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domingo, 12 de setembro de 2010

O começo sinfônico de A Sangue Frio

Literatura
 A  aldeia de Holcomb fica situada no meio dos planaltos de trigo, no Oeste do Kansas, numa área isolada que os demais habitantes do estado chamam ”lá para diante”. Perto de setenta milhas a leste da fronteira do Colorado, com um céu azul intenso e um ar transparente, de deserto, possui uma atmosfera que lembra mais o Extremo Oeste do que o Médio Oeste. A pronúncia local tem um sotaque da planície, um nasalado próprio dos rancheiros, e os homens, na sua maioria, vestem calças justas de fronteiriços, chapéus de feltro de aba larga, botas de tacão alto com biqueiras aguçadas. A terra é plana e os horizontes são incrivelmente vastos; os cavalos, as manadas de gado e o branco aglomerado dos silos a erguerem-se graciosamente no céu como outros tantos templos gregos se avistam muito antes de o viajante chegar perto deles 
Também a aldeia de Holcomb se divisa a grande distância. Não que ela tenha muito que ver. É constituída apenas por um simples e despretensioso agrupamento de edifícios, cortado ao meio pela linha do caminho-de-ferro de Santa Fé, uma terreola limitada ao sul pelo curso negro do rio Arkansas (que se diz como se escreve), a norte pela auto-estrada n. 50, e a leste e a oeste por terras planas e campos de trigo. Depois das chuvas ou quando se derrete a neve, as suas ruas de terra batida, sem nome, sem árvores a ensombrá-las, mal pavimentadas, ransformam-se em nojentos canais de lama. Num dos extremos da povoação ergue-se um edifício de estuque que ostenta no telhado um reclame luminoso com a palavra Dança.

Esse trecho é do romance de Truman Capote. A abertura de A Sangue Frio é o que mais impressiona na obra, por parecer quase musical, com tons suaves e rotineiros. A narrativa traduz uma realidade de sossego de uma região remota do interior, tratada com bastante detalhismo.

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