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sábado, 23 de julho de 2011

Poesia delirante, antropofágica e escatológica de Mário Gomes

Não é raro ver o poeta Mário Gomes, 64 anos, perambulando pelas ruas do Centro ou mesmo sentado, falando sozinho, no banco instalado logo na entrada do Diário do Nordeste. Sempre vestindo um paletó e com camisas coloridas, que guarda pela marquises de prédios no entorno da Praça do Ferreira, ele me contou que seu trajar era "uma forma de tirar onda". Morador de rua, bêbado (disse que começou a beber ainda adolescente e não parou mais), foi internado no Hospital de Parangaba aos 20 anos, onde levou mais de uma dezena de choques elétricos, chega a aparecer que seu estado normal é a da percepção de uma epifania. Nos últimos tempos tenho visto muito irritado. Há alguns anos, contei que uma amiga nossa em comum informou que a mãe  dele tinha falecido. Dei meus pêsames. Era mentira. Ele reagiu com violência. "Minha mãe tem mais de 80 anos e mora no Mondumbi", disse. Depois, resignado, acrescentou: "Mulher rejeitada é assim mesmo". E me perguntou pelo poeta Antonio Raposo. Ia dizer que tinha morrido, mas me contive (nunca mais vi, respondi) porque mesmo tendo certeza poderia estar mexendo com outro tipo de sensibilidade. "Comi lagartas e defequei borboletas", afirmam alguns de seus versos da poesia escatológica e antropofágica. Aqui aparece (á esquerda) com o fotógrafo Antonio Duarte. Abaixo  uma de suas consagradas poesias.

AÇÃO GIGANTESCA
Beijei a boca da noite
E engoli milhões de estrelas.
Fiquei iluminado.
Bebi toda a água do oceano.
Devorei as florestas.
A Humanidade ajoelhou-se aos meus pés,
Pensando que era a hora do Juízo Final.
Apertei, com as mãos, a terra,
Derretendo-a.
As aves em sua totalidade,
Voaram para o Além.
Os animais caíram do abismo espacial.
Dei uma gargalhada cínica
E fui descansar na primeira nuvem
Que passava naquele dia
Em que o sol me olhava assustadoramente.
Fui dormir o sono da eternidade.
E me acordei mil anos depois,
Por detrás do Universo.

Um comentário:

  1. Bem melhor, mil vezes melhor, do que a escatologia do Carlos Drummond de Andrade, na minha opinião um poeta medíocre.

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