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quarta-feira, 20 de julho de 2011

Quando a poesia, a filosofia, a pintura encontram corações e mentes estéreis



Life returns
BB, de 43 anos, matou um traficante de drogas em Canoa Quebrada. Passou pouco tempo preso, hoje está em liberdade. Assim como o filósofo francês Louis Althusser, que estrangulou sua mulher Hélène Rytman, sendo esse muito mais lembrado pelo surto psicótico do que pelo seu pensamento, BB é praticamente desconhecido "do grande público", pelos seus quadros, talhas e esculturas com o ferro. 
Caminhando pela Praça do BNB, ele me lembra que não fazia muito tempo que a segurança do Centro Cultural o expulsou do lobby. Não havia ressentimento. Mudando rapidamente de conversa, contou que se transformou "num cafetão de responsa", isso aos gritos e provocando risadas em mulheres que passavam pelo local. Estava empolgado e feliz com sua nova namorada, G, de 21 anos, prostituta.
- Ela chegou em casa com R$ 200. Disse que R$ 100 eram meus. Aí eu falei, gata, e o dinheiro que a gente ficou de juntar para o bar? Ela disse que estava pensando em guardar também uma grana para comprar sua casa.
Houve uma discussão.Não consigo imaginar quanta violência foi desprendida, e a moça saltou a janela do apartamento, que fica no terceiro andar. Quebrou o pé, e ele como para-médico autodidata, se deu ao trabalho de fazer o suporte de gesso. Ele me mostrou a fotografia da jovem feita pelo aparelho celular. Ela é  linda, filha de um paraguaio com uma sacoleira cearense. 
BB revê um padre andando pela praça, que o faz lembrar de uma briga, porque esse lhe negou um cigarro charm. Presume estar á caça de um michê. Depois conta que foi expulso de uma reunião de ex-alunos do Colégio Militar e aí parece ser interminável a lista de seus desafetos.
BB me fez lembrar hoje a dificuldade de entender a juventude  no começo do Século XX nos Estados Unidos.  "Jovens que nascem nessa terra dura e tornam-se tão duros quanto ela, insistindo com uma persistência implacável na área de jornalismo, na poesia, no teatro- no entanto, como que fadados à esterilidade para sempre". Assim descreve Edmond Wilson, ao falar do Oeste norte-americano em suas memórias dos Anos 20. Lembrei dessa passagem, porque ás vezes me entristece a palavra esterilidade, quando ela se relaciona à filosofia, à poesia, os bons modos e à gentileza.
Duramente, não há como fazer com que essas coisas do espírito consigam penetrar mentes e corações, assim como a chuva escorre pela pedra. Assim como os gritos de BB são audíveis apenas por alguns metros quadrados. Podemos até compreender o fato de que por ser uma terra de tão poucas oportunidades, temos que tomar atitudes mais pragmáticas, menos românticas e até mais severas, beirando uma violência que atinge o outro e a nós mesmo.
Será que a aridez de nossa região nos deixa ainda mais impermeáveis ao espírito? Vejo nossos pintores, escritores, meus colegas jornalistas, não é menos árdua a luta pela sobrevivência e a vontade de impor novos rumos intelectuais. Muitos sofrem. Outros desistem e alguns, como BB, gritam.

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