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quarta-feira, 27 de julho de 2011

Darcy Ribeiro diz que a educação medíocre foi um sucesso brasileiro

Darcy Ribeiro (1922-1977) foi antropólogo, especializado em etnias indígenas e uma voz culta do movimento de esquerda, quando a transição do regime militar para a democracia ainda se encontrava muito frágil. Por formar uma população xucra, ignorante, não há escolhas mais inteligentes para seus dirigentes. Essa era sua opinião. Tornou-se um dos responsáveis pela criação da Universidade de Brasília (UnB) e  criou, planejou e dirigiu a implantação dos Centros Integrados de Ensino Público (CIEP), um projeto pedagógico visionário e revolucionário no Brasil de assistência em tempo integral a crianças, incluindo atividades recreativas e culturais para além do ensino formal - dando concretude aos projetos idealizados décadas antes por Anísio Teixeira.  Dizia que Brizola tinha um "ideia fixa" pela educação e estava disposto a implantar um sistema de educação somente comparável ao high school, nos Estados Unidos, concebido por John Dewer. Eis um trecho de uma palestra na SPBC:

Sobre o Óbvio
(No livro "A paixão pela Razão - Descartes", Mário Sérgio Cortella,
Ed. FTD),


Recentemente descobrimos, outra vez assustado - desta vez, graças à perquirições de José Honório -, que o Brasil não é tão cordial como quereria o nosso querido Sérgio. Durante o período das revoltas  sociais anteriores e seguintes à Independência, morreram no Brasil mais de cinqüenta mil pessoas, inclusive uns sete padres enforcados. O certo é que nossos cinqüenta mil mortos são muito mais mortos do que todos que morreram nas lutas de independência da América Espanhola,tidas como das mais cruentas da história. Os nosso, porém, foram surrupiados da história oficial das lutas sociais por serem vítimas de meros motins, revoltas e levantes e, como tal, não erecem entrarna crônica historiográfica séria da sabedoria classista. (...)
A eficácia total, entretanto, eficácia diante da qual devemos nos declinar - aquela que é realmente o grande feito que nós, brasileiros, podemos ostentar diante do mundo como único - é a façanha educacional da nossa classe dominante. Esta é realmente extraordinária! E por isto é que eu não concordo com aqueles que, olhando a educação de outra perspectiva, falam de fracasso brasileiro no esforço por universalizar o ensino. Eu acho que não houve fracasso algum nesta matéria, mesmo porque o principal requisito de sobrevivência e de hegemonia da classe dominante que temos era precisamente manter o povo xucro. Um povo xucro, neste mundo que generaliza tonta e alegremente a educação, é, sem dúvida, fenomenal. Mantido ignorante, ele não estará capacitado a eleger seusdirigentes com riscos inadissíveis de populismo demagógico. Perpetua-se, em conseqüência, a sábia tutela que a elite educada, ilustrada, elegante, bonita, exerce paternalmente sobre as massas ignaras. Tutela cada vez mais necessária porque, com o progresso das comunicações, aumentam dia a dia os riscos de nosso povo ser ver atraído ao engodo comunista ou fascista, ou trabalhista, ou sindical, ou outro. Assim se vê o equívoco em que recai quem trata como fracasso do Brasil em educar seu povo o que de fato foi uma façanha.Pedro II, por exemplo, nosso preclaro imperador, nunca se equivocou a respeito. Nos dias em que a Argentina, o Chile e o Uruguai generalizavam a educação primária dentro do espírito de formarcidadãos para edificar a nação, naquelas eras, nosso sábio Pedro criava duas únicas instituições educacionais: o Instituo de Surdos e Mudos e o Instituto Imperial dos Cegos. (...)
(Trechos da palestra no Simpósio sobre Ensino Público, na 29º Reunião da SBPC, realizada em São Paulo, em julho de 1977)

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