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sábado, 4 de setembro de 2010

Poemas de Cecília Meireles fazem o amor transbordar

Acordando
Em sonho, às vezes, se o sonhar quebranta 
Este meu vão sofrer; esta agonia, 
Como sobe cantando a cotovia, 
Para o céu a minh'alma sobe e canta. 

Canta a luz, a alvorada, a estrela santa, 
Que ao mundo traz piedosa mais um dia... 
Canta o enlevo das cousas, a alegria 
Que as penetra de amor e as alevanta... 

Mas, de repente, um vento humido e frio 
Sopra sobre o meu sonho: um calafrio 
Me acorda. — A noite é negra e muda: a dor 

Cá vela, como d'antes, ao meu lado... 
Os meus cantos de luz, anjo adorado, 
São sonho só, e sonho o meu amor! 

Antero de Quental, in "Sonetos"



Ninguém me Venha Dar Vida
Ninguém me venha dar vida, 
que estou morrendo de amor, 
que estou feliz de morrer, 
que não tenho mal nem dor, 
que estou de sonho ferida, 
que não me quero curar, 
que estou deixando de ser 
e não me quero encontrar, 
que estou dentro de um navio 
que sei que vai naufragar, 
já não falo e ainda sorrio, 
porque está perto de mim 
o dono verde do mar 
que busquei desde o começo, 
e estava apenas no fim. 

Corações, por que chorais? 
Preparai meu arremesso 
para as algas e os corais. 

Fim ditoso, hora feliz: 
guardai meu amor sem preço, 
que só quis a quem não quis. 

Cecília Meireles, in 'Poemas (1947)'

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