É do mundo exterior que o conhecimento precisa vir a nós, pela leitura, audição e contemplação. Wendy Beckett
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segunda-feira, 7 de novembro de 2011
Picasso pintava o repulsivo que se enternizava nas nossas mentes
A família de Saltimbancos (1905), de Pablo Ruiz Picasso (1881-1973), representada no quadro acima é um dos mais ilustrativos da fase rosa do artista espanhol. O pintor viveu muitos anos na pobreza e quando migrou para a França, teve seus primeiros quadros classificados na fase azul. Rosa ou azul, Picasso pintava a tristeza, a degradação humana, uma hora com muito ressentimento, a exemplo do que fazia com suas ex-mulheres, em outros momentos as circunstâncias de vivências pessoais.
O quadro mostra a depressão de artistas de circo: são cinco acrobatas que se revelam em posturas de constrangimento e uma atmosfera sombria. Na inversão da alegria circernse, há uma expressa emoção de tristeza. Mostrar o artista do circo da forma mais melancólico é recorrente na obra de arte. Chaplin nos apresenta o palhaço decadente em Luzes da Ribalta, cujo número mais engraçado é o do domador de pulgas.
A ópera de Leoncavallo, Pagliacci (Palhaços), tem uma ária chamada "Vesti la giubba", com o trágico "Ridi Pagliacci", em que o bufão que deve rir e fazer os outros rirem mesmo com o coração partido.
Picasso não foi excessão em mostrar a depressão após a euforia do encantamento do circo. Mas chegou a ser repetitivo na forma como tratou e destratou os rostos humanos. A mulher que chora, retrato de sua ex-mulher Dora Maar, é reconhecidamente uma forma de mutilar o modelo, num rompante de ressentimento.
Picaso morreu rico e reconhecido como artista importante, talvez o maior do século XX, tornando-se nome de envergadura do surrealismo e, sobretudo, do cubismo. Há uma compreensão de que a transição de um status social tem um custo e sua arte por muitas vezes foi posta em dúvida pelo valor que apresentava. No entanto, o encanto está na contradição. Nunca deixará de ser horrendo o mundo que pintava. Nunca deixará de ser repulsivo. No entanto, não há como tirá-lo da nossa cabeça.
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