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sábado, 18 de fevereiro de 2012

De Patinhas a Bruce Weyne, a ideologia do Capital nos deixa um legado de tristeza


Nos desenhos animados há três tipos de ricos que se não nos causam inveja por sua imensa fortuna, nos introduz a um mundo de possibilidades na ficção sobre quanto o dinheiro é desmedido, ora tendendo para esbórnia e o estilo estróina, ora para a mais extrema usura. Aqui relembro Tio Patinhas, Riquinho e Bruce Weyne, o Batman. Pessoas da minha geração e que trilharam os primeiros caminhos da leitura pelas histórias em quadrinhos, certamente se depararam com suas tramas hilárias, permeadas de adversários sempre ambiciosos pelo dinheiro ou poder  e, sobretudo, extasiando-se com o mundo contrário ao de privação, repressão, limitação situado na infância. Ser rico é uma fantasia encantadora.
Tio Patinhas, saído dos estúdios da Disney, é o mais avarento de todos os nossos heróis. Trata seus sobrinhos (Donald e os sobrinhos netos Huginho, Zezinho e Luizinho)  à pão e água. Toda sua energia é canalizada para proteger, especialmente, sua moeda nº 1, aquela que lhe dá sorte. Para tanto, luta contra a magia das bruxas Maga Patológica e Madame Min, a inveja de Patacôncio, o segundo pato mais rico de Patopólis, e os Irmãos Metralhas. Chamava a atenção pela sua avidez pela aventura, pois assim descobria novos tesouros e vencia a depressão de sentir-se um velho estagnado.

Riquinho, personagem da Harvey Comics, é o menino mais rico do mundo. Na imensa mansão onde mora, há uma lanchonete, uma piscina, um parque de diversão e todos trazem a marca $. Sua frustração é não poder levar uma vida normal como outras crianças de sua idade. Por exemplo, jogar beisebol. Em termos de fantasia, não se pode medir se é mais rico do que Patinhas, mas de longe o que possui melhor coração. Tanto ele quanto seus pais chegam a ser perdulários. No entanto, por mais que distribuam seus bens, há uma fonte inesgotável, que provém de diversos negócios no mundo, incluindo bancos, petróleo e donos de países inteiros. No cinema, foi interpretado por Macaulay Culkin, então com 14 anos, sendo seu último papel infantil.
Por fim, temos o milionário Bruce Weyne, que foi concebido nos quadrinhos pelo desenhista Bob Kane e o escritor Bill Finger. É destinado a um publico menos infantil e com uma linha de atitude mais complexa. Com os pais sendo assassinados, tornou-se um homem vingativo e destinado a combater o crime, através do gótico personagem Batman. Seus arquinimigos, Pinguim, Charada e Coringa, dentre outros, são considerados vilões covardes e surpesticiosos, daí que a fantasia de morcego é mais um instrumento de intimidação. Porém, sem poderes sobrenaturais, ele se vale do intelecto, da tecnologia (proporcionada pela sua imensa riqueza) por artes marciais e pela vantagem de seu físico.

Os heróis ricos, engraçados ou não, nos falam de um sistema capitalista seguro, baseado no sucesso dos negócios e na irreversibilidade. Se a panfletagem em torno do comunismo por um mundo igualitário nos atraía para um engajamento político, a propaganda do acúmulo do capital revelava um mundo novo que, como Lutero acreditava, a tecnologia, a ciência, o Estado eram uma dádiva de Deus.
Nos países ocidentais, ser rico para crianças e jovens das décadas de 1960 e 1970 não trazia culpa. Assim como não eram convicentes as assertivas de que era mais fácil um camelo entrar num buraco de agulha do que um rico no reino de Deus ou ainda aquela de Proudhon: "La proprieté  c'est le vol" (A propriedade é um roubo). O sonho do fausto, do consumismo desenfreado, de se ter mais do que se precisa foi tão profundamente enraizado que nos fez crer como os marxistas se apresentaram como bobos. Quando caiu o Muro de Berlim, houve mais motivos para se comemorar a vitoria do imperialismo ocidental. A nova ordem se estabelecia com um fato novo: não existiam mais oponentes.
Daí veio a crise econômica nos Estados Unidos, estendendo-se pela Europa e causando mais ruínas na Grécia, depois se prolongando pela Irlanda e Portugal. Todos estes países aderiram ao capitalismo, com pouca ou nenhuma resistência. Mas alguma coisa deu errada na engrenagem e, embora não se pense em reviver o socialismo, sabe-se, como disse Darcy Ribeiro, que foi uma guerra entre vitoriosos e perdedores. E aí os medíocres são e sempre serão os mais fortes. No entanto, não tão somente por uma questão de ética, de moralidade, mas de aprendizado entre certo e errado, nesta luta ideológica é melhor ter ficado do lado dos fracassados do que dos vencedores. Quando o sorriso se vai, procuramos um bem maior que ficou no vácuo de nosso espírito. De Patinhas a Bruce Weyne, a ideologia do Capital nos deixa uma herança decadente, um  legado de tristeza, decepção e melancolia.

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