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sexta-feira, 15 de julho de 2011

Kennety Tynan, os últimos anos de um critico inglês


1979

NOVEMBRO

Flashback para os anos 60 - viagem a Roma a fim de entrevistar Richard Burton para a BBC TV. Enquanto filmávamos, ele tomou vinho o dia inteiro (umas cinco garrafas), e depois convidou a mim e ao produtor para jantar na imensa villa que ele e Elizabeth Taylor tinham alugado perto de Roma (ela estava filmando O Pecado de Todos Nós ). Isso ocorreu um dia depois que Brando lhes deu de presente dois cálices antigos de prata. O primeiro trazia gravado: "Richard: Meu Deus, mijei nas calças". E o segundo: "Elizabeth: Não é mijo, é porra".

Grande grupo de convidados no saguão de entrada da villa. Richard, o produtor e eu conversamos. De repente, Richard se vira para mim com o seu sorriso de lobo e diz: "Como você acha que Elizabeth está, Ken?" "Ótima", respondo, pensando em segredo: "Gorda". Pausa. Ainda me olhando fixo, ele pergunta: "Você gostaria de ir para a cama com ela?" Uma situação em que eu só podia perder, como dizem. Responder "muito" seria cobiçar a mulher do dono da casa. Responder "de maneira alguma" seria dizer que ela não é atraente. Eu me livro do impasse apelando para uma rastejante autodepreciação: "Para falar francamente, Richard, eu duvido de que fosse capaz de transar com Elizabeth". "Vai me dizer que iria brochar?" Continuo recusando a provocação. "Alguma coisa assim." "Elizabeth!", Richard a chama, aos berros, do outro lado do salão. Ela se afasta de um grupo reunido junto à lareira e, num passo balançado e um tanto hesitante, atravessa o salão até onde estamos. "Pois não, Richard?" "Sabe o que o nosso amigo Ken acaba de dizer sobre você?" "Não, querido." "Disse que acha que não conseguiria ficar de pau duro com você na cama." Elizabeth virou os olhos furiosos para mim. "Isso", disse ela em voz alta, "é a coisa mais ofensiva que já me disseram na vida. Fora da minha casa!"

E lá estava eu, sendo posto para fora de uma casa por me recusar a passar uma cantada na anfitriã. Retiro-me para evitar uma briga alcoólica em que copos podiam ser atirados. No dia seguinte, o telefone do meu quarto de hotel toca. É Elizabeth, a voz adoçada pelo arrependimento da ressaca: "Eu sinto muitíssimo. Não sei o que me fez agir assim" (uma caixa de vodca?). "Por favor, perdoe a nós dois." Flores são entregues no meu quarto. Mas a cena fica grudada na memória, e não inspira muito afeto.




Extraído da Revista Piauí

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