Mural de Gérson Faria. Fotos: José Leomar/Agência Diário |
As pinturas retratam cenas de Jesus Cristo, tanto abordando circunstâncias de pregações e encontro com os discípulos e ainda uma representação livre da via sacra, onde se destaca a crucificação.
O início da elaboração se deu em 1940, quando o Benfica era o bairro residencial das elites de Fortaleza, destacando-se a família Gentil. No entorno da igreja, foram-se construíndo mansões, a maioria copiadas de modelos europeus. Acredita-se que Gérson trabalhou por encomenda e não há uma história pessoal de devoção religiosa. Contudo, passados mais de 70 anos não houve nenhuma iniciativa, privada ou pública, voltada para o seu restauro. Antes sequer essas pinturas eram reconhecidas pela Igreja, que a partir do Concílio do Vaticano II, chegou a vedar a cripta (a parte subterrânea do tempo, onde estão reunidas as peças). Pior: uma mão de cal encobriu parte da pintura.
O professor Gilmar de Carvalho diz não encontrar explicações sobre a negativa da Igreja sobre a existência dos murais. Ele lembra que a obra foi catalogada, em vista do acompanhamento do artista plástico Nilo Firmeza, o Estrigas, que encomendou fotografias ao fotógrafo Marcos Guilherme.
“Trata-se de uma obra valiosa, porque provém de um artista que conta com um acervo restrito, porém importante para situar historicamente a pintura cearense daquela época", afirma. Além disso, explica que o restauro é uma forma de permitir que se conheça um pintor que deixou sua marca na arte cearense e que, fora daquela igreja, se torna mais difícil o conhecimento sobre o criador e a sua criação.
Gerson Faria possui um retrato pintado por Raimundo Cela, encontrando-se hoje no acervo do Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará (Mauc). Não teve projeção e talento à altura de Aldemir Martins ou Antônio Bandeira. Na opinião de Gilmar de Carvalho, era um artista com muitas limitações e sem dispor de mais estudos, discussões e debates, que fariam com que evoluísse com novas manifestações. Ao contrário, teve no mural referências iconográficas estabelecidas pela Igreja Católica. "Ele não fez um Cristo jangadeiro ou vaqueiro, como poderia ousar. Desse modo, usou os mesmos parâmetros convencionais determinados pela Igreja", observa. Fora o conjunto que se encontra na Igreja dos Remédios, seus poucos quadros fazem parte de coleções particulares.
O professor disse que o descobriu, primeiro sendo instingado pelo Estrigas e, segundo, pela curiosidade. Como trabalhava em local próximo (Gilmar é professor aposentado do curso de Comunicação Social, mantido pelo Centro de Humanidades e que fica perto da Igreja dos Remédios, com seus prédios localizados na Avenida da Universidade, no mesmo bairro), procurou conhecer o local, mas boa parte das representações estavam cobertas pela cal. Ele disse que procurou os padres lazaristas e percebia o desinteresse pelo resgate "Somente algum tempo depois, um pároco mais sensível (padre Sílvio Mitoso) percebeu que havia necessidade de uma recuperação e, finalmente, deu acesso ao público", diz. Mesmo assim, sem financiamento, a expectativa é que o tempo se torne mais voraz para degradar o que ainda não se deteriorou totalmente. Com a recuperação da cripta, a ideia é de que esse espaço ficaria disponível para visitação das pessoas amantes das artes e, especialmente, dos apreciadores de arte de mural. Por enquanto, um sonho que não se transformou em realidade e a cada momento mais predestinado a fenecer irrealizado.
Não é admissível, acontecerem esses verdadeiros crimes! Conheço bem a Igreja dos Remédios, mas nunca vi essas obras, a cripta poderia ser aberta à visitação, para mostrar tão belo mural.
ResponderExcluirLembro do caso do mural de Ramos Cotoco, no teto da Igreja do Carmo que, por um "triz", o pároco não vendeu (aí pelos finais de 1990)...
Vou divulgar no facebook....que sabe, nas redes sociais, "de boca em boca" surta efeitos, juntamente à materia de jornal e nos blogs...
Parabéns, pela divulgação.
Um abraço,
Lúcia
Que bom saber termos mais um aliado (a) nessa busca pela preservação dos painéis. Fico feliz pela sua participação e engamento, me coloco à sua inteira disposição.
ResponderExcluirCOMPRO ESSA BRIGA TAMBÉM!
ResponderExcluirOntem, quando liguei para o professor Gilmar de Carvalho sabia que tinha um bom assunto para o blog. Só não imaginei o tanto isso iria mexer com as pessoas sensíveis. Muito Obrigado ao Teatro da Praia por fazer coro a essa luta pela preservação dos paineis de Gerson Faria, que é uma luta de todos nós.
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