É do mundo exterior que o conhecimento precisa vir a nós, pela leitura, audição e contemplação. Wendy Beckett
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terça-feira, 19 de julho de 2011
Arte pulsa visionária e veemente das mãos de Arthur Bispo do Rosário
O fotógrafo Antonio Duarte havia me advertido. Não é o tempo que destrói nossa memória. Essa se dissipa pelo excesso de informações. Com essa desculpa (esfarrapada?) não posso atribuir a autoria da frase de que há loucos geniais, mas seria louco acreditar que tudo um louco produz é genial. Van Gogh era um louco genial. Arthur Bispo do Rosário (1909-1989) também. Ele viveu durante 50 anos no hospital psiquiátrico Colônia Juliano Moreira, no Rio de Janeiro.
Entre 1939 e 1989, esteve internado com diagnóstico de esquizofrenia e paranoia. Começou a produzir durante os ateliês de arte destinados à terapia dos internos. Arthur Bispo não gostava de fazer as refeições junto com os outros pacientes e não ia ao refeitório. Pegava a bandeja, ou alguém a levava para ele, e ia para bem longe.
Sempre ficava atento a colheres, utensílios perdidos por outros pacientes e daí surgiam de suas mãos obras que se aproximavam da pop art, que, a partir de 1959, ganhava força com o movimento contrário a arte não figurativa. Nos Estados Unidos, artistas surgiam com representações trazendo estrelas de cinema, garrafas de refrigerantes, dentre outros, numa forma em que dava a aparência de vulgarização do surrealismo. Arthur Bispo, com esculturas e instalações realizadas a partir de sucatas e lixo, foi redescoberto pelo crítico Frederico Morais na década de 80, e, então, se passou a fazer comparações com os trabalhos do artista Marcel Duchamp (Fonte, 1917).
Arthur Bispo viveu no contexto da tentativa de humanização dos hospícios. O aproveitamento da sublimação e das percepções desordenadas foram muito bem trabalhadas pela psicanalista jungiana Nise da Silveira, que tanto valorizou a arte como teve a sensibilidade de introduzir animais domésticos (cachorros e gatos) na convivência com os pacientes. Contemporânea das terapias do eletrochoque e da lobotomia, implantou nos manicômios formas de tratamento que não apenas ofereciam outro meios de ocupação para os doentes, como propiciavam a vasão de gênios, os quais iriam constituir o Museu do Inconsciente.
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