Em 1994, Antônio Calado escreveu: "O Rio resume o Brasil. Posto sob alguma espécie de controle militar, o Rio deixa de ser uma calamidade carioca; é um vaticínio para o resto do País. Militar brasileiro gosta tanto de ser chamado a restabelecer a ordem nas ruas quanto uma solteirona de ser convidada a jantar fora. Só que o jantar pode durar 20 anos, como durou a partir de 1964".
Esse trecho da crônica do autor de Quarup é pertinente quando o Ceará experimenta a mais desafiadora greve dos policiais miliares, deflagrada na quinta-feira, chegando ao auge das tensões na sexta-feira, até culminar na decretação do estado de emergência pelo governador Cid Gomes, no sábado. Com isso, cerca de 5 mil homens entre militares do Exército, Marinha e Força Nacional de Segurança (FNS) estão sendo responsáveis pela segurança do Estado do Ceará. De acordo com chefe da Divisão de Comunicação Social da 10ª Região Militar em Fortaleza, tenente-coronel Charles, citado pelo portal Verdes Mares, o contingente será reforçado ainda neste domingo. Além do contingente atuando nas ruas do Ceará, a 10ª Região aguarda a chegada de 80 homens do Pelotão de Choque do Exército e do Pelotão de Ações de Comando em Controle de Recife.
Apesar dos graves conflitos sociais, que são a principal causa da violência no Brasil, ainda podemos nos orgulhar do nosso espírito pacífico, cordial, festivo, extrovertido. Daí não ter havido consequências mais sérias durante o Réveilllon. Pelo sim pelo não, vale à pena refletir sobre alguns pontos: 1)Houve ou não falha dos serviços de inteligência para se antecipar aos efeitos do movimento paredista? 2)Se é real a dificuldade de comandar um grande efetivo de militares (e na ótica atual pequeno, se comparado com as demandas), por que não se divide em pequenas polícias, à exemplo dos Estados Unidos? 3)Um soldado que passa 20 anos sem promoção é por falta de merecimento ou por que alguma coisa está errada na política administrativa do Estado?
Voltando a Antônio Calado, o Exército pode se tornar um convidado perigoso sim. No entanto, nos últimos tempos tem demonstrado muita competência na administração da ordem pública, a exemplo do que vem sendo feito nos morros e favelas cariocas.O papel do Ministério da Defesa, especialmente o Exército, no Haiti (que funcionou como um grande laboratório para os embates de guerrilha urbana), deixou lições de como pode conduzir bem ações de neutralização de atividades criminosas. Talvez até com mais competência, porque é complexa a vigilância em 15.718 quilômetros, do que na função constitucional de guarda das fronteiras, do lado Oeste do País, ondea participação da Polícia Federal com seus 23 postos oficiais de fiscalização, não retem o tráfico de drogas, armas e a biopirataria.
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