bacelar, que havia se suicidado com um tiro na boca num hotel na capital haitiana.
Foi uma visita que se restringiu à Capital e não houve nenhuma oportunidade de contato com as lideranças que protestavam contra a ocupação do País, o mais pobre das Américas. Cercados por forte segurança, os jornalistas convidados a participar da mudança de efetivos brasileiros, com grande predominância de soldados nordestinos, inclusive do Ceará, estiveram sempre acompanhados de oficiais e soldados do Exército e com pouco contato com a população.
Bem antes da catástrofe que iria mergulhar o Haiti no mais radical caos, que teve início com a epidemia de cólera (atribuída a tansmissão dos próprios militares ocupantes) e culminando com o terremoto, era um lugar tomado pelas trevas,não havia energia elétrica, e pelo lixo. Muitos jovens, adolescentes por sinal, vendiam sangue para hospitais de primeiro mundo (dizem que inclusive de Miami) em troca de alguns dólares, além de um pouco de alimento dado para quem se submete às doações.
Como se não bastassem tanto sofrimento impigido aos haitianos, o País funcionou como um laboratório do emprego antiguerrilha urbana, que hoje é empregado pelo Exército brasileiro para inibir a violência nas grandes cidades. Essa metologia vem sendo empregada no Ceará, especificamente em Fortaleza, em vista da greve dos policiais militares que se arrasta desde a quinta-feira passada. Tudo indica que esse aprendizado será bem aplicado nos próximos dias na Capital, diante da aplicação das sanções pela ilegalidade do movimento grevista e da determinação de enfrentamento dos grevistas ao Governo. São dramas que se misturam, que espelham a miséria pessoal e coletiva e a falta de sensibilidade humana.
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