Perdoa-me por me traíres
Primeiro Ato
(Nair e Glorinha estão na porta de Madame Luba, ambas vestidas de
colegiais, uniforme cáqui, meias curtas, cabelo rabo de cavalo, pasta
debaixo do braço. Glorinha vacila e a outra insiste)
NAIR Vem ou não vem?
GLORINHA Tenho mêdo!
NAIR De quem, carambolas? Mêdo de quê?
GLORINHA (Suspirando) — De algum bode.
NAIR Já começa você. Que bode?
GLORINHA Sei lá! (mudando de tom) E se o meu tio sabe?
NAIR Espia: não foi você mesma, criatura, que me pediu pra te trazer?
GLORINHA Pedi, mas... É o tal negócio. Você não conhece meu tio.
NAIR Conheço, até de sobra!
GLORINHA Duvido! Não te contei...
NAIR Um chato!
GLORINHA ... Te contei que, outro dia, só porque cheguei atrasada uma meia hora, ou
nem isso, uns 15 minutos talvez — êle me deu uma surra tremenda? E disse mais: que, na
próxima vez, me mata e mata mesmo!
NAIR Conversa! Conversa!
GLORINHA Pois sim! Eu que não abra o ôlho!
NAIR Mas êle não vai saber! Saber como? (baixa a voz) Só essa vez, está bem?
GLORINHA (Tentada) — Vontade eu tenho, te juro!
NAIR Faz, então, o seguinte, olha: tu entras um instantinho só. Eu te apresento a
Madame Luba que é lituana, mas uma simpatia!
GLORINHA E que mais?
NAIR Tu dizes que, infelizmente, não podes, por isso, por aquilo, inventa uma desculpa.
E cai fora... Mas se não fores, quem fica mal sou eu, porque prometi, batata, que te
levava!
GLORINHA Eu vou, mas fica sabendo: não me demoro nadinha!
NAIR Você não sabe o que quer, puxa!
(Nair e Glorinha na sala de Madame Luba. Em cena, Pola Negri, garção
típico de mulheres. Na sua frenética volubilidade, êle não pára. Desgrenhase,
espreguiça-se, boceja, estira as pernas, abre os braços)
de Nelson Rodrigues
Primeiro Ato
(Nair e Glorinha estão na porta de Madame Luba, ambas vestidas de
colegiais, uniforme cáqui, meias curtas, cabelo rabo de cavalo, pasta
debaixo do braço. Glorinha vacila e a outra insiste)
NAIR Vem ou não vem?
GLORINHA Tenho mêdo!
NAIR De quem, carambolas? Mêdo de quê?
GLORINHA (Suspirando) — De algum bode.
NAIR Já começa você. Que bode?
GLORINHA Sei lá! (mudando de tom) E se o meu tio sabe?
NAIR Espia: não foi você mesma, criatura, que me pediu pra te trazer?
GLORINHA Pedi, mas... É o tal negócio. Você não conhece meu tio.
NAIR Conheço, até de sobra!
GLORINHA Duvido! Não te contei...
NAIR Um chato!
GLORINHA ... Te contei que, outro dia, só porque cheguei atrasada uma meia hora, ou
nem isso, uns 15 minutos talvez — êle me deu uma surra tremenda? E disse mais: que, na
próxima vez, me mata e mata mesmo!
NAIR Conversa! Conversa!
GLORINHA Pois sim! Eu que não abra o ôlho!
NAIR Mas êle não vai saber! Saber como? (baixa a voz) Só essa vez, está bem?
GLORINHA (Tentada) — Vontade eu tenho, te juro!
NAIR Faz, então, o seguinte, olha: tu entras um instantinho só. Eu te apresento a
Madame Luba que é lituana, mas uma simpatia!
GLORINHA E que mais?
NAIR Tu dizes que, infelizmente, não podes, por isso, por aquilo, inventa uma desculpa.
E cai fora... Mas se não fores, quem fica mal sou eu, porque prometi, batata, que te
levava!
GLORINHA Eu vou, mas fica sabendo: não me demoro nadinha!
NAIR Você não sabe o que quer, puxa!
(Nair e Glorinha na sala de Madame Luba. Em cena, Pola Negri, garção
típico de mulheres. Na sua frenética volubilidade, êle não pára. Desgrenhase,
espreguiça-se, boceja, estira as pernas, abre os braços)
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