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segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Colonialismo e apatia deixam tudo dominado no Carnaval de Fortaleza

Exibição do Bloco Prova de Fogo em 1935
"Eu sou o pirata da perna de pau/dos olhos de vidro/da cara de mau". Esses versos de João de Barros, propositadamente composto com duplo sentido, era cantado assim pela turba: "Eu sou o pirata da pica de pau/dos ovos de vidro/e do cu de metal". Isso acontecia, como lembra o historiador Christiano Câmara, nos tempos em que o Carnaval era sinônimo de extravasão da alegria e não de um jogo de interesse, quer seja o desfile militarizado na Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro, quer na passagem melancólica das escolas de samba, maracatus, blocos e cordões na Avenida Domingos Olímpio.
Onde estaria a verdadeira essência do carnaval brasileiro? Na Bahia? Em Recife e Olinda? Precisamente não está em Fortaleza. A Capital cearense nunca foi carnavalesca. O próprio compositor Luis Assunção, fundador da escola de samba que levava o mesmo nome, dizia que na verdade não conseguia impor um estilo parecido a uma escola, uma vez que os participantes de sua agremiação carnavalesca eram animados por marchinhas. Os maracatus pernambucanos possuem uma cadência totalmente distinta dos que aqui se exibem. Os cordões sumiram ou se ainda  passam ninguém percebe. Quem, nos dias de hoje, fala do Prova de Fogo? Criado em 1935, por um sargento do Corpo de Bombeiros chegou a ser citado em uma música de Lauro Maia gravada por Quatro Ases e Um Coringa pela Odeon.
Também tipicamente do cearense foi a imitação. No passado, falava-se em influência do Sul Maravilha (entendido por Rio de Janeiro e São Paulo). Com a sofisticação dos meios de comunicação, inclusive a web, houve de fato a dominação. Isso se vê o arquejar  de um carnaval de rua, que teima em desfilar na Capital, a despeito do desinteresse. Pateticamente, falta mais do que incentivo: alma carnavalesca.
As origens de como se degradou podem ser objeto de estudos para sociólogos. O que interessa é que as novas gerações não poder ter sequer uma vaga ideia de como esta festa tem uma simbologia de galhofa, espontaneidade e irreverência.

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